Já este fim de semana e na próxima sexta-feira, a companhia de teatro ASTA – Associação de Teatro e Outras Artes, sedeada na Covilhã, apresenta em Espanha uma das suas criações mais recentes. O espetáculo Spectrum, já exibido em várias localidades portuguesas, passa este sábado pelo centro de investigação teatral Atalaya-TNT, em Sevilha, e segue depois para o País Basco, onde será levado à cena no palco da Tabakalera, em San Sebastián.
“Este espetáculo é o resultado prático do meu doutoramento em media arts”, explica o criador e encenador, Rui Pires, pelo que tem uma componente “bastante visual aliada à tecnologia, à música e ao movimento”. Não sendo “teatro convencional”, revela-se uma “performance multimédia coreográfica” que reúne o trabalho de vários artistas. Henrique Vilão é um desses cocriadores, responsável pela música do espetáculo e, em colaboração com Tiago Damas, pelo suporte vídeo, referindo ao EL TRAPEZIO a sua premissa de explorar várias abordagens artísticas. “Vou desde a música erudita à música experimental mais contemporânea e à eletrónica” na criação sonora, passando, nas técnicas de vídeo, por “formatos mais analógicos misturados com elementos de glitch [falhas de vídeo] que fazem uma espécie de viagem.”
A relação da obra com o espectador é também peculiar. “O espectador envolve-se numa luta de ver para onde olha mais: se para o intérprete em cena, se para os elementos multimédia”, analisa o encenador, sublinhando a ausência de uma “narrativa linear” que traz “muitas leituras possíveis”. Algo que Rui Pires admite abordar noutras criações, evitando “dar tudo” a quem vê: “acredito que o espectador deve ser o criador da sua própria história”. O que se liga “mais à ideia de experiência do que de narrativa”, acrescenta Vilão.
Estreado em setembro de 2023, Spectrum ruma agora ao país vizinho por via de uma candidatura e um convite, explica Rui Pires. Em Sevilha, o espetáculo apresenta-se no âmbito de um festival que defende “um outro teatro possível para lá das leis convencionais”, para o qual a companhia se candidatou e, após a seleção de um júri, acabou entre as oito finalistas que pisarão o palco do Atalaya-TNT. No caso de San Sebastián, o convite foi dirigido à ASTA para participar num festival de teatro, dança e circo, onde o criador da peça participará também numa conferência profissional para promover a associação e “tentar criar sinergias com outras companhias do País Basco.”
Uma intenção de intercâmbio ibérico que não é recente, já que, nos seus 24 anos de existência, a ASTA se apresentou inúmeras vezes em Espanha e até convidou criadores internacionais, incluindo ibero-americanos, para dirigir os seus espetáculos. “Desde o início que vamos a Espanha pelos conhecimentos e parcerias com companhias de teatro e dança espanholas, mas também pela proximidade geográfica de estarmos junto à fronteira”, dando conta de anos em que “atuamos mais em Espanha do que em Portugal”. O público vizinho também é “bastante recetivo” às propostas da companhia, mesmo que o criador não considere usar legendas quando há texto. “O facto de irmos a Espanha continuamente, às vezes aos mesmos festivais há 24 anos, é uma indicação de que o público gosta e quem organiza os festivais aprecia o nosso trabalho.”
Além disso, a associação pertence também à Red Escena Iberoamericana, uma iniciativa de cooperação fundada durante a pandemia que inclui companhias, teatros e festivais de países como Argentina, Brasil, Espanha, Colômbia e México. “De momento, a ASTA é a única companhia portuguesa que está na rede, uma vez que a direção decidiu ainda não a alargar”, mas o intercâmbio já existe e permite levar as produções nacionais aos países-membros, trazendo as companhias parceiras a Portugal. “É uma rede de partilha de experiências, de trabalho comum e que, apesar das distâncias, sobretudo com os países latino-americanos, é muito importante para todos os criadores e públicos envolvidos”, conclui Rui Pires, que adianta ainda “uma coprodução com o Centro Dramático Galego, dirigida por um autor galego e com outros criadores nacionais e da Galiza”, já no próximo ano.
Spectrum é um espetáculo da companhia ASTA com o apoio da Câmara Municipal da Covilhã, do Instituto Português do Desporto e Juventude, do New Hand Lab e da Universidade da Beira Interior. A ASTA é uma estrutura profissional de criação e programação transdisciplinar, com base no teatro, financiada pela Direção Geral das Artes – Ministério da Cultura.