EL TRAPEZIO entrevista o grupo «Ciclomáticos», a maior companhia de teatro do Rio de Janeiro

Na Casa de América, os Ciclomáticos ofereceram ao público dois espetáculos premiados de seu repertório

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Os «Ciclomáticos – Companhia de Teatro» fez duas apresentações na capital espanhola com motivo do Festival ¡Hola Rio! Com 27 anos de existência, o grupo já participou de festivais de teatro em vários países, conquistando mais de 250 prêmios e nomeações em todas as categorias, consolidando-se no mercado teatral brasileiro.

O grupo tem um estilo diversificado, plasmando em suas propostas a fusão de teatro, dança e música na encenação. A Companhia já se apresentou na Alemanha, França e Peru, premiada com o «Prêmio Companhia Ilustre», no VII FESTEPE de Lima.

Na Casa de América, os Ciclomáticos ofereceram ao público dois espetáculos premiados de seu repertório: «A Festa do Boi Bumbá» e «Ariano – O Cavalheiro Sertanejo», ambos com fortes referências e elementos marcantes da cultura popular brasileira. O público espanhol pode assistir a teatro falado em português do Brasil, com legendas.

Aproveitamos a passagem da companhia por Madrid para entrevistar o renomado diretor Ribamar Ribeiro, que ministrou a oficina «O ator autoral e seu corpo», e também promoveu um debate com o público, após as apresentações.

 Conte um pouco sobre a história do grupo Ciclomáticos?

Os ciclomáticos, companhia de teatro, surge em setembro de 1996, nascemos na zona norte carioca, na rua de Bom Sucesso, que é um bairro periférico do Rio de Janeiro. Essa zona sempre é retratada com violência, e nós começamos a mostrar que existem outras coisas nesse lugar, eu sou nascido na favela do Jacarezinho.

Começamos viajando, fazendo festivais pelo Brasil, o que nos deu uma grande visibilidade no princípio. Hoje somos umas companhias mais importantes do Brasil e uma referência nacional. Temos como característica o trabalho de repertório, são um total de 12 espetáculos de repertório, que estão sempre viajando para algum lugar.

Atualmente, temos o projeto Encena Brasil, que é um caminhão container que viaja pelo país, já passamos por mais de 120 cidades do Brasil e já ultrapassamos a fronteira brasileira, com apresentações na Alemanha, na França e também no Peru.

No Peru recebemos um prêmio de companhia ilustre pela importância na América Latina, no Festival internacional de Chancay no Peru, e eu como diretor recebi um prêmio pela pesquisa de linguagem que eu faço juntamente com os Ciclomáticos.

Em termos gerais, como você vê a produção de teatro no Brasil?

A gente sempre fala que o teatro no Brasil está em ato de resistência; a cultura sempre é algo que fica muito em estágio delicado. Tivemos um período nebuloso no Brasil, e agora estamos transitando para uma renovação, o que está sendo muito importante.

A cultura está realmente num status elevado no Brasil. Temos a oportunidade de levar para pessoas de outros países, a qualidade artística que o Brasil tem, principalmente nas artes cénicas, nós temos um trabalho muito reconhecido.

O teatro brasileiro é um teatro muito potente, que fala muito da nossa identidade, em nossos espetáculos trazemos um pouco de todas as partes do Brasil, acredito que falar com essa brasilidade interessa muito aos europeus.

O teatro no Brasil está vivendo esse momento de expansão, de poder levar nossa cultura mundo afora. Acabei de voltar da Argentina, onde participei de um mercado internacional de artes cênicas e as pessoas sempre me pediam para levar os espetáculos da companhia para fora do Brasil, penso que esse movimento vai crescer cada vez mais daqui para frente.

Como é essa troca com o público estrangeiro? Existe uma boa recepção?

Quando saímos do Brasil, sempre vemos as pessoas interessadas e curiosas, o publico internacional realmente fica encantado com o nosso trabalho.

Sempre temos uma ótima repercussão, quando apresentamos no Peru o espetáculo chamado «Minha alma é nada depois dessa História», que em breve apresentaremos na Espanha, tem uma parte da dança flamenca, e no final do espetáculo as pessoas saíram cantando a música junto com a gente.

No ciclomáticos temos uma veia artística muito forte, nosso espetáculos tem muita música, dança, cantos, isso para quem é de outra cultura sempre causa muito impacto. Sempre existe a preocupação com a questão idiomática, mas também de mostrar outra sonoridade, a língua é uma das nossas identidade.

No EL TRAPEZIO acreditamos na intercompreensão entre o português e o espanhol, você acredita ser importante fazer as apresentações em português? 

Nos espetáculos de Madrid preparamos uma legendagem eletrônica, quisemos manter a língua a língua mater, que é a brasileira, com a nossa forma de falar, que é um pouco diferente do português de Portugal.

Nos espetáculos da companhia fazemos referência às fonéticas, aos sotaques brasileiros, essa sonoridade que o público espanhol pôde ouvir também é muito importante, traz um pouco da nossa identidade.

No próximo ano pretendemos retornar e já trazer essa linguagem do espanhol juntamente com essa língua brasileira, e também com o português de Portugal. Acredito que com esse intercâmbio, trazemos um pouco dessa brasilidade, o mundo está se tornando cada vez mais essa mistura e o Brasil já tem isso, nós somos originários dos povos indígenas, povos africanos, povos portugueses, espanhóis, e a gente quer ver isso acontecer aqui.

O que público de Madrid pode desfrutar nas apresentações?

Tem momentos que os personagens fazem uma interação com o público, com música e de uma maneira muito divertida, brincalhona, que o espetáculo passe pelo público como um se fosse uma espécie de cortejo, começa com um cortejo e vai terminar com um cortejo, fazendo que o público acompanhe junto com os atores, que é um pouco da nossa cultura popular brasileira, um pouco do carnaval, um pouco do boi bumbá, da cavalhadas, festas populares brasileiras que passam e deixam ali, aquela vida aquele colorido.

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