O relógio está em contagem regressiva e no fim deste mês a cidade de Lisboa vai receber uma enchente. Desta vez não será de turistas, já que estes coitados estão a aturar o inferno em que o aeroporto se tornou. O caminho azul vai levar António Guterres, Boris Johnson e o ator Jason Momoa até a capital portuguesa para discutirem a importância que os oceanos têm nas nossas vidas. Cada vez faz mais lógica a associação entre a água e a vida. Este evento, das Nações Unidas, pretende discutir uma das questões mais importantes da nossa sociedade.
O planeta terra é composta por 71% de água e, só em Portugal, a economia do mar emprega 140 mil pessoas. Esta economia representa 5,1% do PIB lusitano. No discurso que marcou o 10 de junho, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lembrou o povo que se fez no mar e que dele tirou as suas riquezas. Isto sem falar do mundo ligado por esta auto-estrada azul. Um espelho que sempre nos encantou, isto desde o início dos tempos, e ainda é bastante desconhecido.
Se o mar marcou o nosso passado, ele também tem uma grande importância no nosso presente pois é dele que vivemos (o verão em Sesimbra é sinónimo de peixe assado) e retiramos a nossa riqueza. Muitos são os projetos económicos ligados a costa portuguesa. Portugal tem uma das maiores Zonas Económicas Exclusivas da Europa (ZEE) e é abundante em recursos marinhos. No governo de Sócrates chegou-se a falar sobre um alargamento desta zona até um território onde, entre outras coisas, seria possível encontrar combustíveis fósseis. Mais uma invenção do antigo primeiro-ministro. A economia marítima está entre os sectores-chave para o desenvolvimento do país.
O nosso futuro azul é colocado em causa devido a erosão da orla costeira, aumento do nível das águas e a poluição generalizada. Nos últimos 9 anos, o mar retirou 100 hectares a orla costeira de Portugal. Não muito longe da minha casa, na Costa da Caparica, retroescavadoras tiveram que colocar areia adicional na praia pois o mar bravio do inverno tinha engolido o furioso areal. Isto foi há alguns anos. Imaginem agora! O nível de poluição começa a atingir valores inimagináveis e atualmente existe uma ilha feita totalmente de plásticos.
Chegamos ao cúmulo de querer mergulhar nas nossas geladas águas (qual Antárctida qual carapuça!) e ter que nos desviar de caixas de ovos, bolachas e até tomates. Uma coisa é comer na praia, mas outra totalmente diferente é querer cozinhar no mar. Isto sem falar das descargas dos esgotos diretamente no mar, desastres ecológicos como o Prestige na Galiza e uma nova forma de poluição sentida nas ilhas Canárias e que mistura microplásticos e petróleo. Investigadores de São Francisco deram por este fenómeno mais ainda não conseguiram provar se o mesmo está circunscrito ao arquipélago espanhol ou pode ser sentido no resto do mundo.
Todos os territórios que fizeram parte do antigo império português são marítimos ou ribeirinhos e como tal a escolha de Portugal para receber a futura Conferencia dos Oceanos parece ser a ideal. Só que em todos os encontros, sejam eles ligados a natureza ou a defesa (a NATO vai reunir-se em Madrid), corremos sempre o risco de falar demais e agir pouco. Muito temos falado sobre a necessidade de lutar contra as alterações climáticas. António Guterres e a Greta Thunberg (por onde ela anda) tem sido vozes importantes no pedido de uma maior consciência climatérica.
A Europa pretendia/pretende ser um continente verde até 2050, mas, entretanto, o jogo virou. A geopolítica, tal como a própria vida, é um jogo de xadrez e nós (o público) somos simples peças. Os grandes mestres, como na série O Gambito da Rainha, são homens como Vladimir Putin (haverá uma representação russa nesta conferencia) ou Joe Biden. O atual conflito está a fazer com que se fale sobre a dependência dos combustíveis, mas a possibilidade levantada por Portugal, e que passará por Sines, baseia-se em barcos carregados de GNL. Só que esta ideia está longe de ser a mais verde e amiga do ambiente. Será que as energias renováveis neste tempo de guerra vão ser deixadas de lado?
Tal como disse o presidente da Junta da Extremadura, Fernández Vara, numa recente visita com um conjunto de empresários a Portugal, esta é a década mais importante das nossas vidas e não é só por causa dos abundantes fundos que vão ficar disponíveis para os investidores ou pelas mudanças constantes que se tornam complicadas de acompanhar. Esta é a altura de decidir o que queremos.
O caminho é só um, mas existem duas vias que podem ser tomadas. Temos que saber se pretendemos seguir por um caminho azul/verde ou continuar na atual senda onde só podemos viver um dia de cada vez. O mar está a mudar e temos que nos adaptar a estas mudanças. Esta é uma decisão que também vai passar pela Altice Arena, local por onde vão passar alguns dos maiores líderes mundiais num encontro que pretende preparar as bases para a futura Conferencia do Clima.
O momento é agora e Lisboa é o local. Vemo-nos lá!
Andreia Rodrigues