14/06/2025

Isabel Stilwell: «Não é possível entender a História de Espanha ou de Portugal, sem estudar e perceber a do outro país»

A escritora portuguesa Isabel Stilwell esteve em Madrid a apresentar o seu novo livro.

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Isabel Stiwell é a autora portuguesa que mais vende ficção histórica. No seu mais recente livro, Inês de Castro, espia, amante e rainha de Portugal, Stilwell faz um retrato que nunca tinhamos tido de Inês de Castro, a galega que foi rainha depois de morta, protagonizou uma história de amor digna dos maiores romances literários mas era mais hábil do que a maioria sabia sobre a figura associada a fonte dos amores, de Coimbra. Isabel Stilwell já escreveu sobre figuras como Leonor Teles, Filipe I de Portugal (II de Espanha) ou D. Amélia (que foi a última rainha de Portugal).

Inês de Castro, espia, amante e rainha de Portugal já está a venda e tem um custo de 21,90 euros. Isabel Stilwell, que para além de escritora também é jornalista (começou a sua carreira aos 21 anos num dos jornais em circulação mais antigos do país, o Diário de Noticias), esteve em Madrid para participar na Feira do Livro desta cidade. Este ano a Feira reforçou a presença portuguesa e Stilwell esteve envolvida numa das atividades dinamizada pelo Turismo de Portugal. Com os livros de Isabel Stilwell é possivel fazer um roteiro não só histórico mas também turistico pelo território ibérico.

Aproveitando o mote da Feira do Livro de Madrid, o EL TRAPEZIO entrevistou a autora, que até ao momento editou vinte obras baseadas em vinte figuras da história de Portugal.

 

P: Neste livro a grande protagonista é Inês de Castro, mulher que viveu um amor impossível e sobre o qual já se falou muito, mas o que faltava dizer sobre esta figura da nossa história? O que podemos encontrar neste Inês de Castro, espia, amante e rainha de Portugal? 

IS: História, romance e aventura. Julgo que o livro aproxima o leitor de quem foi realmente Inês de Castro, levando-o a conhecer o tempo em que Inês viveu, as intrigas e as estratégias políticas que levaram à sua morte e, claro, as pessoas que a rodearam, inclusivamente o amante/marido, o infante D. Pedro, depois rei D. Pedro I de Portugal. O leitor espanhol vai descobrir ainda, e talvez com surpresa, que Inês é galega, foi criada no castelo de Albuquerque (hoje de Luna), e que a sua história se passa entre os dois reinos, intimamente ligados. Este é também o tempo de Leonor de Guzmán que dá origem à dinastia dos Trastámaras, e da famosa Maria de Padilha, também ela enamorada de um Pedro, Pedro I de Castela.

 

P: De que forma ir aos locais, percorrer os mesmos passos que estas personagens deram na sua altura, a inspira na altura de criar? Um dos cenários mais importantes desta história, deste enredo, é a Fonte dos Amores e a Quinta das Lagrimas (em Coimbra). O que este local lhe trouxe e quais foram os locais mais marcantes do amor entre Pedro e Inês?

IS: Estar nos lugares onde os meus personagens estiveram ajuda-me muito em todo o processo de voltar atrás no tempo, e a Fonte dos Amores, nos magníficos (agora) jardins da Quinta das Lágrimas são de visita obrigatória para quem queira reviver o amor de Pedro e Inês. É também obrigatório visitar o mosteiro de Santa Clara-a-Velha, onde ainda resiste uma janela do paço da Rainha onde sabemos que Pedro e Inês viveram, e onde Inês foi morta. No mosteiro de Alcobaça, as magníficas arcas tumulares contam-nos a história de Pedro e daquela que foi rainha depois da morte para toda a eternidade, como está inscrito na pedra.

 

P: Quais são os principais desafios que um escritor tem quando escreve romances históricos?

IS: Ser rigoroso nos factos, ser capaz de “traduzir” de forma clara assuntos complexos, como a situação política e económica do tempo sobre o qual se debruça, e conseguir contar estas histórias de forma a prender o leitor da primeira à última página.

 

P: A história de amor entre o Rei D. Pedro e a Dona Inês de Castro (“que foi rainha depois de morta”) e o Rei D. Pedro pode ser considerada a história de amor mais trágica da Europa? Ao estilo de Romeu e Julieta de Shakespeare.

IS: É uma história que precede em duzentos anos a de Romeu e Julieta, tal como a contou Shakespeare. Uma história real que inspirou Luís de Camões e tantos outros poetas e escritores, dentro e fora de Portugal, e continua a inspirar. Também neste caso o ódio entre as duas famílias está na origem da tragédia — o pai do infante D. Pedro, o rei D. Afonso IV odiava o pai adotivo de Inês de Castro, o seu meio-irmão Afonso Sanches. A semente de raiva que levou Afonso IV a mandar degolar a “nora”, tinha sido plantada muitos anos antes…

 

P: Quais foram os principais desafios que teve para escrever este livro? Quanto tempo demorou?

IS: Escrevi o livro durante o primeiro ano e meio da pandemia da Covid19, o que me ajudou a reviver o tempo da Peste Negra em que Inês de Castro viveu e que ajuda a explicar muitas das tensões políticas de então. Foi uma pesquisa e uma escrita intensa, com o desafio de ler as crónicas contemporâneas tanto as castelhanas como as aragonesas, e de procurar o máximo de informação sobre a vida e o contexto desta nobre galega.

 

P: De que forma surgiu o seu interesse pela figura de Inês de Castro?

IS: Escrevo desde 2007 sobre as rainhas portuguesas, e Inês de Castro não podia deixar de estar na lista das mulheres que me despertavam uma enorme curiosidade. Quero sempre procurar encontrar a pessoa para lá do mito.

 

P: Nos seus dois ultimos livros escreveu sobre figuras ligadas a Espanha. Qual é o seu interesse nestas figuras e quais são as semelhanças e diferenças que existem entre estas duas sociedades?

IS: Quase todas as rainhas e reis sobre os quais escrevi até hoje, estão intimamente ligados a Espanha — ou nasceram num dos reinos que hoje formam Espanha e casaram em Portugal, ou vice-versa. Embora as fronteiras estejam praticamente fixadas desde o tempo de D. Dinis, a verdade é que não é possível entender a História de qualquer um destes países, sem estudar e perceber a do outro. Como me têm dito muitos leitores espanhóis, os meus livros trouxeram-lhes as peças do puzzle que lhes faltavam, e fico muito contente com isso.

 

P: Esta em Madrid para participar na Feira do Livro, que este ano tem uma representação portuguesa mais reforçada. De que forma este tipo de eventos pode ajudar a popularizar, ainda mais, a literatura portuguesa?   

IS: Gostei imenso de apresentar o meu livro sobre Inês de Castro, maravilhosamente traduzido para espanhol pela escritora Virginia Lopez, na Biblioteca Eugênio Trias, e de visitar a Feira do Livro, o pavilhão da Planeta e o do Visit Portugal — foi a Maria Vale, diretora do Turismo de Portugal em Espanha que me desafiou a estar em Madrid porque, melhor do que ninguém, sabe que ambos os países só têm a ganhar em partilhar experiências. E História, claro!