“Esta feira será o início de uma estreita colaboração entre o artesanato, o design, a inovação e as técnicas artesãs entre ambos os territórios”. É assim que Luis Ruiz Cruz, do Cabildo Insular de Tenerife, resume esta sétima edição da Feira Tricontinental de Artesanato, dedicada à arte manual portuguesa. Desde este sábado (26) e até ao próximo domingo, o Recinto Ferial, em Santa Cruz de Tenerife, acolhe a exposição com mais de 200 stands, entre os quais os de 30 artesãos lusos das mais variadas localidades de Norte ao Sul, incluindo as ilhas.
Apesar da relação entre os artesanatos canário e português ser recente, a organização explica a importância do vínculo cultural entre os dois territórios. “As Ilhas Canárias, e Tenerife em particular, têm uma rica influência portuguesa que nos propusemos restabelecer, reforçar e ligar muito mais estreitamente ao continente, à Madeira e aos Açores”, salientando ainda que, “nos últimos anos, fizemos progressos neste sentido, mas ainda há um longo caminho a percorrer”.
Para esse efeito, reúnem-se no certame representantes do artesanato americano, africano e europeu, com uma forte presença dos países ibero-americanos e da África iberófona (Cabo Verde, Guiné-Bissau, entre outros) que ajudam a completar a diversidade desta relação que, mais do que bilateral, é intercontinental. Da tradição artesã portuguesa, estão em destaque a “cerâmica e azulejos, que decoram as fachadas principais, tapetes e tapeçarias, marroquinaria, bordados e esculturas em madeira”, como se pode ler na apresentação online do evento.
Uma mostra que começou a ser preparada bem antes da inauguração. “Em julho, uma delegação do Cabildo Insular de Tenerife deslocou-se a Lisboa para apresentar esta Feira à Câmara Municipal de Lisboa. Foram também realizadas reuniões com a Federação Portuguesa de Artes e Ofícios e representantes do artesanato da Madeira e dos Açores”, refere a organização, que realizou outras reuniões e visitas, por exemplo, à Feira Internacional de Artesanato (FIA) de Lisboa, ao Museu de Artes Decorativas Portuguesas e ao Museu do Azulejo. “Tivemos ainda uma reunião com o diretor do CEARTE [Centro de Estudo e Apoio ao Artesanato, Coimbra] com o objetivo de criar sinergias entre este centro de formação profissional do artesanato e as escolas da ilha de Tenerife”, acrescenta Ruiz Cruz, que antecipa o trabalho conjunto em programas de inovação artesã.
“Todas as ações perdurarão no tempo”, garante, esperando alcançar algo que já acontece, por exemplo, com a moda e a música. “Participamos ativamente na semana da moda portuguesa e estilistas do calibre de João Rolo, com quem temos uma grande amizade, já desfilaram aqui”. Além disso, no Festival de Fado que se realiza anualmente nas ilhas Canárias, “os melhores artistas de Portugal vêm para esgotar os bilhetes”, sublinha.
É precisamente o fado que protagoniza algumas das atividades paralelas à exposição também dedicadas a Portugal. Este ano, as fadistas Ana Margarida Prado e Beatriz Felício atuaram no Teatro Leal, respetivamente, nos dias 10 e 25 deste mês, explorando novas direções musicais a partir do género tradicional. Ainda durante a exposição, haverá mais uma atuação musical com José Felix, Laberintos de Fado, às 13 horas do próximo sábado.
Ações que ajudam a aproximar dois territórios periféricos em contextos diferentes. “Os voos diretos para Lisboa, Porto e para os arquipélagos de Cabo Verde e da Madeira tornaram-nos muito mais próximos. O facto de [as Canárias] ser uma região ultraperiférica torna-se, neste caso, um ponto forte”, destaca ainda Luis Ruiz Cruz, que afirma a necessidade de “trabalhar, aprender e construir ações” entre Portugal, Canárias e Tenerife. “Realmente, em distância, estamos mais próximos de Lisboa que de Madrid”, lembra positivamente, já que ir a Portugal, admite, “enche-nos sempre de energia”.
A Feira Tricontinental de Artesanato é uma iniciativa do Cabildo [Conselho] Insular de Tenerife e da empresa insular de artesanato Artenerife, com o apoio do Recinto Ferial. Para além das atividades complementares mencionadas, esta edição contemplou também um ciclo de cinema português no Espacio Cultural CajaCanarias, com três projeções em versão original legendada nos dias 30 de setembro e 21 e 28 de outubro, bem como um programa de percursos monográficos sobre os vestígios deixados pelos portugueses na ilha, concretamente em La Laguna e La Orotava, nos dias 10, 18 e 25.