Uma linha imaginária divide uma das mais belas populações ibéricas. Em plena zona de fronteira zamorano- lusitana temos duas nacionalidades, a espanhola e a portuguesa, que se encontram num enclave único em Espanha.
Rihonor para os espanhóis, Rio do Onor para os portugueses. Dois nomes, um mesmo lugar com uma arquitectura única e um rio que tanto os une como os separa. As jotas zamoranas e os fados portugueses são cantados a uma mesma voz. Das suas águas cristalinas elevam-se notas que se fundem com a ardósia dos telhados, negra como a morte, ou com o verde das suas vielas e com um mesmo sentimento dos seus habitantes, que ostentam a sua pertença à velha Ibéria.
A região da Pedralba de la Pradería pertence ao extremo sul da Sierra de la Culebra, local onde se avista o lobo ibérico, espécie única onde quer que esteja, com a sua postura majestosa a ser imagem de marca de várias lendas e histórias. A paisagem montanhosa e ondulante de Culebra deve o seu nome às curvas de uma cobra e esta é a melhor forma de descrever a sua caminhada. O seu bosque exuberante é repleto de pinheiros resinosos, castanheiros, carvalhos, azinheiros, sobreiros, medronheiros, salgueiros, freixos e choupos. O Retamero, tomillar, jareño e a charneca dão vida ao leito que alimenta e desce ao povoado que vê as suas ruas serem divididas pelo rio Fontano, que também é conhecido por Comtensa ou Onor, na sua vertente portuguesa. Equidistante, só está separada por 22 quilómetros de Bragança, município ao qual pertence, e 16 de Puebla de Sanabria.
Conserva uma peculiaridade única na península Ibérica, formando uma unidade única dentro dos países irmãos. A sua divisão em duas povoações não é um dado que os seus habitantes levem “a peito”, apenas se referindo a eles como “povoação de cima” ou “povoação de abaixo”. A nomenclatura muda caso estejamos a falar de espanhóis ou portugueses.
Outro dado único é que têm um dialecto próprio, o rihonorés. Este advém do leonés e recordam os mais velhos da povoação.
Os habitantes usam de maneira indistinta os idiomas de ambos os países. Isto é patente nos dois bares que abastecem a povoação de ócio e cultura, para além de saciar os seus apetites quando chega a hora dos aperitivos. Ambos os bares encontram-se na zona portuguesa, onde sem dúvida se pode degustar o melhor queijo e o mais saboroso chouriço. Todos estes produtos provêm do melhor gado local e com um preço mais do que acessível
O caminho para lá chegar é percorrido numa encantadora estrada de montanha, sinuosa e arborizada, o que torna a sua envolvente num verdadeiro alimento para os sentidos dos amantes da natureza.
No outono é possível ver as brumas descendo das montanhas em direcção à floresta, cobrindo-a com um orvalho que transporta o visitante a tempos remotos onde a paz e o lento passar do tempo curam a alma veloz típica do nosso século. As cores com que a natureza se veste acalmam o espírito e a mente. Os seus vermelhos raivosos e amarelos dourados, que brilham entre as brumas espessas, convidam ao silêncio.
A sua arquitectura é dotada de casas de pedra com dois andares e as ruas de paralelepípedos são um refúgio que só é pontuado pelas águas do rio que cantam isoladamente em direcção ao seu destino final.
O verde intenso das suas pradarias é alterado por uma minúscula represa que canaliza as águas, transformando-as num pequeno riacho de líquido branco, bem diferente da torrente escura típica dos rios de montanha. Uma casa de pedra, com telhado negro, contempla melancolicamente o curso do rio que passa, beijando-lhe os pés em sinal de cortesia.
O musgo sempre húmido cresce em cada pedra da calçada, formando ruas de singular beleza e de onde se podem descobrir as varandas que fazem parte da arquitectura Tramontana. As portas verdes e com grades de madeira observam o passar do tempo, em paz e silêncio, apenas salpicado pelas duas línguas ibéricas, o português e o espanhol.
Beatriz Recio Pérez