Encontro ibérico de cosmologia acontece em Ponte de Lima

O IberiCos regressa de 3 a 5 de abril com atividades abertas ao público e em formato presencial, depois de uma edição híbrida em 2022

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Um encontro com o objetivo de encorajar a interação e a colaboração entre investigadores em cosmologia (e áreas relacionadas) de Portugal e Espanha. Chama-se IberiCos e, a partir desta segunda-feira, terá a sua 17.ª edição em Ponte de Lima, numa organização conjunta entre o Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP) e a Câmara Municipal limiana. Depois de ter passado por Barcelona, em 2022, num formato híbrido (presencial e online).

Estas “reuniões de trabalho relativamente informais”, como as descreve Carlos Martins, organizador do evento, realizam-se desde 2006 – a primeira edição aconteceu no Porto – e convidam investigadores “seniores e também alunos” de mestrado e doutoramento a expor a sua pesquisa científica. Uma iniciativa aberta à comunidade académica de Portugal e Espanha, “que representa cerca de dois terços da presença” no evento, mas que recebe também cientistas “de fora que têm colaboradores nestes países ou simplesmente querem participar”.

Nas conferências do IberiCos, que reúnem vários nomes da investigação ibérica nesta área, apresentam-se trabalhos já concluídos e publicados, “como é habitual noutras conferências científicas”, havendo também a possibilidade de analisar trabalhos em curso. “Por exemplo, os alunos que estão a preparar a sua tese de mestrado ou doutoramento podem apresentar o que estão a fazer e ter algum feedback da comunidade científica”, explica.

“É um espaço mais flexível”, acrescenta Martins, esclarecendo que os oradores não são convidados. Os participantes submetem antecipadamente os seus resumos e o organizador é o responsável por “anonimizá-los” para um comité científico, que avalia “as comunicações a apresentar” dentro do tempo disponível. O que resulta numa seleção variada de temas a cada edição, sempre relacionados com a cosmologia.

Na base desta iniciativa está um outro encontro ibérico: o de Carlos Martins com a investigadora espanhola Maria Beltrán na conferência Moriond de cosmologia (França/Itália) em 2006. Nesse jantar informal, ambos recordaram as reuniões informais na área organizadas pelo físico britânico Tom Kibble e decidiram propor uma iniciativa semelhante à escala ibérica. “Não compensava fazer um encontro só em Portugal ou só em Espanha”, admite o investigador, “porque não há uma comunidade nesta área que o justifique”. Portanto, a “resposta natural” foi realizar encontros ibéricos.

Desde então, estes encontros têm acontecido todos os anos em várias cidades portuguesas e espanholas, desde Aveiro, Lisboa e Coimbra a Bilbao, Madrid e Barcelona. A pandemia, porém, obrigou a que o encontro de 2020 não existisse e que, em 2021, o IberiCos se realizasse à distância. Em 2022, a edição em Barcelona já permitiu “um formato híbrido”, e só este ano será novamente possível um evento inteiramente presencial.

Com atividades também dedicadas ao público em geral, a começar por uma palestra dada por Carlos Martins no Auditório Rio Lima, sobre o tema “A Física do Big Bang”. A conferência terá início às 19 horas e será seguida de uma sessão de observação astronómica, às 21 horas, no Centro de Interpretação das Aldeias da Mesa dos 4 Abades. A primeira atividade não requer pré-inscrição, porém é necessário reservar lugar para a segunda, já que “a Câmara Municipal de Ponte de Lima disponibiliza um autocarro para a ida, desde o centro da vila, e para o regresso”. 

Talento existe, mas “falta investimento”

Quanto à relevância destes encontros, Carlos Martins desconhece o impacto em termos de números e estatísticas, mas salienta as “colaborações internacionais” e os “ganhos de eficiência” que resultam do contacto entre investigadores. “Nós apresentamos o que estamos a fazer e, vendo que outros estão a fazer coisas semelhantes, juntamo-nos e decidimos colaborar”. O que acontece para além das apresentações científicas. “Durante os coffee breaks ou os almoços, é possível falar mais detalhadamente sobre os projetos e ‘chatear’ a cabeça dos colegas até se perceber exatamente do que se tratam“, brinca o investigador do CAUP.

É nessa “interação informal” que Martins vê o potencial do evento que organiza e refere que se atingiu uma “zona de estabilidade” ao alargar a duração dos encontros de dois para três dias e ao criar uma “tradição de ir ao IberiCos” para os novos estudantes e cientistas. Ainda assim, admite que há caminho por fazer: “Seria bom que a comunidade [da cosmologia] crescesse e que, com ela, os encontros também pudessem crescer”.

Do grupo científico ibérico nesta área, Carlos Martins destaca a “visibilidade e a competitividade internacional em alguns temas”, mas sente a falta de “mais financiamento em Portugal e Espanha” para a investigação. Noutros contextos à escala europeia – e dá o exemplo de Cambridge, no Reino Unido – existem investigadores “especializados em tudo”, o que não acontece na Península Ibérica por “termos recursos humanos e financeiros mais limitados”.

Isto reflete-se ainda, por exemplo, ao nível da participação nos projetos internacionais. “Concetualmente até poderíamos participar, mas depois, na prática, não podemos porque já temos o nosso tempo e dinheiro comprometidos noutro projeto”. Tornando-se difícil concorrer a mais apoios pelo facto das “escalas de tempo para concorrer a financiamento serem relativamente longas”.

De qualquer forma, o investigador sabe que “há interesse na área” – pelo aumento das médias de entrada “nos cursos de Física e Engenharia Física” – e que a próxima geração de cosmólogos “está garantida”. Apenas deseja que o valor financiado aumente para “captar este talento” com bolsas de investigação, apoios à participação em colaborações internacionais e até incentivos à construção de instrumentos tecnológicos, como os telescópios, importantes para “recolher dados”.

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