Comissão do Senado brasileiro investiga a negligência e negacionismo de Bolsonaro

O ex ministro da saúde, Eduardo Pazuello, foi interrogado pelos senadores nas duas últimas sessões

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EDILSON RODRIGUES/AGENCIA SENADO

O ex ministro da saúde do Brasil, Eduardo Pazuello, compareceu esta quinta-feira pela segunda vez perante uma comissão do Senado que investiga a gestão do governo em relação a pandemia do Coronavirus e voltou a deixar sérias dúvidas sobre a sua actuação. A audiência foi a continuação de uma outra celebrada na véspera pela comissão, que tenta determinar se o governo de ultra-direita de Jair Bolsonaro foi omisso diante o avanço de uma pandemia que já matou 441.000 brasileiros e segue descontrolada no país, um dos mais afectados no mundo.

Pazuello, general do exército que exerceu como ministro entre Maio de 2020 e o passado mês de Março, não terminou esclarecendo as falhas no fornecimento de oxigénio hospitalar registradas no último mês de Janeiro no estado do Amazonas. Também terminou, entre outros pontos, na insistência do governo no uso da cloroquina no tratamento anticovídeo.

Sobre a crise no Amazonas, onde centenas de pacientes morreram por asfixia em hospitais, Pazuello admitiu que foi proposta uma intervenção federal naquele estado mas disse que numa reunião presidida por Bolsonaro foi decidido que as autoridades locais estavam “numa posição para lidar com a situação”. Da mesma forma, Pazuello não soube explicar os atrasos nas compras de vacinas, que no Brasil escasseiam. Só 9% dos 210 milhões de brasileiros receberam a segunda dose necessária e 18% receberam apenas a primeira.

As reclamações da oposição, que é maioritária nos onze integrantes da comissão, geraram reacções entre os senadores do partido no poder e esta audiência foi interrompida por fortes lutas ideológicas com a pandemia como pretexto. O instrutor da comissão, Renan Calheiros, responsável pela redação do relatório que resultará da investigação, foi mais longe e acusou Pazuello de oferecer “um espectáculo inédito” de “contradições, omissões e mentiras”.

Calheiros apresentou um estudo feito pelos seus assessores sobre a declaração que o ex-ministro deu à comissão nesta quarta-feira e afirmou que foram constatadas pelo menos “catorze oportunidades” em que “mentiu flagrantemente” ou negou declarações que ele mesmo tinha publicamente dado enquanto ele estava no governo. Em alguns desses casos, gravados em vídeos, o general, junto com o presidente Bolsonaro, negou que o uso de máscaras ou o distanciamento social fossem eficazes na redução das infecções por coronavírus.

Porém, perante a comissão, Pazuello reiterou uma e outra vez que é “totalmente favorável” a essas medidas e assegurou que durante sua gestão foram “amplamente recomendadas”, embora não tenha conseguido prová-lo. Diante dessas contradições, Calheiros chegou a declarar que os senadores enfrentavam uma “nova linha de desinformação”, que definiu como “a negação do negacionismo”.

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