O que vemos é o que é e a importância das ligações humanas

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«Uma imagem vale mais do que mil palavras», esta é uma frase mais do que repetida e usada nos mais variados contextos. A verdade é o que vemos nas caras não representa o que vai nos corações. Exemplo disto são os psicopatas, quando olhamos para uma personagem como aquela que é apresentada na série Dexter jamais iamos imaginar que ele faria o papel de vingador. Como todos sabemos (quem nunca usou um daqueles filtros de Instagram que lhe tira 10 anos de cima?), as imagens podem e são manipuladas consoante o ângulo que queremos dar a notícia/informação que estamos a transmitir.

Isto acontece e sempre vai acontecer. Nem tudo tem o mesmo valor mas por detrás de todas as histórias temos homens e mulheres, sentimentos de alegria e de tristeza. Estes sentimentos podem mudar consoante o meio em que estamos envolvidos. Pessoas da mesma família podem defender visões diferentes. No Brasil uns são bolsonaristas e outros petistas, já na Catalunha uns são a favor da independência e outros da permanência em Espanha. Pais e filhos que se amam mas têm ideologias diferentes. Todos somos humanos e não meras imagens estáticas que vemos na imprensa com a mesma normalidade que temos ao comer uma taça de cereais. Todos somos importantes, todos temos sonhos e pesadelos.

Toda esta linguagem técnica, onde opinion makers e metalinguagem são conceitos habituais e não chavões, aprendi há uns anos num edifício pintado de vermelho ali no centro do bairro de Benfica. Foi entre o Colombo e o Califa que andei a passear as minhas sebentas, já que os livros estão cada vez mais fora de moda (uma pena pois adoro o cheiro a papel novo). Foi na volta, mesmo que de forma virtual, a minha alma mater que assisti a uma conferência sobre a questão catalã. Este artigo de opinião não pretende focar sobre a Catalunha mas sim sobre a importância da imagem e do trabalho que os jornalistas (e todos nós) temos na criação de uma ligação entre os nossos dois países.

Quando abrimos a televisão e andamos a fazer as nossas coisas, muitas vezes sem olhar para a televisão, temos a tendência de parar e ouvir com calma o que estão a dizer quando ouvimos o nome Espanha (acredito que o mesmo aconteça no outro lado da fronteira). Isso acontece devido a ligação que estes dois povos, estas duas comunidades, têm em comum. E há muita coisa que nos liga por mais que por vezes parecemos aqueles irmãos que não se vêem há anos.

É verdade que ainda não nos conhecemos muito, este é um dos objectivos do EL TRAPEZIO, mas todos os participantes nesta conferência focaram na necessidade de se transmitir a notícia sobre o outro, o nosso vizinho do lado, com a tal imparcialidade do jornalista mas sem conhecer o sentimento, o trabalho com o outro e a força do olhar. É possível estar em teletrabalho mas nada se compara com o trabalho in loco.

Sair e estar onde a notícia acontece, onde a história muda, é o desejo de todos. É nos olhos que a nossa alma se espelha e se houve algo que aprendemos desde 2020 é que podemos dizer muita coisa sem uma única palavra. Dois dos participantes nesta conferência foram meus professores na ESCS e como todos grandes mestres ensinaram não só a matéria mas uma «nova» forma de ver a vida. Não são só os diplomas e as noitadas que trazemos da vida de estudante. A pessoa que subiu pela primeira vez as escadas do monte (não vou dizer o nome que lhe dávamos pois pode ferir sensibilidades) não é a mesma que desceu as que iam dar ao parque de estacionamento, 4 anos depois.

O primeiro, uma das nossas grandes vozes da rádio, lembrou que o primeiro meio de comunicação que falou sobre a queda do avião onde seguia Sá Carneiro (eu não era nascida mas a minha tia conta que foi ao enterro do antigo primeiro-ministro e que a comoção era geral). A RTP só avançou esta notícia largos minutos depois e naquela mesma noite foi possível assistir a um concerto de música clássica. Deve ter sido uma daquelas obras que, segundo o miúdo, serve para fazer a banda sonora do fim do mundo. Mas isso foi nos anos 80, sem redes sociais com informações ao segundo e sem o «encher chouriços» que caracteriza as nossas televisões.

Já a correspondente da RTP em Espanha, Daniela Santiago, lembrou o trabalho que fez nos protestos na Catalunha e a erupção do vulcão em La Palma e a importância do contacto humano. As histórias são informação mas também são rostos de pessoas. Vemos a lava a ser expelida descontroladamente pelo vulcão e todos ficamos tocados, mesmo que onde viva não exista nenhum (aqui o problema seriam mesmo os terremotos).

Termino este artigo de opinião reforçando a importância de conhecermos a história, a pessoa, que está por detrás de um olhar, de uma imagem. Isto é importante tanto para fazer um jornalismo de proximidade como para sermos melhores.

 

Andreia Rodrigues

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