O secretário-geral da ONU, António Guterres, abriu a 76.ª sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (a primeira em regime presencial desde o início da pandemia) alertando que «estamos num caminho sem fim para a destruição». Para Guterres as seis ameaças que o mundo enfrenta são: o assalto à paz, alterações climáticas, fosso entre ricos e pobres, desigualdade de género, divisão tecnológica ou digital e divisão geracional.
Bolsonaro e o novo Brasil
O primeiro líder presente a subir e discursar perante a Assembleia Geral da ONU, Jair Bolsonaro, defendeu o tratamento precoce, opôs-se a obrigatoriedade de apresentar certificado de vacinação (foi forçado a comer pizza na rua por não poder entrar num restaurante) e apresentou um novo rosto do Brasil. Dos chefes de estado presentes na 76.ª sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, o presidente brasileiro foi o único que não estava vacinado. A sua entrada no edifício teve que ser feita após a assinatura de uma declaração de honra. O escritor Paulo Coelho apelou a que Guterres barra-se a entrada da comitiva brasileira mas como o edifício sede é considerado um território internacional nenhum mandatário pode ser barrado. Vacinas foram oferecidas às diferentes delegações participantes.
A permanência de Bolsonaro na cidade de Nova Iorque causou polémica não só com o presidente da câmara, Bill de Blasio, que numa conferência de imprensa enviou uma mensagem para que caso não estivesse vacinado nem precisava de ir como também com um grupo de populares que protestaram contra o chefe de Estado brasileiro. O ministro da saúde, entretanto infectado com covid e que vai ter que permanecer na cidade em isolamento, respondeu a estes protestos com gestos obscenos. Tanto o discurso radical como a representação brasileira nas Nações Unidas estão a repercutir nos meios de comunicação internacionais como junto dos diplomatas presentes na reunião.
Portugal, uma ponte de consensos
No discurso que Marcelo Rebelo de Sousa, que foi o sétimo líder a subir ao púlpito da Assembleia Geral da ONU, o presidente português defendeu um «multilateralismo efectivo» para que se possa enfrentar de uma forma conjunta as crises que actualmente enfrentamos (a pandemia de Covid-19) e as que possam vir no futuro. O governante luso, que no encontro que teve no dia anterior com o secretário-geral da ONU voltou a apoiar a agenda que tem nas alterações climáticas e numa distribuição equitativa de vacinas alguns dos seus principais aspectos, pediu uma reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas.
Este novo conselho, segundo Rebelo de Sousa, deve retratar o século XXI e como tal deveria contar com uma presença permanente de um país africano, da Índia (a nação mais populosa do mundo) e do Brasil. Esta defesa da questão brasileira vem depois do encontro de Bolsonaro com Boris Johnson, onde o primeiro-ministro inglês também falou sobre esta possibilidade. O discurso de Marcelo Rebelo de Sousa perante a assembleia reforçou a vocação da diplomacia portuguesa em estabelecer pontes entre a Europa e os continentes africano e americano. «Portugal esteve sempre, estará sempre do lado dos consensos que resolvam as crises. Portugal está, tal como a União Europeia, do lado do multilateralismo, das Nações Unidas, da ordem internacional baseada em regras, dos direitos humanos», disse.
Participação encurtada, única mulher e BTS
Devido a erupção do vulcão nas Canárias, o primeiro-ministro espanhol Pedro Sánchez terá uma participação mais reduzida nesta sessão da assembleia. A única voz feminina a discursar foi a presidente da Eslováquia, Zuzana Caputova, que falou num discurso gravado que foi transmitido após a intervenção de Joe Biden, que apelou a que não exista uma nova Guerra Fria. Quem também discursou, e depois actuou, foi a banda sul coreana BTS. Os talibãs enviaram uma carta a António Guterres onde apresentaram a sua vontade de discursar perante os líderes mundiais.