O iberismo é contrário ao ódio

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Para haver um sistema político saudável, tem de haver um equilíbrio entre a esquerda e a direita. Tem de haver vontade de debater civilizadamente, não simplesmente para vencer o opositor, mas para encontrar soluções equilibradas e mutuamente benéficas. Eu considero-me de centro e estou disposto a ouvir tanto a esquerda como a direita para compreender como podemos criar um país melhor para todos, com a condição de que seja respeitado o equilíbrio necessário entre ambos.

A partir do momento em que um partido político admite que o seu líder saia à rua a fazer a saudação nazi, esse equilíbrio está perdido para sempre. A partir do momento em que os apoiantes desse partido defendem um antigo ditador e fecham os olhos para as atrocidades da guerra colonial que esse ditador protagonizou, já não há debate possível. A partir do momento em que eles mentem descaradamente, insistindo que não são fascistas e afirmando que não há racismo no nosso país, perderam toda a credibilidade. Infelizmente, todas estas coisas aconteceram e continuam a acontecer em Portugal. E eu, hoje, estou farto. Estou furioso. Mas vou responder ao ódio com o seu contrário: a concórdia.

A mim, já me chamaram traidor por ser iberista. Quiseram que eu tivesse vergonha por querer uma relação próxima entre Espanha e Portugal, por rejeitar o ódio nacionalista tradicional e a glória do passado imperialista. Recusam-se a ver que o iberismo pode ser muito mais do que o mero debate sobre soberanias e hipotética união política. E eu vejo a extrema-direita a ganhar força em todo o mundo, o populismo e o discurso de ódio a prosperar, os neonazis a cometerem cada vez mais crimes de ódio, e pergunto-me: se o iberismo fosse uma ideologia de ódio, se a Ibéria tivesse inimigos declarados a quem pudesse apontar o dedo, haveria mais pessoas interessadas no iberismo?

O ódio é fácil. A coisa mais fácil do mundo é dizer “nós temos um problema e a culpa é daquela gente”, daqueles que não são como nós. A coisa mais fácil é aproveitar-se do medo provocado pelo choque de culturas para ganhar votos, fazer promessas que (como de costume) não serão cumpridas e ganhar dinheiro à custa da ingenuidade de quem não tem vergonha de abraçar o fascismo. O iberismo é difícil porque é contrário ao ódio. O iberismo promove a aproximação, não o afastamento. O iberismo não vende, como o nacionalismo. O iberismo é uma ideia de paz, perdão, fraternidade, coexistência e concórdia. Quem se afasta do populismo, rejeita o ódio e defende uma ideia de paz devia orgulhar-se pela raridade de tais ideias no mundo cada vez mais violento em que vivemos.

Eu concordo que é necessário garantir a segurança e a prosperidade do nosso país, mas isso não quer dizer que o ódio seja justificado. É fácil acusar os atuais políticos de não resolverem os nossos problemas. É fácil prometer que se vai fazer um melhor trabalho. Mas infelizmente é muito difícil, para quem simultaneamente abraça e nega o fascismo, compreender as inúmeras e dolorosas lições que a história ensina, assim como compreender a manipulação descarada de que eles próprios são vítimas. Infelizmente é muito difícil, para eles, compreender que são eles quem deveriam ter vergonha.

Sim, sou iberista. E quanto mais força a extrema-direita ganha, mais iberista me sinto!

 

João Pedro Baltazar Lázaro

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