El Trapezio

«Só é vencido quem desiste de lutar», cem anos de Mário Soares, um dos pais da democracia

No dia antes em que faria cem anos, a figura de Mário Soares foi evocada na Assembleia da República. Relembrou-se um solar e prático político que levou Portugal (ao lado da Espanha) num caminho democrático e europeu. E o que o país mudou desde 1985! Mário Soares dizia que o seu nome seria um pequeno parágrafo nos livros d e história mas a verdade é que gostando ou não, esta é uma figura que todos conhecemos nem que seja pela sua fotografia em cima de uma tartaruga gigante em Cabo verde (ou era São Tomé e Príncipe?).

Soares continua a ser um nome atual é visto, como o slogan o dizia, era «fixe». Era um homem livre que nunca desistiu de lutar por aquilo que acreditava, que neste caso era a democracia e por causa dela foi obrigado a sair do país. Voltou apenas três dias depois do 25 de Abril de 1974 e foi recebido pela população ovacionado. Ele e Álvaro Cunhal (PCP) protagonizaram aquele que continua a ser o principal debate televisionado da história de Portugal. Algo ao estilo Nixon versus Kennedy.

Viveu uma vida singular ao lado da sua mulher, Maria Barroso, uma antiga atriz que o ajudou a fundar o PS, na Alemanha, há mais de cinquenta anos. Numa sessão, ao estilo da do 25 de Abril, que contou com os filhos de Soares (incluindo o antigo presidente da autarquia de Lisboa, João Soares) ou o primeiro presidente da história da democracia de Portugal, Ramalho Eanes.

Mesmo os que têm ideias políticas diferentes, concordam que Mário Soares era um patriota que agarrou o país numa altura que tínhamos acabado de alcançar a democracia mas esta ainda não tinha sido consolidada. Era um antecipador de futuros que também tinha uma vertente ambientalista, algo que foi lembrado pelo PAN.

O presidente da AR, Aguiar-Branco (apontado como possível presidenciavel), anunciou a criação do prêmio Mário Soares para distinguir o pensamento livre e a colocação numa das principais salas desta instituição um busto do antigo ministro dos negócios estrangeiros, PM e PR de Portugal. A atitude política de Soares residia em três vetores: democracia, liberdade e Europa. No discurso que fez, Marcelo Rebelo de Sousa, que trabalhou com Soares quando era jornalista do jornal Expresso, considerou que sem ele a liberdade e a democracia tinham esperado muito mais. «Sempre livre, sempre igualitário, sempre anti-«, lembrou Marcelo sobre a controversa figura que dava do seu próprio bolso o cabaz de Natal aos trabalhadores do Palácio de Belém. Pedro Nuno defende que Soares “esteve sempre do lado certo das lutas” e recusa contradições. As principais são a descolonização, ter ficado ao lado de Sócrates quando foi preso ou a teoria da conspiração que o coloca como o responsável pelo atentado que levou à morte de Sá Carneiro. Mesmo não tendo falado na AR, num artigo assinado num meio de comunicação social, o PM Luís Montenegro (que é social-democrata) expressou o seu respeito pelo legado político, gratidão pelo contributo para a democracia e admiração pela coragem política demonstrada por Mário Soares ao longo da sua longa vida.

A Comissão Comemorativa dos 50 anos do 25 de Abril também associou-se às celebrações do centenário de uma das figuras centrais da história contemporânea do país e que foi protagonista na construção da democracia. Para a presidente desta comissão, Maria Inácia Rezola, «o legado de Mário Soares, de coragem e compromisso com a liberdade e a democracia, permanece atual e inspirador».

A celebração do centenário de Mário Soares vai durar um ano com várias atividades um pouco por todo o país. No Porto, Serralves inaugurou, com a presença do presidente Marcelo Rebelo de Sousa, a exposição ‘sal que dava sabor à Democracia’, de Mário Soares. Que agora também tem um jardim com o seu nome na cidade Invicta.

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