Paulina Chiziane, a galardoada com o Prémio Camões que aprendeu português na escola

Chiziane é a primeira mulher moçambicana a receber o galardão que distingue o maior escritor de língua portuguesa

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Paulina Chiziane é a vencedora da edição de 2021 do Prémio Camões, que reconhece o maior escritor de língua portuguesa. Esta foi uma escolha feita por unanimidade e anunciada pela ministra da cultura, Graça Fonseca. O primeiro vencedor deste prémio foi, em 1989, o escritor português Miguel Torga.

A moçambicana é a primeira mulher africana a ser distinguida e sobre este reconhecimento declarou que não se «lembrava que o prémio existia». Emocionada, a escritora demonstrou-se surpreendida pois «achei que o meu português não merecia tão alto patamar».

Este prémio demonstra a qualidade da vasta carreira da moçambicana. Paulina Chiziane dedicou esta distinção a todas as mulheres, que devem despertar para o poder que têm. Paulina Chiziane, escritora moçambicana de 66 anos que vive na Zambézia, ao longo da sua carreira já havia sido galardoada com o Prémio José Craveirinha de Literatura. Chiziane é conhecida junto das camadas mais jovens por fazer pontes entre a literatura e outras artes.

Paulina Chiziane, a voz feminina de Moçambique

A vencedora do Prémio Camões deste ano aprendeu português apenas na escola de uma missão católica e na sua juventude teve um papel político activo na Frelimo, um dos principais partidos políticos de Moçambique. Após a independência, Chiziane decidiu abandonar o palco político em parte devido a pouca liberdade das mulheres.

Esta pioneira mulher foi a primeira a publicar um romance no país africano. «Quando eu comecei a escrever, ninguém acreditava naquilo que eu fazia. Porque eram escritos de mulher», contou a imprensa Paulina Chiziane. Ao longo da sua carreira literária, iniciada em 1984, os seus textos têm gerado discussão pois abordam vários assuntos sociais e um deles, a poligamia que existe no sul do país durante o período colonial, tem feito o público pensar. As suas obras estão traduzidas em inúmeros idiomas e é uma das vozes da ficção africana mais conhecidas a nível internacional.

Uma Moçambique devastada pela guerra da libertação e os conflitos civis que têm acontecido após a independência são os temas abordados em livros como Balada de Amor ao Vento, Ventos do Apocalipse, Sétimo Juramento, As Andorinhas ou Niketche: Uma História de Poligamia. Cansada de lutas, em 2016 a galardoada com o Prémio Camões anúncio que ia aposentar a caneta. Ainda este ano, em conjunto com Dionísio Bahule, publicaram o livro A voz do cárcere. Nesta obra falaram com reclusos. Também de 2021 é o documentário Paulina Chiziane: do mar que nos separa à ponte que nos une, que aborda a carreira e a vida desta escritora moçambicana.

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