Portugal depois de António Costa

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Nesta volta (aos poucos) a normalidade e a vida somos apanhados por buscas matutinas ordenadas pelo MP a vários locais, incluindo a residência oficial de São Bento. Buscas em Portugal são uma constante e o presidente do constitucional lamentou, numa entrevista recente, a corrupção existente na política portuguesa. A verdade é que temos desde os pequenos aos grandes casos. São os chamados casos e casinhos.

Quem também ja reagiu a toda esta situação foi Augusto Santos Silva, que não acredita que as buscas do lítio, que levaram a demissão de António Costa, estejam na segunda categoria de casos.

Agora vamos ver se a «montanha não pariu um rato», como costuma acontecer nestes casos muito mediáticos. Onde habitualmente ninguém vai a julgamento, o mais recente exemplo é o do antigo ministro Cabrita que acabou por matar uma pessoa na auto-estrada e nem a tribunal vai. No caso do lítio foram presas pelo menos 4 pessoas, sendo duas delas amigos próximos de Costa.

Numa breve declaração ao país, Costa apresentou a sua demissão (algo que já tinha feito a Marcelo) e despediu-se dos portugueses e da política. Ainda não se sabe muito bem o que deve acontecer no futuro mas Costa deve manter -se como ministro em funções até novas eleições, que Ana Gomes acredita que devam acontecer em Janeiro (para não eclipsar as europeias). E assim uma maioria absoluta, algo que não é muito comum neste país, foi atirada pela janela. Desde que o governo foi apresentado já saíram 14 pessoas, a mais recente foi António Costa. Acredito que vá para casa e não tente nenhum «vôo internacional», mesmo tendo armazenado capital político para o fazer desde que tomou posse em 2015 e apresentou aos europeus mais uma inovação made in Portugal (como o bide), a Geringonça.

Agora que o «adeus» foi dito, o que Costa deixou aos portugueses? A verdade é que foi o homem das contas certas na economia e de algum crescimento num otimismo que Marcelo por vezes descrevia como «irritante». Foi também a figura que aumentou os apoios sociais, aguentou com o barco da COVID e das guerras sem deixar naufragar este veleiro que graças a sua amizade pessoal com Sánchez tem, ao longo dos anos, aumentado a cooperação Ibérica nas mais diferentes áreas, incluindo a desportiva com o Mundial 2030. Agora que falámos, por alto, dos aspectos positivos, vamos aos negativos. Portugal é um país maravilhoso para todos, menos para os portugueses que com os seus baixos ordenados não conseguem aguentar a atual bolha imobiliária, o SNS (uma das grandes conquistas de Abril está em colapso), não há professores nas escolas e os transportes públicos poderiam ser mais já que o governo de Costa diminuiu o preço dos mesmos. A nível pessoal, e afirmando que só posso falar sobre os governos de Portugal dos anos 2000 para cima, Costa foi (ao lado de Barroso) um dos que melhor desempenho teve. Ambos tiveram saídas incomuns, um foi para Bruxelas e o outro foi afastado por defender que o cargo que desempenha não deve ser sujo por acusações de cariz jurídico. Galamba foi um dos investigados, tal como Costa que no máximo é considerado suspeito e não arguido (figura jurídica muito portuguesa).

E depois de Costa? Sempre pensei que o Sánchez cairia primeiro que o português e que a Moncloa iria receber o duo Feijóo-Abascal mas podemos dizer que este é o perigo que Portugal enfrenta nas eleições que terá. Dos supostos herdeiros de Costa, aquele que vejo com mais possibilidades de ficar com o PS é Pedro Nuno Santos. O próprio Costa sabia que Santos queria o seu lugar mas acredito que nenhum dos dois pensasse que fosse tão cedo. Olhando para as características, são duas personalidades bastante distintas. Acho que PNS é mais parecido a Sócrates (o que pode não ser muito positivo) do que a Costa. No outro lado temos um Montenegro (com medo de Passos) que para chegar ao poder não deve ter pudor nenhum em associar-se ao Chega. Será esta a altura de temer? Será que vamos comemorar os 50 anos do 25 de Abril com a direita e a extrema-direita no poder?

Para mim o que vai acontecer em ambos os países ibéricos é que os socialistas de alguma forma ganham. Em Portugal não vejo PNS a juntar as esquerdas todas como Sánchez fez com Diaz mas a verdade é que nunca se sabe. Em relação às direitas, tanto o PP como o PSD, vejo os seus atuais líderes a caírem para a ascensão da «chica dorada» Ayuso e do «golden boy» Moedas. Depois daí falta-me a bola de cristal mas a verdade é que se seguem tempos bastante polarizados em ambas as capitais ibéricas. Só espero é que as relações não saiam tocadas desta situação.

Que a guerra política comece pois as verdadeiras (a da Ucrânia e no Médio Oriente) ficaram congeladas a nível mediático.

 

Andreia Rodrigues

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