Mário Cesariny e Perfecto Cuadrado, uma amizade na Raia

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Mário Cesariny, o grande génio do surrealismo português, nasceu a 9 de agosto de 1923. Filho de Viriato Vasques de Vasconcelos, originário de Tondela e ourives de ofício e de Mercedes Cesariny Escalona de Vasconcelos, nascida em Hervás, Cáceres. A poesía e a pintura são percebidas por Cesariny como inseparáveis, indo de uma para a outra de uma maneira circular. Viveu também junto a Lopes Graça uma paixão de absoluta entrega à música.

Na França conheceu André Bretón e no ano de 1947 fundou o grupo surrealista de Lisboa, junto com António Pedro, José Augusto França, Cândido Costa Pinto, Vespeira, Monis Pereira, e Alexandre Oneill. Este primeiro surrealismo surgiu contra o regime político salazarista e contra o neorreralismo. Porém, nã foi a França o país que ele amou. Conheceu a cadeia francesa por motivos semelhantes aos que o levaram a conhecer a cadeia portuguesa e as muitas detenções da PIDE, isto é, o seu desrespeito à lei da ordem e dos bons costumes. O país que descreve com amor é a Inglaterra, nomeadamente os infindáveis tons de cor verde londrinos e a beleza do rio Tâmisa.

Colaborou com a poeta Natália Correia na edição da antología Poética Erótica e Satírica. Natália Correia realizou a seleção, o prefácio e as notas. Os desenhos são de Cruzeiro Seixas.  A antología inclui textos de António Ramos Rosa, António Maria Lisboa, António Botto, Alexandre O´Neill, Jorge de Sena, Eugénio de Andrade, entre outros muitos. Esta antologia   consegue-se arranjar ainda nalguma libraría alfarrabista portuguesa.

A publicação desta antologia na editora Afrodite por parte do editor Fernando Ribeiro de Mello orginou um processo judicial que também atingiu Cesariny. No ano de 2023 comemora-se o centenário do artista. Em Vila Nova de Famalicão, na fundação Cupertino Miranda, que dirige o profesor Perfecto Cuadrado, especialista no movimiento surrealista português, pode-se visitar uma excelente exposição do poeta, junto à obra do seu amigo Cruzeiro Seixas, a exposição é composta de fotografías, cartas, cartazes, poemas, desenhos e objetos do pequeno apartamento na rua Ribeiro Telles em lisboa onde viveu Cesariny.

O professor Perfecto Cuadrado, curador da exposição, nasceu em Santovenia del Esla (Zamora). As suas lebranças de Santovenia estão cheias de alegría e de cor, a cor de um paraíso perdido onde apesar da carência o primeiro adjetivo que lhe vem à memoria é riqueza. Riqueza em festas, em vizinhos, em jogos, em imaginação, por exemplo a improvisada creche da professora Josefa, as ricas latas de sardinhas que aqueciam as mãos na escola… e depois Salamanca para o Bacharelato com um ajuda para a igualdade de oportunidades.

E logo a seguir, talvez, o fatum objectivado, aquele destino que acontece porque ainda mantemos um olhar da infância, foi o que levou o Perfecto Cuadrado a conhecer, de maneira muito viva, a literatura portuguesa e o que também o aproximou à amizade com Cesariny. Os dois amigos fizeram uma viagem na Raia à procura da casa natalícia de María Mercedes, a mãe de Cesariny, em Hervás. A casa não apareceu.

E assim, agora, no crepúsculo destas comemorações do centenário, em Zamora, Sabaria e a FRAH envolveram-se no empenho de criar um espaço onde o amigo de Cesariny, Perfecto Cuadrado volte à sua terra para nos tornar crianças e com olhos de meninos assistirmos a uma magnífica e inesgotável conversa com o Professor. Será no próximo mês de abril na FRAH.

Concha López Jambrina

Fotos de M. António Gonçalves y Perfecto.

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