Diretor da Casa do Brasil em Madrid: “Somos todos de origem latino, nossa formação é portuguesa e espanhola”

EL TRAPEZIO entrevista a Cássio Romano, diretor da Casa do Brasil em Madrid, onde estudam português 800 alunos

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Damos um passeio pela Casa do Brasil em Madrid para entrevistar seu diretor, Cássio Romano, que em uma agradável conversa nos contou tudo sobre esse icônico centro cultural e colégio mayor em Madri, com quase 60 anos de existência coleciona muitas histórias na divulgação da cultura brasileira na Espanha.

Qual é a história da Casa do Brasil em Madri?

A criação da Casa do Brasil foi pensada em uma visita do presidente Juscelino Kubitschek, que esteve na Espanha no ano de 1959, na época existia um núcleo de alunos brasileiros no colégio Guadalupe, que era aqui ao lado e fazia parte do Instituto de Cooperação Ibero-americana. Nessa visita de Juscelino o governo espanhol ofereceu ao Brasil a oportunidade de criar o Colégio Maior Brasileiro.

Nessa época estava sendo criada a nossa capital Brasília, então houve uma troca de terrenos entre o governo espanhol e o governo brasileiro, no qual o governo brasileiro ofereceu o terreno da atual embaixada da Espanha em Brasília e o governo espanhol ofereceu esse terreno para a construção do Colégio Maior na cidade universitária. Essa é a origem da casa, em 1959 a doação do terreno e no ano 1962, quando a obra já estava finalizada, foi o nosso primeiro ano de atividades, no ano que vem vamos fazer 60 anos de atividades aqui em Madri.

Quais são seus objetivos e atividades principais?

Podemos dividir a casa em quatro bases, por um lado como Colégio Maior, é uma residência de estudantes, temos alunos alojados para fazerem suas atividades, essa é realmente a principal atividade da casa, de servir como base, alojamento para estudantes que venham fazer seu curso, em qualquer área tanto da Universidade Complutense, como da Politécnica, UNED ou outra universidade espanhola aqui em Madrid.

Por outro lado, existe a parte de difusão cultural, temos exposições de pintura, ciclos de conferencias, apresentações de livros. Ultimamente realizamos menos atividades culturais pela questão do Covid, basicamente para não reunir muita gente, como é normal nessa época. A outra parte é o ensino de idiomas, temos o ensino de português para estrangeiros, as pessoas vêm para aprender português como língua estrangeira. Por último, temos a Câmara de Comercio Brasil-Espanha, a cede é aqui, com o objetivo de melhorar ou facilitar o intercâmbio comercial entre os dois países.

Atualmente como está a procura para estudar português na Casa do Brasil? Qual é a importância do aprendizado do idioma no contexto atual?

Tivemos no ano passado aproximadamente 800 alunos e esse ano de 2021 acredito que será o mesmo número. Existe uma procura importante porque eu diria que o português no mundo ocidental seria terceiro o idioma mais falado, depois do inglês e do próprio espanhol. Além do mais sempre existe uma procura econômica de empresas estrangeras que investem no Brasil, o idioma é fundamental. Nós graças a Deus estamos funcionando relativamente bem, houve momentos que tivemos mais alunos, chegamos a ter mais de 2.000 alunos.

Outra vantagem é que o português é um idioma europeu, temos alguns alunos interessados em concursos para a União Europeia e nesse ponto tanto faz falar português como outro idioma, é interessante para os espanhóis porque já tem a facilidade da proximidade com o português.

Em sua opinião, quais são as semelhanças que unem Brasil e Espanha? E o que faltaria para fortalecer as relações entre ambos países?

Somos todos de origem latino, nossa formação é portuguesa e espanhola, inclusive o Brasil chegou a ser colônia da Espanha pela União do reino de Espanha e Portugal, nós temos uma grande facilidade de comunicar com a Espanha, não existe uma barreira de formação.

Além do mais, nos dois países existe uma imigração importante, o Brasil conta com uma colônia espanhola significativa principalmente na Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo. Estima-se que aproximadamente 200 mil espanhóis moram lá, espanhóis não de origem espanhola.

Aqui na Espanha moram aproximadamente 100 mil brasileiros, isso facilita a integração dos dois países. O que falta? Acho que não falta nada, a gente tem na nossa cultura muito da gastronomia espanhola, o espanhol gosta muito do brasileiro e isso ajuda bastante.

Qual é a importância e contribuição da comunidade brasileira na Espanha?

Acredito que a comunidade brasileira é muito permeável, como existe uma facilidade cultural entre os países o brasileiro se integra perfeitamente na cultura espanhola, temos um número importante de brasileiros, mais ou menos 100 mil, mas que não tem uma grande necessidade de criar associações para manter sua cultura porque a cultura é integrada com a espanhola.

Os brasileiros você tem de várias classes sociais, líderes de informação, desde um diretor geral de uma telefónica, que é brasileiro até uma pessoa que está trabalhando na construção civil, temos brasileiros praticamente em todos os ramos da sociedade espanhola.

Muitos espanhóis têm interesse pela cultura brasileira. Segundo uma pesquisa da BBC, a Espanha tem uma percepção positiva do Brasil. O senhor acredita que as manifestações culturais do Brasil na Espanha, está em una fase expansiva?

Nesse momento, toda essa questão cultural está sofrendo muito com a pandemia, não só a brasileira, não tem oportunidade de criar eventos culturais, porque as ofertas apresentadas não se podem fazer para evitar aglomeração, ainda está insipiente, mas, sempre tem agora no Matadeiro de Madrid o Brasil é o país convidado com apresentações de música, venda de produtos brasileiros. Neste momento histórico, cada vez mais as mobilidades vão reduzindo.

Na qualidade de empresário, que conselhos daria as empresas espanholas que desejam investir no Brasil?

Nessa parte é muito importante conhecer a legislação, os espanhóis não estão acostumados com nossa legislação do ponto de vista de comércio, de criação de empresa. Na União Europeia existe uma estrutura legislativa que é muito comum, se você abrir uma empresa na Espanha, na França ou na Itália, em qualquer um desses países, existe um marco europeu que facilita sua criação, se você vai para o Brasil tem que conhecer a legislação. Um conselho que eu dou sempre é que procurem um bom escritório de advocacia que lhe possa ajudar, para não cometer erros pelo puro desconhecimento da legislação.

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