O auditório da fundação Champalimaud, espaço abraçado pelo rio Tejo, recebeu um fórum luso-espanhol com o tema O espaço ibérico conectado para acelerar a descarbonização. Todos os participantes neste fórum, organizado pela Fundación Corell e pela Repsol, defenderam o potencial do espaço ibérico para a descarbonização.
Esta sessão promoveu um debate, que contou com a presença de empresários e políticos, que abordou os vários pontos da transição energética. Antonio Brufau, presidente da Repsol, iniciou esta manhã defendendo a «necessidade de um espaço energético ibérico ligado com o resto da Europa». Portugal e Espanha estão unidas por uma história, geografia (como é o caso dos rios que compartilhamos, o Douro e o Tejo) e culturas comuns. Agora, Portugal e Espanha pretendem transformar-se em referentes energéticos na Europa. Para que Portugal e Espanha sejam países exportadores de energias renováveis deve-se dar o salto com novas politicas e estratégias. A aposta na produção de carregadores é vista como essencial.
Um continente que funciona a várias velocidades. A península ibérica pretende estar na cabeça deste grupo. Esquecer a concorrência e apostar na cooperação. Uma transição energética sustentável só pode ser alcançada com uma transição industrial e melhores interligações não só energéticas mas também logísticas (como é o caso da ferrovia, especialmente a alta velocidade). Em Espanha, 40% da energia consumida é produzida através de fontes renováveis. No caso português falamos de 60%, o que na sua grande maioria acontece devido a componente hídrica.
O crescimento das exportações hispano-portuguesas exige uma melhoria substancial das ligações terrestres. Os portos ibéricos, como é o caso de Sines (que serve parte da Extremadura espanhola) podem ter uma maior importância para o resto da Europa se forem servidos por boas conexões. Mesmo com uma melhoria nestas ligações, a aviação vai sempre assumir um papel muito importante para o país mais ocidental da Europa.
«Faremos melhor se o fizermos juntos»
Armindo Monteiro, da CIP (um dos organizadores deste evento), concordou com Brufau quando este disse que «faremos melhor se o fizermos juntos». Só que sem esquecer que a transição energética não pode ser alcançada esquecendo os pilares social e económico. No discurso proferido pelo presidente da autarquia lisboeta, Carlos Moedas, este salientou que «Portugal e Espanha podem e devem ser os líderes na transição energética». Para alcançarmos a neutralidade carbónica a ciência diz que deve haver uma redução para metade a cada década até que possamos dizer que conseguimos uma transição energética sustentável. Para tal é preciso tempo. É necessário fazer, amanhã, algo de novo com a tecnologia que temos actualmente.
Até 2030, as duas capitais ibéricas pretendem atingir a neutralidade carbónica. Moedas também lembrou a jangada de pedra de Saramago, que ainda continua quando falamos de ligações energéticas com o resto da Europa, e reforçou que a transição energética é a nossa grande vantagem e podemos fazer a diferença no continente.
O presidente da Petronor, Emiliano López Atxurra, defendeu a transição, que não deve ser vista como uma ideologia, como uma «oportunidade de desenvolvimento tecnológico e reindustrialização da península ibérica». Durante a manhã foram realizadas duas mesas de debate. Na primeira, onde participaram os presidentes da ANTRAM ou o do Porto de Lisboa e de Setúbal, analisaram-se as oportunidades que a transição energética traz para o crescimento industrial. Rafael Bardillo, presidente da Confebus, defendeu que não se pode fazer uma transição energética sem recorrer a todas as tecnologias disponíveis.
Marcos Basante, da fundación Corell, lembrou a importância do transporte de mercadorias por estrada para o desenvolvimento comercial em Portugal e em Espanha. Na segunda mesa da manhã, que contou com a presença do vice-presidente da Associação Portuguesa para a Promoção de Hidrogénio e do director-geral da Mercedes Benz Trucks, discutiu-se sobre as possibilidades que o território ibérico tem para se converter numa nova potência energética europeia.
No encerramento do evento, o ministro do Ambiente e da Acção Climática, Duarte Cordeiro, sublinhou a responsabilidade que temos de fazer mais e melhor «tendo em conta os recursos naturais que temos, felizmente, na nossa península ibérica». Portugal é visto, na Europa, como um exemplo no cumprimentos dos objectivos da sustentabilidade e, neste quesito, Espanha está a frente da Alemanha ou da França. Portugal é um dos países europeus mais expostos ás alterações climáticas (perdemos 13% da nossa costa devido a erosão).