21/05/2025

Chega ganhou o sul do país devido a um voto de protesto não só dos jovens

Na entrada da estrada que vai para o concelho de Sesimbra há um cartaz deste partido que associa os partidos tradicionais aos casos judiciais que marcaram o país nos últimos 50 anos

Comparte el artículo:

Bluesky Streamline Icon: https://streamlinehq.comBluesky

As legislativas podem ter dado a vitória a AD de Luís Montenegro e terem terminado com a terceira maior derrota do PS na história democrática (e consequente demissão de Pedro Nuno Santos) mas a verdade é que ninguém pode negar que o Chega de André Ventura foi o grande vencedor e no Parlamento será a segunda força com mais poder (empatado com os socialistas). O que poderão querer aprovar no Parlamento é que ainda mal sabemos. Foi a figura de André Ventura que fez manchetes na imprensa internacional apesar de (ainda) não ter conseguido alcançar o Palácio de São Bento. O PS irá a eleições e como candidatos teremos dois antigos ministros de António Costa, José Luís Carneiro e Mariana Vieira da Silva. João Soares, filho de Mário Soares, já lamentou a descida do PS nestas eleições.

A AD está aberta a dialogar com a liderança socialista que daqui saia. O que poderemos esperar do futuro é uma incógnita depois de uma noite eleitoral que poucos esperavam e que voltou a partir o país entre o norte de centro-direita e o sul de extrema-direita. Há um ano já tinham ganho o Algarve, este ano foi o Alentejo e Setúbal.

Depois de ser comunista, o sul «abraçou» um outro extremo. Num país com mais de um milhão de estrangeiros, o partido que mais cresceu é anti-emigração.

Chega ganha em Sesimbra graças ao voto dos jovens

Há quem defenda que o mau estar que Ventura teve durante a campanha foi uma tática, como a de Bolsonaro, e parece que conseguiu capitalizar bem e já existem figuras do PSD abertas para falarem com este partido de extrema-direita. Depois de aumentarem a sua participação parlamentar, querem o máximo de autarquias possíveis. O partido de Ventura aproveitou, numa campanha onde pouco se falou sobre política, para capitalizar a desilusão com os partidos tradicionais (PS e PSD).

O Chega tem como dois dos seus principais alvos os ciganos e os imigrantes. Em Lisboa, Setúbal e Algarve, quase metade dos bebés já são filhos de mães estrangeiras (o pai pode ser português mas também estrangeiro). Sou da península de Setúbal, mais precisamente de Sesimbra, um local marcadamente turístico, com uns população jovem e que vive uma dupla realidade já que temos sítios com uma qualidade de vida bastante alta (como é o caso de Azeitão ou partes de Sesimbra) ao lado de bairros sociais.

A explicação para o voto no Chega pode ser o de desagrado. Na entrada da estrada que vai para o concelho de Sesimbra há um cartaz deste partido que associa os partidos tradicionais aos casos judiciais que marcaram o país nos últimos 50 anos.

O direito de votar

Mais de meio século nos separa da ditadura e com cada vez mais eleitores que não viveram este período estes votam no Chega não por ideologia mas pelas informações que partilham nas redes sociais e com o discurso de «se não der certo, para o ano que vêm votamos novamente».

O objetivo de uma eleição é alcançar estabilidade e não ir a provar o que não se gosta. Isto demonstra a forma como os mais jovens olham para a política e os políticos. As próximas eleições serão as autárquicas que ao contrário das legislativas as pessoas votam nos candidatos que conhecem sem olhar tanto para o partido a que estão associados. André Ventura durante a campanha passou por Sesimbra, uma das últimas autarquias comunistas, e vão avançar para este concelho com um dos seus nomes mais fortes. O deputado Nuno Gabriel Frazão que vai tentar tirar esta autarquia ao comunista Francisco Jesus e replicar a boa aceitação que tiveram nestas últimas eleições. Das três freguesias que compõem este concelho (Santiago, Castelo e Quinta do Conde), apenas a sede do concelho não votou no Chega.

As mulheres representam 34% dos deputados eleitos para esta nova legislativa mas no caso do Chega só chegam a um quarto. O Chega elegeu muitos jovens e parece que tem uma grande base neste eleitorado, que comemorou a excelente votação como se fosse um jogo de futebol (Ventura foi comentador de futebol, associado ao Benfica, antes de virar político a tempo inteiro). As figuras ligadas ao Chega apresentam um discurso onde debatem os temas como se estivessem no café e as pessoas (com uma literacia funcional) acabam por repetir as falácias de «os ciganos não trabalham» ou «os imigrantes chegam a Portugal e têm mais condições que os portugueses». Os mesmos portugueses que saíram e continuam a sair para outros países a procura de melhores condições de vida, como é o caso dos nossos compatriotas que vivem no Luxemburgo (uma espécie de Portugal B).

Em pouco mais de 6 anos, este partido que mais parecia «one man party» passou de ter uma votação residual a «roubar» o sul do país às forças de esquerda, quer sejam essas o partido socialista ou a CDU (que fora dos períodos eleitorais é mais conhecida como PCP). Conquistaram votos em 49 concelhos. Venceram nos distritos de Setúbal (conquistando sete concelhos) e Beja, por exemplo. Este distrito alentejano elegeu um deputado do Chega, PS e AD. Este resultado histórico do Chega já foi alvo de felicitações internacionais, incluindo Le Pen.