A entrada do Instituto Cervantes de Lisboa tem patente a exposição fotográfica 90 Varas, da fotografa Susana Girón. A fotógrafa trabalha com vários meios de comunicação, como é o caso do New York Times ou o El País. Susana, que para além do território ibérico também expos na Argentina e no México, foi vencedora do Prémio Nacional de Fotografia Fundación Doñana. A paixão pela fotografia surgiu na sua vida desde pequena.
«Queria fazer um trabalho documental fotográfico sobre o que era a transumância, uma atividade com séculos de história e que está a ponto de desaparecer. Fotografei em vários pontos de Espanha mas queria incluir a história de alguém que fosse da minha terra. Toda a minha família é de uma pequena povoação de Granada. Foi assim que descobri a história do António e estive com a sua família seis anos», explica a fotógrafa sobre este trabalho.
Esta exposição da fotógrafa de Granada, que pode ser visitada até ao dia 10 de Dezembro, conta a história de uma família de pastores nómadas. O casal Maria e António percorrem um caminho criado em 1273 pelo rei Alfonso X que usou a medida de 90 varas de pastor para marcar a largura dos caminhos tradicionais de transporte de gado transumante. Espanha é o único país da Europa que conserva esta rede de trilhos históricos que conta com 125.000 kms. Esta exposição pretende demonstrar o que acontece nos 75 metros deste caminho.
Uma forma de pastorícia que está a cair em desuso
Esta forma de pastorícia, cada vez mais em desuso (os caminhos da transumância em Portugal são usadas, cada vez mais, com motivos turísticos), continua a existir em Granada. Em Espanha existem 150 famílias de pastores nómadas. «Esta é uma realidade que se deve proteger, dar-lhe valor», lembra. As imagens que vemos penduradas na parede, que vão desde retratos do casal de pastores (estes retratos são tirados sempre no último dia) que Susana acompanhou até ao dia-a-dia desta família e do seu gado durante o percurso a procura de melhores pastagens, foram conseguidas pois a fotógrafa acompanhou as migrações que fazem com o gado desde 2015 a 2018.
«Todas as fotografias tem um momento especial. Se tivesse que escolher um seriam os retratos pois os mesmos refletem os seus olhos. Todos nos somos capazes de ficar tocados com as suas histórias mesmo não sendo pastores», conta Susana Girón sobre o que estas fotografias contam ao espectador. São fotos que transmitem uma grande profundidade, honestidade e nobreza. Nos olhos desta família vemos as suas almas.
Estas migrações costumam acontecer duas vezes por ano, no verão e no inverno. Esta família de 4 elementos abandona o conforto do seu lar, no alto da montanha, para levarem as suas 600 ovelhas para um local com pastagens melhores. Sobre o futuro, Susana Girón pretende olhar para a sua terra, o altiplano de Granada. «É desta zona que são oriundos os primeiros povoadores da Europa. Os restos pré-históricos mais antigos do continente estão na Comarca de Huescar. Interessa-me retratar as pessoas que são, de alguma forma, descendentes daqueles primeiros povoadores da Europa», conta Susana sobre o próximo trabalho que pretende realizar.
Para a fotógrafa, um dos locais mais icónicos de Portugal para se fotografar é o Cabo de São Vicente, local por onde navegadores como Colombo ou Magalhães passaram para chegar ao novo mundo. «Transporta-me para os sonhos de aventura que tenho desde criança». Já sobre o futuro, Susana Girón pretende «continuar a contar histórias que ponham em destaque as realidades que mereçam ser contadas».
Esta exposição em Lisboa é uma parceria entre o Instituto e o festival IMAGO.