08/12/2025

“Galegos d’Ouro” na produção de vinho em Portugal

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Eram mulheres, homens e, até, crianças. Deslocavam-se em grupos, movidos a coragem, desespero e determinação, trocando a sua força braçal pela fuga à miséria. Terão sido cerca de 20 mil por ano, ao longo de aproximadamente 200 anos, e todos deram um contributo fundamental para a paisagem que é, hoje, um dos ex-libris da região norte de Portugal – o Alto Douro vinhateiro. Eram mulheres, homens e, até, crianças, que chegavam da Galiza para trabalhar o campo, resultando numa mão-de-obra indispensável e de valor incalculável para a produção de vinho. A estória é relatada no documentário “Galegos d’Ouro”, que pode ser assistido na RTP Play, e também através da TV Galícia, em Galegos D’ouro | AGalega.

A paisagem deslumbrante do Alto Douro, uma banda sonora envolvente e um excelente e diversificado  painel de especialistas e comentadores, servem de cenário à produção da Farol de Ideias, com autoria de Arminda Sousa Deusdado, que recorda o papel essencial que a força de trabalho galega teve na cultura vinícola portuguesa, do norte do país. O documentário foi realizado há alguns anos, tem duração de 50 minutos, e propõe uma apaixonante viagem no tempo, recuperando a memória dessa onda migratória de subsistência rumo às margens do rio que desagua no Porto, e onde galegos e durienses se juntavam para o trabalho no campo, em prol da produção de vinho.

Numa paisagem que é atualmente reconhecida como Património Mundial da Humanidade, as condições de trabalho já foram as mais inóspitas que se possa imaginar. Era um contexto rude e exigente em que pessoas simples, de pés decalços, se esforçavam por resistir aos rigores da chuva e das temperaturas baixas do inverno, bem como ao calor extremo e seco do verão. Trabalhando muito, e sempre com a maior resiliência e a mesma dose de humildade e dignidade, enfrentando doenças e morte, e resignando-se à má nutrição, bem à imagem da expressão “trabalhar como um galego”, utilizada até hoje, em referência ao trabalho árduo.

Os “Galegos d’Ouro” terão começado a chegar ao Alto Douro vinhateiro no século XVIII, permanecendo, anualmente, no período que decorre entre novembro e o início da primavera. Iam para casa e regressavam todos os anos, num tempo em que o vinho era alimento e as crianças ajudavam, trabalhando com firmeza e afinco, ao lado dos adultos. Segundo o documentário, a participação galega no setor vinícola do Douro foi tão marcante que está, inclusivamente, ligada à estória, no século XIX, da quinta da família de D. Antónia, a Ferreirinha, cujo avô era um comerciante galego, radicado na região.

Para quem desconhece este capítulo da intrigante e notável história ibérica, fica a sugestão de que o descubra, através da RTP Play ou da TV Galicia. Para quem já sabe da relevância que a mão-de-obra galega teve para a construção e crescimento do Alto Douro vinhateiro, ver este documentário pode ser uma boa oportunidade de reencontro com mais uma importante memória da nossa vida, de ibéricos, em comum. Por um ou por outro motivo, visitar a obra documental “Galegos d’Ouro” representará também uma homenagem justa e calorosa ao talento e à dedicação que a gente da Galiza semeou nas margens do mágico Douro, nas formas e na fertilidade da terra, no sabor e na beleza desse néctar único que é o vinho, e, naturalmente, na riqueza histórica e cultural de toda região.

Patrícia Menezes Moreira