Encontros «Peninsulares» mostram arte têxtil ibérica em Cáceres

A exposição, com curadoria ibérica, está patente na Sala de Arte El Brocense, em Cáceres, até 26 de novembro

Comparte el artículo:

Ligar Espanha e Portugal através da promoção e valorização da arte com elementos e técnicas têxteis. Este é o propósito dos «Peninsulares», os encontros ibéricos da arte têxtil contemporânea levados a cabo por associações regionais e estatais dos dois países e, principalmente, por duas entidades culturais: a Ideias Emergentes / Bienal Contextile, do lado português, e a Indigo Proyectos, sediada nos arredores de Madrid.

Este ano, na sua 4.ª edição, os «Peninsulares» rumaram aos «Territórios de Lã», como é apelidada pela organização a extensão entre Cáceres, na Estremadura espanhola, e a Beira Interior portuguesa. Uma viagem que começou quando a sala de arte cacerenha El Brocense acedeu a acolher o projeto, enlaçando-se rapidamente ao outro extremo da conhecida Rota da Lã – Translana: a Covilhã.

“Pareceu-nos natural procurar uma sede em Portugal não muito afastada [de Cáceres] que acabou por ser o Museu de Lanifícios da Covilhã”, explica Lala de Dios, da Indigo Proyectos, acrescentando que descobriu nesse processo “laços históricos, comerciais e culturais muito fortes nos dois lados da Raia”. Ambos os territórios são polos rurais e pecuários com forte produção e comércio de lã, sendo a região da Covilhã o mais relevante em Portugal e a Estremadura, no caso espanhol, o território que atualmente “concentra 80% da população ovina do país e praticamente a totalidade do rebanho merino”, justifica a organização no seu website.

Dessa coincidência surgiu o mote para a presente edição, contemplando um conjunto de atividades desenvolvidas ao longo da segunda metade de 2023. As residências artísticas, que começaram em junho, inauguraram o programa com o resultado de duas obras realizadas em torno da lã. A primeira surgiu da colaboração entre a artista espanhola Ana Musma e a portuguesa Patrícia Oliveira, que se encontraram entre 26 de junho e 14 de julho no Museu de Lanifícios, enquanto as artistas Patrícia Geraldes e Asunción Molinos trabalharam juntas de 17 a 27 de julho no Museu Vostell, em Malpartida de Cáceres.

Em destaque está agora a exposição que se encontra em Cáceres e esteve patente na Covilhã entre julho e setembro. A mostra coletiva apresenta trabalhos de seis artistas portugueses e outros seis de Espanha, selecionados e organizados por Lala de Dios e Cláudia Melo, diretora artística da bienal Contextile em Guimarães. “É um grupo muito diverso em termos de abordagem artística, mas que trabalha e reflete sobre o mesmo meio têxtil, que é a lã”, esclarece a curadora portuguesa.

Entre os nomes em exibição está o artista têxtil e DJ Alexandre Camarao, que cruza estes dois universos no seu trabalho exposto, transportando os “ritmos e cores” da música eletrónica para o “fazer mais calmo, íntimo e relacional” da tapeçaria com lã.

Já o trabalho de Tiago Pereira, autor do projeto «A Música Portuguesa a Gostar dela Própria», resultou num vídeo que retrata as práticas da transumância [deslocação de rebanhos] e do enfeite de ovelhas na localidade de Fernão Joanes, salientando “a importância da cultura do pastoreio” na região e eliminando, nas palavras de Cláudia Melo, “a fronteira entre a arte popular e a dita arte erudita”.

Do lado espanhol, por exemplo, Susana Arce utiliza o texto de um poema de Maria Zambrano, «Alga en la corriente lenta», para o transformar numa série de «Poemas Brancos» escritos em panos de seda, que se escondem por detrás de pedaços de lã “como se fossem folhas de papel”. O novo texto fica assim oculto para o espectador, que é desafiado a decifrá-lo “através de um espelho”.

Para além da mostra e das residências artísticas, o programa desta 4.ª edição incluiu também um workshop de escultura em feltro dado pela artista Ana Rita Albuquerque, a presença dos «Peninsulares» na FIADA – Feira Internacional de Artesanato e Design da Covilhã, e ainda uma série de conversas – as «Textile Talks» – para apresentar e partilhar conhecimento sobre o projeto, as residências artísticas e o território da Covilhã e Serra da Estrela.

Em edições anteriores, os «Peninsulares» passaram por Madrid e Guimarães. As duas cidades acolheram o projeto logo na primeira edição, em 2013, sendo que a capital espanhola voltou a receber o projeto em 2021, no Museu Nacional de Artes Decorativas, e a «cidade-berço» foi novamente anfitriã em 2022, no âmbito da 10.ª Contextile.

Lala de Dios admite que, no futuro, estes encontros podem voltar a ter “um tema concreto” como este ano, mas a curadora espanhola diz ser “ainda muito cedo” para falar de próximas edições. O objetivo do projeto, porém, deverá manter-se o mesmo: “promover o trabalho dos artistas portugueses e espanhóis que utilizam os têxteis, investigar para encontrar o mais interessante do que se faz e mostrá-lo ao público no melhor contexto possível”.

Noticias Relacionadas