Bienal Ibérica de Património Cultural celebra 10.º aniversário em Portugal

De 12 a 15 de outubro, Angra do Heroísmo será a anfitriã do debate em torno da relação entre tecnologia e património

Comparte el artículo:

créditos de AR&PA e Sergey Konstantinov

A Bienal Ibérica de Património Cultural (AR&PA) abre ao público já esta quinta-feira em Angra do Heroísmo, na ilha Terceira. A 14.ª edição – e a décima em solo português – do certame, dedicado este ano à «Tecnologia e Património», acolhe mais de 50 expositores de entidades ibéricas, mas também francesas e italianas, e uma programação gratuita com visitas exclusivas, exposições, concertos, mesas redondas e outras atividades para o público interessado.

A escolha da capital histórica dos Açores para albergar a bienal deriva da celebração, em 2023, dos 40 anos da inscrição da cidade na lista de Património Mundial da UNESCO. Uma distinção que, segundo a organização, “assume especial relevância no setor do património cultural” por ter sido “a primeira desta natureza no país”, a par com outros três sítios históricos: o Mosteiro da Batalha, o Convento de Cristo e o conjunto do Mosteiro dos Jerónimos e da Torre de Belém. 

Em dezembro de 1983, continua a nota da organização, a UNESCO reconheceu Angra pela “posição geoestratégica do seu porto, escala obrigatória das frotas de África e das Índias, e marco na história universal das explorações marítimas”. A cidade manteve o seu “caráter histórico” apesar do terramoto que a abalou três anos antes, em 1980, o que motivou ainda mais a classificação.

Quatro décadas depois, a AR&PA instala-se em Angra para “reunir, escrutinar e fomentar” a relação que o património cultural estabelece com a tecnologia, salienta Catarina Valença Gonçalves. “A tecnologia desempenha um papel crescentemente determinante na aproximação do cidadão ao património cultural”, explicou ao EL TRAPEZIO a responsável da Spira – Revitalização Patrimonial, organizadora do evento, acrescentando que contribui para a “melhor preservação, compreensão, inovação e experimentação” do património através da “mediação no processo de visitação” e da “criação de experiências de alto valor acrescentado”.

Para isso, a AR&PA 2023 conta, na sua programação, com vários momentos de debate e partilha de conhecimento. Em destaque estão a Talk Patrimonio.pt sobre o tema «Descentralização das políticas patrimoniais» e uma das International Heritage Talks dedicada à «Tecnologia ao serviço do património», ambas na sexta-feira, 13 de outubro. No sábado, assinala-se ainda uma conversa relacionada com o «Património imaterial, um património de futuro», onde será debatida a “valorização” das práticas passadas e a “inscrição no futuro” das mais de 17 classificações de Património Mundial e nove de Património Cultural Imaterial de Portugal.

A completar o programa da edição, destaca-se a entrega dos Prémios Património Ibérico, cujo objetivo é promover “o reconhecimento público da excelência do trabalho desenvolvido no setor do património cultural em projetos, entidades e profissionais”. Nesta 2.ª edição do galardão serão distinguidos projetos “iniciados e/ou concretizados” entre setembro de 2021 e setembro de 2023, que apresentaram candidatura às cinco categorias em jogo: Melhor Projeto de Mediação; Melhor Estratégia de Comunicação; Melhor Projeto em Parceria; Melhor Projecto de Touring Cultural; e, ainda, a categoria especial 2023 para Melhor Projecto de Tecnologia aplicada ao Património.

De entre os 83 candidatos deste ano estão municípios de diferentes regiões de Portugal e entidades várias, como a Fundação de Serralves, o Museu Nacional de Arte Antiga, a Federación Provincial de Máscaras de Zamora, o Museu da Lourinhã, a Casa Fernando Pessoa, a Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, a Casa Battló, a Secretaria Regional do Turismo e Cultura da Madeira, entre outras. Os prémios serão entregues a 13 de outubro e incluem ainda a categoria Prémio Património Ibérico, que reconhece o projeto, evento ou iniciativa que se tenha distinguido pelo seu contributo para a valorização efetiva do património cultural da Península Ibérica.

O “ponto de encontro” ibérico para falar de património cultural

créditos de AR&PA e Sergey Konstantinov

A atual AR&PA – Bienal Ibérica de Património Cultural, com 10 edições já cumpridas em Portugal, resulta da fusão da Bienal de la Restauración y Gestión del Patrimonio AR&PA, promovida pela Junta de Castilla & León e que ocorre em Valladolid desde 1998, com a Feira do Património, criada em 2013, em Portugal, pela Spira. O que, para a responsável do certame, faz dele uma “referência no setor” e “fórum de debate para profissionais e instituições dedicadas ao património cultural”.

A aposta da organização tem sido, neste sentido, dotar a programação cultural da bienal de “uma forte componente de educação patrimonial”, eliminando o acesso pago para “incentivar a aproximação dos cidadãos” ao património. “A AR&PA 2023 permite, pela primeira vez num único local, uma mostra dos inúmeros projetos em que as ferramentas de tecnologia desempenham um papel decisivo na gestão patrimonial e na qualidade da informação ao público”.

Ainda assim, Catarina Valença Gonçalves reconhece os desafios inerentes à salvaguarda do património cultural, sobretudo em Portugal. “A gestão deste bem é um monopólio estatal operacionalizado por instituições do poder central ou de nível municipal”, ou então “por entidades de natureza privada, praticamente todas elas com o carácter de fundação sem fins lucrativos”. O resultado, explica, é a “perceção comum de acentuado abandono dos edifícios com carga patrimonial e a generalidade da população portuguesa sem hábitos instituídos de visita a museus ou monumentos”.

“Urge, assim, promover uma política patrimonial focada nos cidadãos, no outro, nas pessoas, na fruição”, afirma, salientando que a gestão do património “coletivo” deve ser “levada a cabo por todos aqueles que reúnam as capacidades técnicas necessárias, independentemente de serem organizações de natureza pública ou privada”. A chave, acredita, pode estar nas atuais mudanças decorrentes da extinção da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC): “este pode ser o momento certo de o fazer”.

Noticias Relacionadas