Já esta sexta-feira, Sitges abre as portas para a sua terceira edição da Vila del Llibre, o maior circuito literário de Espanha que junta em rede várias vilas e cidades do país para celebrar o livro e a leitura. Depois de Barcelona, Malgrat de Mar ou Calafell, a cidade que também acolhe anualmente o famoso festival de cinema de fantasia é a última deste ano a ser «Vila do Livro». Com um detalhe especial: a cultura portuguesa é convidada de honra do certame.
“Há muito tempo que desejávamos ter uma cultura convidada internacional e Portugal foi a escolha óbvia”, disse Sebastià Bennasar, comissário do festival, ao EL TRAPEZIO. E a escolha não podia ter sido mais “simples”, garante. “Portugal e Catalunha são dois países ibéricos que se desconhecem mutuamente em muitos aspetos, mas ambos têm literaturas muito poderosas na Europa contemporânea”.
Neste sentido, a programação do festival pauta-se por um ciclo inteiramente dedicado ao outro lado da península, com a presença de autores portugueses, escritores catalães que escreveram sobre Portugal, “alguns dos melhores e mais destacados” tradutores do português, especialistas em iberismo ou em escritores portugueses, poetas e ainda espetáculos musicais.
Em destaque está o ato inaugural com a intervenção do professor e escritor Gabriel Magalhães, “uma pessoa muito conhecida em Barcelona e uma das que melhor conhece as relações entre Catalunha e Portugal”, sugeriu Bennasar. A ilustradora Joana Estrela, “uma das jovens autoras mais importantes da nova literatura portuguesa”, marca presença para apresentar o seu romance gráfico «Pardalita» (Pardaleta em catalão), que aborda a descoberta da identidade e reivindica o amor LGBTI+.
Entre um diálogo sobre o iberismo a partir de Saramago e Natália Correia e as discussões acerca de outros autores de relevo, como Pessoa ou António Lobo Antunes, um ponto alto da edição será certamente a apresentação e o debate de duas traduções de Florbela Espanca para catalão, seguidos de um espetáculo “poético e musical”. Com Pere Comellas, tradutor de vários autores da lusofonia africana e membro do Grupo de Estudos das Línguas Ameaçadas, será ainda possível descobrir África através de um olhar atento para a literatura em português.
“[É importante] continuar a manter as pontes culturais entre os dois territórios e gerar ainda mais paixão e fascinação pela literatura portuguesa”, salientou Sebastià Bennasar, acrescentando que seria interessante que o evento suscitasse algo “semelhante em Portugal com a literatura catalã como convidada de honra”. Além de leituras já mais habituais para os catalães como “Saramago e, nos últimos tempos, Gonçalo M. Tavares, Mia Couto e José Eduardo Agualusa”, o comissário quer acreditar que “muitas pessoas venham a Sitges com curiosidade” de descobrir novas linguagens e autores.
A «Vila do Livro» é uma rede de festivais literários que nasceu há quinze anos na localidade catalã de Bellprat, inspirada em iniciativas semelhantes que se realizam em França e no Reino Unido. Ao longo dos anos, já passou por mais de 30 vezes na Catalunha, uma em Maiorca e, brevemente, vai estrear-se na Galiza. O objetivo do seu diretor, Enric Bono, é realizar anualmente oito festivais literários na Catalunha, com o objetivo de aproximar este tipo de eventos a lugares onde normalmente não ocorrem, promovendo “uma proposta cultural descentralizada” e facilitando a todos os cidadãos o acesso aos livros, à leitura e à literatura.