El Trapezio

Ter uma patologia rara e ser professora na Ibéria

Da pequena Ilha dos Pássaros nos Açores, EL TRAPEZIO traz esse testemunho, da professora Catarina Costa, uma jovem portuguesa que luta, como muitas outras, para conquistar um futuro profissional. Esse futuro o procura em nossa Península, ela já trabalhou na Espanha e em Portugal. O que é difícil para todos se torna ainda mais complicado no caso de Catarina que sofre de uma doença rara grave. Mas Catarina continua lutando contra as muitas dificuldades burocráticas e as deficiências do sistema de saúde.              

Ter uma patologia rara e ser professora na Iberia

Sou professora, acho que é a melhor maneira de começar a apresentar-me. Sou formada em português e espanhol, neste momento estou com o meu primeiro contrato numa das ilhas dos Açores.

Além de ser professora tenho uma patologia rara que pede a proximidade de um hospital. A minha patologia é a leucinose neonatal ou MSUD, caracteriza-se pela não metabolização de três dos constituintes das proteínas (Leucina, Valina e Isoleucina), devido a não existir uma enzima no organismo.

É necessário estar perto de um hospital especializado que me possa atender em momentos de crise da doença, nem todos os locais de Portugal estão preparados para esta patologia e o seu tratamento é necessário para toda a vida. As crises da doença caracterizam-se pela acumulação dos aminoácidos acima referidos no organismo, que por não serem eliminados se tornam tóxicos e causam a morte de células cerebrais por catabolismo do organismo, podendo levar ao coma ou à morte.

No ano passado estive em Espanha a viver e trabalhar como auxiliar de conversação de português, foi uma experiência incrível na cidade de Badajoz. Dou graças à ligação da Ibéria e a Europa, porque tive acesso a todos os cuidados de saúde como se fosse espanhola.

Em Portugal, ser professor é difícil, pois o sistema é bastante diferente do que conhecemos em Espanha como “oposiciones”. Os concursos começam por volta de maio, a DGAE (Direção geral da administração escolar) é que gere e anuncia os concursos dos professores. Temos três concursos de professores independentes: um para o arquipélago dos Açores, outro para o arquipélago da Madeira e outro para o continente.

En julho ou junho, depende do calendário desse ano, os professores são ordenados segundo a sua nota de universidade e o tempo de serviço. Confesso que não concordo que não tenha em conta outros dados e capacidades como acontece nas “oposiciones” em Espanha.

Existe a possibilidade de um docente ficar colocado nos três concursos em alturas diferentes do ano, foi o meu caso fiquei colocada nos Açores a 28 de agosto, na pequena ilha das flores, com apenas uma população de 4000 pessoas, e sem médicos conhecedores da minha doença.

Acho injusto este concurso, pois não dá a oportunidade dos professores recém-formados de trabalharem e de estarem todo o ano à espera de ser colocados, ou fazem como eu que aceitaram um lugar e depois não têm condições para ficarem lá.

Ser professor é uma profissão nobre, somos a base de qualquer profissão, no entanto, o governo português não vê isso e nas suas medidas de governos lançadas em outubro a carreira docente só tem uma medida referente aos concursos.

Gostaria de trabalhar em Espanha, penso que seja um concurso mais justo que têm em conta a formação do professor para além da universidade e da sua experiência no ensino. No entanto, a burocracia é o grande entrave para quem é estrangeiro e pretende exercer em Espanha, desde janeiro estou à espera da decisão de Madrid quanto ao pedido de homologação do meu título.

Uma das medidas da Ibéria deveria facilitar a circulação e permitir que os dois países aceitem professores fluentes nas duas línguas. Assim, os alunos aprendiam melhor ambos os idiomas e não haveria tanta burocracia para os professores nem para as outras profissões.

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