Paula Rego, um dos nomes da pintura portuguesa mais conhecidos a nível internacional, morreu aos 87 anos na sua casa em Londres. Este óbito, que está a fazer eco também na imprensa estrangeira, é visto por Marcelo Rebelo de Sousa como «uma perda nacional». O governo português vai declarar luto pela morte da pintora. A artista foi um expoente no mundo das artes durante cinco décadas.
A pintora trocou Portugal pelo Reino Unido em 1952 e desde então tem unido os dois países através da sua arte. Rego foi distinguida com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada e foi condecorada pela Rainha Isabel II como Dame do Império Britânico devido ao seu trabalho no mundo das artes. Na Bienal de São Paulo participou representando os dois países. A primeira exposição em nome próprio aconteceu apenas em 1988 e desde então tem corrido o mundo mostrando a sua arte.
Pinturas, esculturas, colagens e desenhos foram algumas das técnicas que usou nos seus trabalhos. Em Portugal, a Gulbenkian é a maior colecionadora privada da obra de Paula Rego. Em 2007 teve uma retrospetiva dedicada à sua obra no Museu Nacional e Centro de Artes Reina Sofia e a sua última exposição apresentada em vida pode ser vista no Museu Picasso de Málaga. Esta, que tem uma grande vertente autobiográfica, pode ser visitada até ao dia 21 de agosto.
Paula Rego, uma pintora portuguesa influente no mundo
Em 2021, Rego foi considerada pela revista Financial Times como uma das 25 mulheres do mundo mais influentes do ano. A pintura portuguesa do século XX e início do XXI teve em Rego um dos seus maiores expoentes. Algumas das suas obras mais conhecidas são: Aborto (que teve um grande impacto social e político), O Crime do Padre Amaro, O Primo Basílio e o retrato oficial de Jorge Sampaio como presidente da república.
Em 2015, num leilão que aconteceu em Londres, a pintura O cadete e a sua irmã foi vendida por 1,6 milhões de euros, um recorde para a artista. Mulher forte, honesta e bastante influenciada pela literatura, tem na sua Casa das Histórias (em Cascais) o local onde o espólio que deixou para as próximas gerações. Este projeto foi assinado pelo arquiteto Eduardo Souto de Moura.
Os quadros de Paula Rego são repletos de mulheres perversas, assustadas, manipuladoras. Mulheres que não esperam e tomam o poder. O universo feminino é vasto, mas não único pois os seres fantásticos também deixam o espetador impressionado. Segundo a pintora, os “bonecos” que pintava escondiam sentimentos e histórias bem verdadeiras. São vistos como únicos e irrepetíveis. Os seus trabalhos eram contra a opressão que viveu não só por ter nascido durante a ditadura salazarista, período em que as mulheres pouco podiam, mas também por causa dos “demónios” interiores que enfrentava.