Quebrando tabus, procurando igualdade

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Espanha derrubou mais um tabu e aprovou uma licença menstrual que vai permitir que as mulheres possam tirar três dias de baixa caso tenham dores muito fortes. Basta o médico validar este problema que é muito comum. Esta medida está a ser vista como uma moeda de duas caras. Um lado bom e outro mau que está a fazer correr muita tinta e que nos faz pensar. Aqueles que estão a aplaudir o trabalho feito pelo governo de Pedro Sanchez dizem que as mulheres vão sair beneficiadas. Que Espanha está na fila da frente na defesa das mulheres. Com isto não quer dizer que vamos dizer «adeus» às dores (seria tão bom!) mas já não vamos precisar de arriscar a nossa saúde para ir trabalhar num dia em que mal podemos dar dois passos.

Já outros, todos os machistas e pessoas que apelidam tudo como esquerdismo, reforçam que esta nova lei não vai beneficiar as mulheres mas sim rebaixa-las. Vai fazer com que sejam apontadas pelos membros do Vox ou Chega que se dizem rebaixados pelas feminazis. Em tom de brincadeira, o programa catalão Polónia (ou é Cracóvia? Passa na TV3) apresentou um gag onde Abascal apresentava a lei da defesa dos «huevones».

Nos últimos 100 anos as mulheres têm lutado pelos seus direitos e para serem vistas como semelhantes aos homens. Pena que ainda não vejamos esta igualdade no pagamento de salários. Muito foi feito e atualmente somos as que mais se sentam nas cadeiras das universidades e ocupamos lugares políticos de relevo (como é o caso de Isabel Diaz-Ayuso em Madrid).

O caminho a percorrer ainda é muito longo e continua cheio de obstáculos. Sair a rua é um desafio. Ouvimos bocas ou somos olhadas de lado e tratadas como simples objetos. Somos apelidadas do «sexo fraco» e mais um conjunto de preconceitos perpetuados ao longo dos anos pelos decisores do poder. Aqueles que estão lá em cima, no topo da pirâmide, continuam a manipular a vida dos demais como se fôssemos simples marionetes mas agora temos uma maior consciência.

Estamos fartos de não ser os protagonistas desta história que é de todos nós. Esses, reis e presidentes, já compreenderam que não existe futuro sem as mulheres mas nós só queremos igualdade, tanto para o bem como para o mal. Governos equitativos (algo que temos tanto em Portugal como em Espanha) onde ambas as vozes sejam ouvidas. Não queremos ser obrigadas a usar burkas para aparecer na TV (como no Afeganistão) mas talvez esta licença menstrual não seja a melhor opção para nos proteger.

Pode ser a opção do momento mas não é desta forma que vamos lutar por uma maior igualdade. Devemos igualar todos pela mesma medida e não rebaixar. Desta forma, para os detractores, os empregadores vão olhar para as mulheres como trabalhadoras de segunda e pouco fiáveis. Que com esta baixa vão ser menos produtivas e como tal fazer as empresas perderem dinheiro.

Este pensamento pode ser mudado em poucos minutos caso as mulheres em baixa possam continuar o seu trabalho (dependendo do que fazem) em casa. O teletrabalho é cada vez mais comum e várias listas indicam que Portugal e Espanha são alguns dos países do mundo para o realizar. Voltando a baixa, ainda existem muitos empregadores que não gostam de mulheres grávidas. A lei pode nos proteger mas o que é preciso mudar são as mentalidades. Isto serve para Portugal, Espanha e todos os países do mundo.

Continuando com o foco no outro lado da fronteira e se dá para pedir alguma coisa era para mudarem o nome da lei que ai é conhecida como violência machista. Faz-me muita confusão. Não são só as mulheres que são vítimas e nem todos os homens são os perpetuadores. Esta não é uma guerra entre homens e mulheres. A violência é de género e deve ser punida em todas as suas formas. No México, Debanhi Escobar morreu após ter saído para ir a um festa e até ao momento ninguém resolveu este caso mas esta é (infelizmente) uma pequena página de um enorme livro. Quantas mulheres terão que morrer até mudarmos por completo as mentalidades?

Mesmo assim, é sempre bom derrubar tabus. O meu aplauso a Espanha. É sempre ouvir boas notícias quando nos Estados Unidos estamos a recuar num dos direitos mais primordiais de uma mulher. Será que deveremos fazer o mesmo aqui em Portugal e aprovar uma licença para todas aquelas que sofram com dores menstruais? Em vários momentos da nossa história o que mudou a Europa só chegou a este lado da península Ibérica muitos anos ou décadas depois.

Parece que vamos sempre atrás da ideia de alguém e a minha opinião é que deveríamos também adoptar uma licença menstrual mas não para já. Temos muitos problemas para resolver antes. Dois deles são a necessidade de criminalizar as práticas de conversão da orientação sexual e baixar o IVA dos produtos de higiene íntima. Não é compreensível que em pleno 2022 existam mulheres que têm que usar toalhas pois não têm dinheiro para mais. Quando os nossos problemas forem resolvidos poderemos avançar para uma licença menstrual. Vamos aguardar e esperar que mais um tabu seja quebrado na busca da igualdade.

Andreia Rodrigues

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