Lutando pelo futuro da nossa casa comum

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Há 20 anos, o navio Prestige provocava uma maré negra tanto no mar da Galícia como no norte de Portugal. Este foi o pior desastre ambiental da Europa. Naquela altura, em que a questão ambiental não estava tão presente na nossa discussão diária, os “fiozinhos” de “plasticina” negra encheram as nossas praias e sujaram os nossos animais. Com pouco mais de 10 anos, uma das memórias mais fortes que tenho deste desastre (sem referir que foi onde vimos, pela primeira vez, a atual rainha de Espanha) é ver uma gaivota coberta de crude a ser apoiada por um grupo de voluntários. Estima-se que mais de 200 mil aves tenham morrido.

Vamos avançar duas décadas no tempo para a atualidade. Numa altura em que no Egito está a ser realizada a COP27, encontro onde todos sabemos que nada será feito (infelizmente), ativistas climáticos nos vários países demonstram a sua contestação sobre a atual situação em que vivemos. Na COP são pedidas mais ações e menos palavras. Segundo António Guterres, caminhamos felizes para um suicídio climático coletivo. Isto porque o mundo está 2,5 graus mais quente e a verdade é que ninguém sabe como o futuro será.

Portugal, com exceção da metade sul, enfrenta o futuro climático com maior tranquilidade graças à influência marítima do Atlântico. Em relação a situação de seca, as chuvas de outubro fizeram com que a mesma ficasse menos grave. Em Portugal, a maioria destes ativistas são jovens que lutam para serem ouvidos e para que, no futuro, esta nossa casa comum continue aqui.

Durante a última semana, tem ocupado inúmeras instituições de ensino (incluindo universitárias) na capital. Estes protestos em breve deverão terminar. Se na Universidade Nova de Lisboa o movimento de ocupação tem sido tranquilo, com tendas montadas e Zeca Afonso a ecoar nos corredores (não entendo é como os Buraka são usados como música de intervenção), as atuações na António Arroio e na Faculdade de Letras tem dado que falar.

A primeira escola foi fechada, mas o diretor recusou-se a chamar as autoridades demonstrando estar ao lado dos estudantes. Já na Faculdade a força policial foi usada, já que os protestantes estavam colados ao chão, e alguns queixam-se de brutalidade por parte dos agentes presentes. As autoridades afirmam que agiram da forma que era necessária. Sobre as normas queixas de brutalidade policial, as mesmas acabariam de uma vez por todas se os nossos policiais usassem bodycams, como as forças americanas.

A semana de protesto terminou com uma passeata pela cidade. Só que ao contrário do que estamos habituados a ver em Portugal, os manifestantes entraram na Ordem dos Contabilistas e cercaram o ministro da Economia, Costa e Silva. Esta marcha contou com cerca de 200 pessoas, incluindo a líder do Bloco de Esquerda. Segundo estes ativistas, «Só deixa de haver motivos para fazer greve quando os governos e as instituições decidirem dar ouvidos».

Em todo o mundo foram realizadas 1200 manifestações. Em Barcelona, dois ativistas climáticos mancharam uma vitrina que protege a réplica de uma múmia no Museu Egípcio. Para além de uma maior preocupação ambiental, também foi pedido o fim do racismo, do sexismo e da discriminação de pessoas com deficiência. O homem que desenhou o PRR português é o principal visado por estes protestos que pedem o fim do uso de combustíveis fosseis e a demissão do governante que chegou a trabalhar numa empresa petrolífera.

António Costa e Silva já se veio a defender e afirmou que nas últimas duas décadas não tem sido apologista do uso de combustíveis fósseis (em relação ao petróleo, a verdade é que os planos de prospeção que havia junto a costa portuguesa nunca chegaram a sair do papel). Será que estamos a assistir a uma nova revolta estudantil, depois daquela que aconteceu em 1968? O que seria poético depois de neste mesmo espaço ter assinado um artigo de opinião focado numa geração ímpar que tem saído aos poucos de cena (link para o artigo:   https://eltrapezio.eu/es/opinion/uma-geracao-que-comeca-a-sair-de-cena_31828.html). Poderemos conseguir algo com a desobediência civil?

Em Portugal, se olharmos para o que éramos há 100 anos, somos menos e cada vez mais velhos, mas a verdade é que esta é uma geração com sonhos e esperanças. Olhamos para o futuro sem nos preocuparmos com o género ou condição social. Apenas queremos estabilidade. Tal como os estudantes de outros tempos, os participantes nesta manifestação contra o uso de combustíveis fósseis também fizeram uma assembleia-geral.

O ministro no olho do furacão foi convidado a participar e várias figuras da sociedade portuguesa assinaram uma carta onde pedem que o governo português ouça estes pedidos e se preocupe mais com o nosso clima. O apoio é muito. Esperemos que não seja de circunstância. Dar voz a todos é um dos aspetos que melhor descreve uma democracia (pena alguns partidos políticos não escolherem os seus dirigentes desta forma).

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