A 5 de Outubro, feriado que comemora a implantação da república, o Panteão Nacional vai receber mais um túmulo. Depois de Eusébio, Amália Rodrigues ou Humberto Delgado, Aristides de Sousa Mendes será a próxima figura nacional a ganhar honras de Panteão com um túmulo sem corpo (este irá continuar na sua terra natal, Carregal do Sal). A recomendação para esta homenagem surgiu pela deputada não inscrita Joacine Katar Moreira.
Antes desta cerimónia de concessão de honras de Panteão Nacional (local onde «descansam» alguns dos maiores nomes da história lusa), a Assembleia da República vai relembrar, a 19 de Julho, o 136.º aniversário do nascimento do antigo cônsul em Bordéus e que antes de chegar ao território gaulês passou pelo Brasil, Zanzibar e Espanha. Aristides, que é considerado pelo Yad Vashem como um «Justo entre as Nações», morreu na miséria por ter ido contra as ordens de Salazar e a sua figura foi só recuperada por Mário Soares, que entregou a título póstumo a Ordem da Liberdade, a Grã-Cruz da Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo e uma indemnização no valor de 750 mil Escudos foi entregue a família.
Os vistos que salvaram vidas e mudaram histórias
Na década de 40 do século XX, o continente europeu estava mergulhado numa guerra devastadora, exceptuando Portugal. O país, que era neutral neste conflito, tinha em Bordéus (França) um cônsul que ficou para a história por ter desobedecido às ordens do então presidente do conselho, António de Oliveira Salazar, e emitido salvos-condutos que permitiram salvar a vida a trinta mil refugiados judeus e cidadãos dos países aliados que ficaram presos no território francês e assim conseguiram atravessar os Pirenéus, chegar a Lisboa e da capital portuguesa fugir para os Estados Unidos (e não só). Uma das figuras públicas que obteve um visto passado por Aristides de Sousa Mendes foi o pintor espanhol Salvador Dali e a sua esposa Gala. O fervilhar em que Lisboa estava envolvida, já que pelas suas ruas passeavam membros da nobreza e espiões, inspirou na criação de James Bond.
Depois de conseguirem os vistos passados pelo cônsul, muitos dos fugitivos chegaram a Portugal de comboio através da fronteira de Vilar Formoso. Todos os refugiados que passaram por esta localidade lembram a localidade como simpática e a sua população, que os recebeu com panelas de pão e alojamento, como acolhedora. Para relembrar o que aconteceu há mais de sete décadas, o Município de Almeida criou o Museu «Vilar Formoso Fronteira da Paz, Memorial aos Refugiados e ao Cônsul Aristides de Sousa Mendes». Este museu, que foi inaugurado pelo presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, encontra-se em dois armazéns na estação de caminhos-de-ferro.