«Derivas invisibles» leva o público a questionar-se sobre o perigo das redes de pesca

Coletivo Basurama mostra que tudo é arte e que esta pode ser um meio de conscientização social

Comparte el artículo:

Os jardins do Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (MATT) vão receber até ao dia 17 de setembro a instalação Derivas invisibles. Responsabilidade do coletivo Basurama, criado em 2001 em Madrid, este trabalho levanta uma reflexão sobre a quantidade de materiais que poluem os mares. Aproveitámos a ocasião para falar com a artista responsável por esta instalação temporária, Nerea Sanz.

«Derivas invisibles tenta refletir sobre todos os resíduos marítimos que estão espalhados pelo mundo. Neste caso são redes de pesca que foram abandonadas, perdidas e que trazem muitos problemas. Não só de contaminação, mas também para as tartarugas e um vasto conjunto de animais que acaba por ficar preso nelas. As pessoas normalmente associação a contaminação marítima ao plástico, mas as redes de pesca também são um problema», é desta forma que Sanz descreve a instalação agora apresentada.

Esta poluição em excesso coloca em causa peixes, aves e o ser humano (que acaba por ingerir microplásticos). 85% destes resíduos abandonados são redes de pesca e uma delas está exposta em Belém, bem perto do Tejo e da malha urbana. É perto do rio, vendo os barcos a navegarem tranquilamente, que o público é levado a questionar-se sobre o estado dos nossos mares.

«Tínhamos feito já cá um trabalho há muitos anos, mas esta é a primeira instalação que fazemos em Portugal deste género», contou sobre o trabalho que agora apresenta. Na Grande Ilha de Lixo do Pacífico, estima-se que as redes de pesca constituam 46% do total de 79 mil toneladas de plástico. Um quarto do peixe que comemos chega ao nosso prato através da pesca fantasma.

A pesca fantasma e como esta afeta o oceano

Este tipo de pesca, bastante lucrativa (um em cada cinco peixes são oriundos desta atividade criminosa), é perigosa pois os equipamentos são escondidos e abandonados no mar. Esta armadilha de pesca ilegal já aprisionou vários detritos e chega a Lisboa poucos dias antes do arranque da Conferencia dos Oceanos. «Queríamos fazer algo nessa linha dos oceanos e da contaminação que é cada vez maior. Usamos materiais locais, resíduos locais». Chamar à atenção para o que se passa nos mares é um dos grandes objetivos do coletivo com esta instalação.

O coletivo foca a sua produção cultural no papel do lixo e como este pode ser reutilizado em vários formatos, tanto artísticos como sociais. «Podemos dar uma segunda vida a quase tudo. É mais barato, há em muita quantidade e é fácil de se conseguir. Depende dos materiais, mas permite fazer muitas coisas», explica sobre como é trabalhar com lixo. O grupo espanhol, que pretende mudar a forma como vemos todo o tipo de materiais, tem trabalhos expostos em várias cidades na Europa e no continente americano.

Roma, Filadélfia e agora Lisboa são algumas das cidades que já receberam criações deste grupo. Este projeto, criado na Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Madrid (ETSAM), tem uma vertente colaborativa onde trabalham com colégios na reconversão dos pátios de cimento usando resíduos. O mais recente trabalho do coletivo Basurama, Derivas invisibles, pode ser visto nos jardins do MAAT até ao dia 17 de setembro. Esta iniciativa conta com o apoio da Embaixada de Espanha em Portugal.

Noticias Relacionadas