Mesmo sendo um país pequeno, Portugal tem várias formas de falar e até eu, que vivo na Área Metropolitana de Lisboa, tenho um «dialeto» que é conhecido pelos habitantes de Sesimbra como «pexito». Não me peçam para falar mas temos vocábulos próprios (talvez um dia fale sobre eles). «Atão sóce!» é um cumprimento de rotina usado aqui em Sesimbra e é algo como «então, comapanheiro?».
Quando vou a Lisboa, local onde estudei e passei parte da minha vida, deixo os «alfacinhas» meio confundidos quando falo do autocarro enquanto estou na paragem da carreira. A verdade é que Lisboa também tem expressões típicas e muitas delas estão ligadas a períodos da nossa história e da nossa forma de ser. Conheça neste artigo alguns significados das expressões que usamos diariamente.
Descer à Baixa – Ir até ao centro histórico da cidade para passear junto ao rio, fazer compras na rua Augusta ou tomar um café na «Brasileira» do Chiado.
Picar o bilhete – A tradicional figura do «pica» nos transportes já saiu um pouco de desuso mas esta expressão é usada para definir o ato de “cumprir uma tarefa” de rotina. Seja passar o cartão de viagem na máquina para validar a sua viagem num meio de transporte (seja metro ou uma carreira) ou chegar a horas ao trabalho.
Ter saudades da Feira Popular – Quem conheceu este espaço de diversões, que ficava na zona de Benfica e onde a RTP começou as suas transmissões, continua a ter saudades. A feira nunca mais voltou e nos seus terrenos irá nascer a nova sede do Banco de Portugal.
Chamar de calhandreira – Quando chamamos alguém de calhandro ou calhandra é porque aquela pessoa gosta de falar da vida do outro. Quem não tem uma vizinha calhandreira que passa a vida na janela a ver a vida dos outros? Sabiam que esta expressão data do século XVII e está relacionada com uma espécie de penico que era chamado de «calhandro». Este era despejado e lavado no Tejo pelas empregadas das famílias ricas. Estas aproveitavam aqueles momentos para falarem entre si sobre a vida dos senhores nobres da cidade.
Chamar ou andar de cacilheiro – Apanhar o barco que liga as duas margens do Tejo. O principal liga o Cais do Sodré (Lisboa) a Cacilhas (Almada). Daí vem o nome do barco mas a verdade é que o cacilheiro também vai até ao Barreiro, Seixal ou até a Trafaria (o barco para ai parte de Belém). Três localidades na Margem Sul do Tejo.
À grande e à francesa e Farrobodó – Estas duas expressões nasceram no Palácio Chiado, que hoje é um restaurante, e estão relacionadas com algo que é faustoso. Sejam festas ou banquetes. Quem não gosta de um bom farrobodó (dizemos forrobodó mas escrevemos de outra forma)?
Rés-vés Campo d’ Ourique – Quando algo foi a justa. Esta expressão também tem um fundo histórico já que o maremoto que aconteceu depois do terramoto de 1755 atingiu toda a cidade. Parou apenas na zona de Campo d’ Ourique.
Caiu o Carmo e a Trindade – No terramoto de 1755 caíram estes dois edifícios. Hoje apenas temos as ruínas do convento do Carmo. Esta expressão está ligada a acontecimentos dramáticos e que deixa todos assombrados.
Ficar a ver navios – Deixar a oportunidade que estava a sua frente passar. Há quem acredite que esta expressão está ligada aos libeboetas que iam para o Alto de Santa Catarina ver se algum dos navios trazia o D. Sebastião (ele voltaria numa manhã de nevoeiro, como reza o mito). Os portugueses ficavam ali a olhar para o mar mas não faziam algo para ir contra a união das duas coroas. O que aconteceu depois do desaparecimento do jovem monarca.
Assim se fala em «Bom Português»!


