-Quando nasce a Rádio Fronteira e qual seria sua singularidade?
A Rádio Fronteira está no ar há 18 anos e emite nos 106.9 FM, a partir de Vilar Formoso, no concelho de Almeida, no distrito da Guarda, com uma cobertura que abrange os concelhos vizinhos do Sabugal, Figueira de Castelo Rodrigo, Pinhel e Guarda, entrando também em Espanha, na comarca de Ciudad Rodrigo.
A Rádio Fronteira nasceu no dia 2 de Março de 2002, com o objetivo de promover e aproximar os povos da Raia. A nível musical, a Rádio Fronteira privilegia a música portuguesa e a música espanhola. A sua singularidade é absorver as duas culturas, a portuguesa e a espanhola e os dois idiomas.
-Como é o espaço informativo semanal “Espaço Intercâmbio” em colaboração com a rádio espanhola de Ciudad Rodrigo, Onda Cero?
O “Espaço Intercâmbio”, que se encontra suspenso, mas que deverá ser retomado em breve, é um espaço informativo semanal, de cerca de 10 minutos, em colaboração com a Rádio de Ciudad Rodrigo, Onda Cero, de divulgação da atualidade de ambos lados da fronteira.
A Onda Cero, envia para a Rádio Fronteira, em espanhol as notícias, fazendo um “recorrido” da atualidade da semana na comarca de Ciudad Rodrigo e a Rádio Fronteira de Vilar Formoso, faz para a Onda Cero, um balanço da atualidade da semana nos concelhos raianos, em língua espanhola, já que os espanhóis têm mais dificuldade em perceber a língua portuguesa. A 20 km da fronteira, como é o caso de Ciudad Rodrigo, por exemplo, não é tão evidente entender o português. Mais nos afastamos da fronteira, do lado espanhol e também do lado português e mais difícil é para as pessoas, entenderem as duas línguas.
A identidade da região do lado de Portugal, está muito influenciada pela cultura espanhola que entra em território português: a televisão tem por exemplo um peso considerável, mas também a vida social festiva, as verbenas populares e a tradição taurina, que é replicada de uma certa maneira, do lado português com especial incidência, nos concelhos de Almeida e Sabugal. A influência cultural é tão importante que infuencia também os modos de vida e de pensamento, com espiríto mais aberto, mais recetivo e pronto a absorver o que vem de Espanha. No entanto, o contrário não é tão evidente, já que o espanhol, não absorve tanto a cultura portuguesa.
Os intercambios transfronteiriços existem desde sempre e têm vindo a crescer, seja a nível económico, social e cultural. Por exemplo em Fuentes de Oñoro vivem e trabalham muitos portugueses. Há também muitos casamentos em comum.
-Como podemos ouvir a rádio pela internet ou pelo menos “Espaço de Intercâmbio”?
A Rádio Fronteira, disponibiliza regularmente notícias, reportagens, entrevistas e programas em formato Podcast, para ouvir a qualquer hora. Nesta altura não é possível, por motivos técnicos, ouvir a emissão da Rádio Fronteira, pela Internet.
-Como vem afetando a crise económica por culpa do encerramento de fronteiras?
Como ambos lados da fronteira são dependentes uns de outros, no caso de Vilar Formoso e Fuentes de Oñoro, as dependências são recíprocas, formam na verdade um só território, já “sem fronteira”.
Com as fronteiras encerradas, em Vilar Formoso, a vida está complicada para o comércio e a restauração, por exemplo, os restaurantes e lojas, não têm a sua clientela habitual espanhola e em Fuentes de Oñoro, os supermercados, os talhos e bombas de gasolina desesperam pelos seus principais clientes, os portugueses.
Portugueses e Espanhóis pedem nesta altura entre as duas localidades que seja dada a possibilidade de passagem, porque esta situação da fronteira controlada e encerrada há 2 meses e vai para o terceiro mês, até dia 15 de Junho, vem prejudicar gravemente a economia local.
No principal ponto de fronteira, apenas é autorizada a passagem aos trabalhadores transfronteiriços, já no outro ponto de fronteira, na fronteira velha, trata-se de um ponto não autorizado de passagem, onde foram colocadas barreiras fisicas para impedir a circulação automóvel, mas as pessoas continuam a passar a pé todos os dias para irem fazer as suas compras aos dois supermercados ali próximos, o Supermercado Emilio e o Supermercado Raimundo.
Após 2 meses sem relacionamento, uma grande maioria de pessoas tanto do lado português como do lado espanhol, gostava de poder passar livremente a fronteira, seja por questões económicas, de lazer ou até familiar. Apesar de alguns receios de contagios de Covid-19, de ambos lados, pede-se a reabertura da fronteira, nesta altura.
-Acredita que pode existir um jornalismo ibérico, em ambas línguas, que puder ultrapassar as fronteiras das agendas mediáticas nacionais que prestam menos atenção a um relacionamento mais estratégico e perto entre Espanha e Portugal, e a Raia como exemplo de um iberismo pragmático e respeitoso? Após de duas décadas, que balanço faz da sua atividade de “furar” a fronteira mediática?
Sim acredito num jornalismo ibérico com os dois idiomas, porque ele é uma peça chave para os cidadãos conheceram melhor as identidades de cada país, até porque existe ainda um grande desconhecimento entre as pessoas, sobre os territórios, por exemplo a nível turístico. A Raia é um exemplo de bom relacionamento entre povos, de fusão e simbiose de culturas.
Através das ondas da Rádio Fronteira, é possível galgar esta “fronteira”, que já não existe nas nossas mentes. Somos uma fronteira “sem limite”, somos ouvidos tanto em Portugal como em Espanha e fazemos emissão para dois povos, duas culturas, que são na verdade, uma só identidade, a Raiana, longe dos centralismos de Lisboa e Madrid, de forma natural, livre e multifacetada. Sim porque o nosso lema é “A Fronteira Que Nos Une”!