Sesimbra é uma vila que fica a pouco mais de 30 kms de Lisboa. Este foi um dos locais que ficou afetado pelo terramoto de 1755 e aparece nos ‘Lusiadas’ como a «bela piscosa» (isto por ter uma forte frota pesqueira). Sesimbra já teve várias facetas. Viu dinossauros, romanos, árabes e a criação e consolidação do reino de Portugal. Uma das histórias liga Sesimbra a Sevilha, a antiga capital do império espanhol. Mas o que pode ligar estes dois pontos que de semelhante apenas têm a primeira letra dos seus nomes, S? Já agora, uma ideia que deixo ao presidente da autarquia de Sesimbra, Francisco Jesus, porque não fazer Sesimbra e Sevilha duas cidades-irmãs ou reforçar as relações entre as mesmas? Não sei como isto poderia acontecer mas seria uma ideia interessante para um local que quer atrair cada vez mais turistas. Espanha neste ponto também tem um forte peso.
Quem conhece Sesimbra na atualidade sabe que aqui existe um dos portos que mais pesca em todo o país mas não tem capitania própria. Esta é partilhada com Setúbal, a capital do distrito. Só que Sesimbra e Setúbal sempre tiveram uma relação algo tensa. O que podemos ver desde o passado. Antes da união dinástica houve um decreto que obrigava os pescadores de Sesimbra a venderem apenas o seu peixe a Setúbal. Algo que não era do agrado destes pescadores que começaram a vender este pescado (com grande fama) a Sevilha. Indo contra o decreto real. Muitos pescadores foram presos e barcos aprendidos mas foi desta forma que começou uma nova forma de contrabando. Que é também contado através dos vestígios arqueológicos que podem ser encontrados em Sesimbra.
Habitualmente falamos do contrabando raiano. A minha avó, que era de Barrancos e trabalhava durante o dia num café, chegou a passar a fronteira a pé para levar para o lado espanhol o excelente café português. Todos já ouvimos falar desse tipo de contrabando mas aqui usaram os barcos para o fazerem. O peixe de Sesimbra em troca de sal e cerâmica vinda de Sevilha. Sesimbra é uma das poucas localidades fora de Espanha com a presença destas peças. As mesmas poderiam e deveriam ser expostas num museu já que poucos conhecem esta história que também é nossa!
Vários séculos depois, e antes do 25 de Abril, havia vários produtos que não haviam não só em Sesimbra mas em todo o país. Sabiam que antes a Coca-Cola era olhada de lado pelo Estado Novo? Para além da mentalidade «tacanhas» também eram produtos caros e a população era pobre. Esta é uma localidade marítima mas até há uns 100 anos as pessoas apenas iam a praia devido a questões médicas. Como o mundo mudou!
Mas voltando ao contrabando, os pescadores de Sesimbra no período do Estado Novo traziam nas suas embarcações, que iam pescar para junto da costa espanhola, rebuçados e outros artigos que depois eram vendidos nas lojas de campanha. Pequenas «lojas» junto da praia e geridas por pescadores. Era onde antes se podia pedir um «bauça». Esses hoje em dia são vendidos nos bares de praia e são nada mais e nada menos do que simples gelados. O falar e costumes «pexitos» valiam sozinhos todo um artigo.
O último rei nacional vinha até Sesimbra para estar perto do mar e a corporação de bombeiros local foi criada por sua iniciativa. A coroa no seu estandarte é uma das provas. A fortaleza de Santiago, mesmo no centro da vila, foi construída para ajudar a defender a costa do ataque tanto de piratas como de embarcações espanholas no período das guerras de Restauração da independência. A partir de Sesimbra é possível navegar até Cascais ou Lisboa. Basta passar o temível Cabo Espichel, que tem no seu topo um santuário que até às aparições de Fátima recebia a maior peregrinação do país. A família real portuguesa participava na mesma e para ficar mais cómoda mandou construir uma casa da ópera e uma praça de touros. Não devíamos deixar «morrer» o nosso património arquitetónico.
Sesimbra é uma das jóias turistas de Portugal e muitas são as histórias que podemos contar e que envolvem Espanha. Há pouco mais de 100 anos, um grupo de pescadores locais conseguiu, apenas usando cordas, salvar toda a população que seguia a bordo do navio espanhol Numancia. A carcaça desta embarcação jaz no fundo do mar, na praia do Ouro. Esta praia é excelente para a prática de mergulho e chegou a ser usada pela NATO para exercícios navais.
Andreia Rodrigues