Turismo de Portugal aposta na literatura para atrair visitantes e desenvolver interior

Lisboa quer reforçar relação entre as línguas portuguesa e espanhola

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Falando na Feira do Livro de Buenos Aires, em que Lisboa é a cidade convidada de honra, Lídia Monteiro disse que continua a crescer a procura de Portugal como destino de turismo, e que no ano passado o país «recuperou tudo o que perdeu na pandemia». Assinalando que há um cada vez maior interesse em visitar o país a partir daquilo que foi a vida dos escritores nacionais ou a partir de livros que têm Portugal como personagem, de que são exemplo alguns livros de José Saramago, como «Viagem a Portugal» ou «A viagem do elefante», Lídia Monteiro afirmou que o turismo está a explorar esse caminho. «Em Portugal, estamos a desenvolver o que tem um potencial imenso: o turismo literário, ou seja, visitar o país com o olhar dos escritores, ou inspirado pelas vidas dos escritores. Desenvolver propostas para que as pessoas possam visitar o país a partir da literatura».

A responsável do Turismo de Portugal disse que há mais de 25 casas de escritores, cada uma com uma história diferente e deu como exemplo a Casa Fernando Pessoa, em Lisboa, que não só tem «objetos intemporais» do poeta, como tem uma programação para conhecer a vida e obra do autor. A este propósito referiu ser «muito importante estas casas terem programação e uma narrativa expositiva», como acontece também com a Fundação Saramago, considerando que isto deve ser desenvolvido em todo o país.

Além disso, salientou como o turismo literário «permite levar os turistas a várias partes do país, e não só à capital, e a desenvolvê-los». «Muitos autores não nasceram em Lisboa, mas em pequenas povoações. Isso permite que pequenos negócios cresçam à volta destas casas». Como exemplo referiu Eça de Queirós, que tinha em Baião, no Douro, uma casa onde passava férias, e Miguel Torga, que nasceu e viveu em Sabrosa, onde existem dois espaços: um centro interpretativo, cujo projeto é do arquiteto Souto de Moura, e a reconstrução da casa de família. Lídia Monteiro disse ainda que o Turismo de Portugal começou há três anos a ministrar um curso de turismo literário para profissionais, um curso ‘online’ que começou na pandemia, e que «há cada vez mais pessoas interessadas em fazer este curso».

Lisboa quer reforçar relação entre as línguas portuguesa e espanhola

Carlos Moedas visitou a Feira do Livro de Buenos Aires, que tem este ano Lisboa como cidade convidada de honra. Falando com os jornalistas, o autarca afirmou que a cultura e a literatura portuguesa têm aqui «um canal direto para a América Latina». «Muitos dos nossos autores eram traduzidos primeiro em espanhol, iam para Espanha e depois é que vinham para cá. Aqui criámos uma linha direta muito importante com a América Latina de língua espanhola, na nossa língua e nos nossos autores», afirmou.

Para Carlos Moedas, que salientou o esforço da câmara para levar até Buenos Aires uma diversidade de autores e artistas que «representam não só a cultura de Lisboa, mas a cultura e literatura portuguesas», a «conexão entre a cultura portuguesa e argentina é importantíssima». Para o responsável, isso é visível não só na literatura, mas também nos eventos dinamizados no certame, como é o caso de uma exposição de Saramago, um documentário de Manuel Mozos sobre Sophia Mello Breyner ou o jardim que vi ser inaugurado com o nome e a placa de Fernando Pessoa.

«Luto muito para que a língua portuguesa esteja sempre representada. Nas cidades ibero-americanas este ano, a meu pedido, e conseguimos fazê-lo, a língua oficial é o português e, portanto, temos uma ligação muito forte da disseminação da nossa língua, que é sempre difícil no mundo espanhol», afirmou. Sobre a possibilidade de instituir futuramente na Feira do Livro de Lisboa o conceito de ter uma cidade convidada, Carlos Moedas não destacou a hipótese, considerando que o país tem muito a ganhar nesse intercâmbio de ideias, de ter países ou cidades convidadas em Lisboa.

Do mesmo modo, defendeu que a feira em Lisboa teria a ganhar, se passasse a disponibilizar esta mistura que há na feira de Buenos Aires entre a arte, a literatura e a música, e se não fosse apenas centrada no recinto. «O que trouxemos de valor acrescentado a esta feira do livro foi que as atividades que estamos a ter não são só dentro da feira, e isso é trazer a feira para a cidade, portanto acho que há muito intercâmbio, muito que se pode fazer de contactos entre a Feira do Livro de Lisboa e esta feira de Buenos Aires», acrescentou.

Sobre o que espera que resulte da participação de Lisboa nesta feira, o autarca respondeu: seria importante que ficasse para o futuro «esta relação com Buenos Aires e esta relação entre os nossos autores, porque muitos dos nossos autores não têm oportunidade de ser traduzidos, e de um dia para o outro muitos destes jovens que vêm aqui vão passar a ser traduzidos em espanhol, na Argentina». Destacando que isso «é uma grande oportunidade», tanto para autores portugueses como argentinos, Carlos Moedas sublinhou que também trabalha «para aqueles que são os argentinos e que querem estar em Lisboa».

«Tivemos ontem uma reunião com o Ministério dos Negócios Estrangeiros, onde estivemos a ver o que é que podemos fazer» nesse sentido, afirmou, adiantando que a autarquia quer «tentar ajudar» autores argentinos a serem traduzidos para português e a estarem em Lisboa. Sobre a relação entre as duas línguas, e sobre o facto de haver na Argentina muitos falantes de português, o presidente da câmara destacou que tal resulta da relação que existe entre a Argentina o Brasil.

Entre estes dois países há «uma relação de equilíbrio de língua, diferente daquela que temos entre Portugal e Espanha. É pena que não a vejamos entre Portugal e Espanha, portanto, temos que trabalhar mais nesse sentido», assinalou. Lembrando as dificuldades económicas que a Argentina atravessa, Carlos Moedas apontou o facto de os livros vendidos no ‘stand’ de Lisboa serem mais baratos do que nos outros pavilhões, e deu como exemplo «O Livro do Desassossego», de Fernando Pessoa, que tem uma diferença de preço de dez euros, salientando que a autarquia fez «um esforço enorme para que isso acontecesse».

Relativamente ao destino a dar aos livros que não se venderem na feira, a Câmara de Lisboa confirmou que serão doados a bibliotecas argentinas.

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