Portugal não passou ao lado da Guerra Civil espanhola, participando nos dois lados da «barricada»

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Muitos são os portugueses que de uma forma ou de outra estiveram envolvidos na Guerra Civil de Espanha. Que aconteceu um pouco antes do trauma da II Guerra mundial instalar-se na Europa e com o outro vizinho ibérico, Portugal, a «braços» com o seu ditador pessoal, Salazar. Era um período que ficou para a história mas que nos deixou uma cultura de morte, de mudanças.

Já se passaram quase oitenta anos desde estes acontecimentos mas a verdade é que ainda existem cicatrizes que ainda não estão totalmente fechadas. Portugal apresentou-se como neutral tanto na Guerra Civil espanhola como na II Guerra mundial mas como sabemos nesta primeira guerra teve algo a dizer. Portugal esteve dividido entre prórepublicanos e prófranquistas. Existiram portugueses que ajudaram, pelo lado dos repúblicanos, a defender Madrid. Já outros foram enterrados no Valle dos Caídos por terem lutado do lado dos falangistas.

O embaixador republicano que chegou a estar em Lisboa, Claudio Sánchez-Albornoz, foi alvo de uma forte pressão (incluindo das autoridades portuguesas) para abandonarem este cargo. Nos arquivos da Fundação Francisco Franco é possível encontrar um memorando de uma reunião, que aconteceu a 19 de Maio de 1965, entre as cúpulas da PIDE e da DGES espanhola. Esta foi uma reunião secreta que aconteceu pouco depois da morte de Humberto Delgado, que chegou a ser o principal oposutor ao regime de Salazar, e que foi assassinado em Espanha. O estado português na altura apressou-se a ilibar as duas polícias de qualquer tipo de participação neste ato. O que teria sido de Portugal caso Humberto Delgado não tivesse sido assassinado?

Grupos saídos de Portugal lutaram tanto pelos republicanos tal como pelos falangistas de Franco. De Almeirim, concelho onde podemos encontrar a quinta de Alorna (que leva o nome de uma das principais mulheres da história de Portugal e que serviu como professora para a rainha Carlota Joaquina, partiu, no Natal de 1936, um comboio de apoio militar português que seguiu em direção a Madrid. Os veículos levavam géneros alimentares diversos, que começavam a faltar numa Espanha que estava a ser dilacerada pela guerra. Neste lado da Raia as coisas também não estavam boas por causa dos maus anos agrícolas e da falta de trabalho. Mesmo havendo cada vez mais pobres, a «luta» entre a esquerda e a direita nos meios de comunicação (rádio e jornais) tinha como principal foco o que acontecia no outro lado. O apoio às tropas de Franco era descrito nos meios de comunicação, como era o caso da Rádio Clube Português (que atualmente tem a sua sede em Newark, Estados Unidos, e emite para a diáspora portuguesa naquele país), como uma «guerra santa» ao estilo das dos Templários. Devido a este apoio, não só esta rádio mas o próprio Salazar foram alvos de um atentado a bomba levado a cabo pelo anarquista Emídio Santana, que tinham ligações aos repúblicanos. Jaime Cortesão (que dá o nome a rua onde vivo) é apenas um dos portugueses antifascista que viveu numa Espanha que estava a mudar.

O governo Salazarista também facilitou o trânsito de combatentes (alguns de uma legião ligada ao III Reich) e prestou serviços diplomáticos ao governo de Franco quando este precisou. Portugal chegou a funcionar como uma retaguarda logística dos nacionalistas. Parte destes materiais chegava a Espanha e às tropas de Franco através da fronteira de Elvas. Nas tropas de Franco chegou a haver, pelo menos é o que a «lenda» diz, uma divisão chamada de «Viriatos».

A Guerra Civil espanhola também teve repercussões em Portugal. Aliás, foi aqui, no Estoril que morreu Sanjurjo, o homem que comandava o levantamento antes de Francisco Franco tomar as rédeas do poder. A ligação entre Salazar e Franco era nítida mas hoje em dia conhecemos a vontade deste último (ao lado de Hitler) para anexar Portugal.

Já com a instauração do regime Franquista muitos dos que eram contra ou eram perseguidos pelos seus ideais deram o salto para este lado (os portugueses faziam o mesmo mas especialmente para contrabandear produtos variados) e muitos foram recebidos pelas populações das aldeias raianas. Em Chaves, mais precisamente na aldeia do Cambedo, foi inaugurado um memorial que pretende lembrar a solidariedade daquela pequena comunidade que ao longo da década de 30 e 40 recebeu vários fugitivos. A fronteira portuguesa era guardada por forças montadas da GNR, que entregavam os refugiados republicanos à tropas «nacionais». Barrancos foi outra terra de refugiados espanhóis naquele período. Já existiram conferências sobre o papel das várias localidades raianas no apoio aos refugiados não só da Guerra Civil mas que também fugiam da ditadura Franquista.

Aqui ficam algumas histórias sobre a participação portuguesa em ambos os lados que estiveram envolvidos na Guerra Civil espanhola.