Durante cinco dias, a cidade de Lisboa recebeu a segunda edição da Conferencia dos Oceanos, que é coorganizada com o Quénia. Os dois países pretendem fazer uma ponte entre o norte e o sul na defesa dos oceanos. Jovens, líderes mundiais e especialistas foram chamados para tentarem “mudar a maré”. A responsabilidade na proteção dos oceanos é vista como a única esperança para o futuro.
Para as Nações Unidas, esta é a década dos oceanos e a Agenda 2030 pretende combater a poluição por plásticos e lixo marinho ou proteger 30% do meio marinho. A FAO pode uma luta concreta contra a pesca ilegal (um quarto do peixe que chega aos nossos pratos chega desta forma). No mundo, todos os anos mais de 20 milhões de toneladas de pescado são desperdiçadas devido a práticas pesqueiras não reguladas. A aquacultura e as algas são algumas das oportunidades que o mar nos dá para reduzir a fome no mundo.
Em 2050 pode haver mais plástico do que peixes nos oceanos. Não é possível ter um planeta saudável sem um oceano saudável. Os microplásticos circulam no mar e já entraram na corrente sanguínea de muitos devido a ingestão de peixes contaminados. Para alertar para o risco da poluição dos mares através do plástico (a ilha de lixo que existe no Pacifico já é maior que a França), o ator Jason Momoa participou tanto num encontro com jovens que pretendem mudanças palpáveis como na sessão de abertura da Conferencia dos Oceanos. O conhecido Aquaman (embaixador para a Vida Debaixo de Água) defendeu que este é “o momento de agir!”. A surfista brasileira Maya Gabeira, conhecida por surfar as ondas gigantes da Nazaré, relembrou que se todos agirmos em conjunto podemos mudar o estado dos nossos oceanos.
Nesta conferência (a primeira aconteceu há cinco anos) falaram representantes de 108 países reconhecidos pelas Nações Unidas, incluindo Portugal e Espanha. A embaixadora Marta Betanzos e o ministro das pescas Luis Planas também estiveram presentes no evento em que se apelou ao fim da guerra perante o olhar do representante da Federação Russa. O antigo secretário de Estado norte-americano, John Kerry, pediu ações mais concretas e a necessidade de ligar os oceanos à redução de emissões.
Participantes lembraram o papel vital do oceano
O presidente João Lourenço, de Angola, iniciou o plenário como representante dos países de língua portuguesa. “Temos que proteger o ambiente na totalidade e não só o mar”, afirmou o presidente angolano. Todos os oradores lembraram que o oceano é o nosso maior aliado contra as alterações climáticas, algo que já não é só conversa. Os participantes esperam que deste encontro saia uma Declaração concreta para preservar os oceanos em perigo.
O mesmo pedido foi feito pelos ativistas que estavam fora da Altice Arena. O secretário-geral da ONU, António Guterres, iniciou o seu discurso em português e lembrando a ligação com o mar. “Tomamos o oceano por garantido”, lamentou Guterres que também citou Fernando Pessoa. “Esta conferência chega no momento certo, com a abordagem certa e com o secretário-geral correto”, defendeu Marcelo Rebelo de Sousa que também destacou que Portugal deve tudo o que tem e o que é ao mar. “os oceanos são centrais na balança de poder geopolítica”, disse Rebelo de Sousa. Os oceanos podem levar-nos a qualquer lado e foi a partir deles que os dois reinos ibéricos deram novos mundos ao mundo. Para o presidente português, “a pandemia e a guerra não podem ser desculpas para esquecer o mar”.
O ainda presidente colombiano, Ivan Duque, aproveitou a sua presença na segunda edição deste evento para anunciar que 30% do seu território marítimo vai ser declarado como uma área protegida. Outras nações, incluindo a República Dominicana ou o Uruguai, pretendem chegar a mesma cifra. Portugal tem nos arquipélagos dos Açores e da Madeira (nas ilhas Selvagens) áreas protegidas e pretende fazer o mesmo ao largo do Algarve. Na ilha de Hon Mun, no Vietname, para proteger os recifes de coral é proibido nadar e mergulhar.
O primeiro-ministro português, António Costa, afirmou que pretende aumentar as energias renováveis vindas dos oceanos e que a economia azul é central para os desenvolvimentos nacionais. «Espero que, mais uma vez, Lisboa seja um marco no reencontro da humanidade com os oceanos», disse. 800 milhões de pessoas em todo o mundo vivem graças a pequena pesca, deste número metade são mulheres.
O presidente do Quénia pediu um maior cuidado com a economia que vem dos oceanos. Pois só desta forma será possível alcançar um desenvolvimento sustentável e uma maior compreensão do oceano. Sabemos mais sobre a face escondida da lua do que sobre o que se passa nos nossos mares. Estes cidadãos do mar foram representados em várias exposições fotográficas que podem ser vistas tanto no Centro Comercial Vasco da Gama como no Pavilhão de Portugal.