Apesar dos votos, a vida segue

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Mais de um mês depois das eleições na Venezuela, muita coisa aconteceu. Tivemos o avião de Maduro aprendido, uma guerra aberta com Musk e o anúncio que o PPE (de onde fazem parte deputados de Portugal e Espanha) tinham proposto a oposição venezuelana ao prémio europeu Sakarov. Podemos dizer que este é o equivalente europeu ao prémio Nobel da Paz.

Este é um prémio que distingue a liberdade de pensamento. Um povo que não é livre de pensar vive na mais obscura das trevas. Aqui em Portugal vivemos quase cinquenta anos de escuridão mas há cinquenta vivemos a luz da democracia. Para o ano que vem, Espanha também vai celebrar os cinquenta anos da sua democracia. Curiosamente, há uns meses o cinquentenário da Revolução dos Cravos também comemorado em Caracas.

Poucos depois do anúncio desta candidatura soubemos do pedido de asilo a Espanha do suposto vencedor das eleições venezuelanas, González Urrutia. O antigo diplomata teve que procurar o asilo em Espanha para não ser preso. No trajeto que fez antes de aterrar em território peninsular, o avião onde seguia fez uma escala nos Açores. A lider da oposição, Maria Corina Machado está na clandestinidade e recusa sair do país. Edmundo González Urrutia foi reconhecido pelo Congresso dos Diputados de Espanha. Em Madrid, as marchas a favor da democracia na Venezuela foram uma constante e marcaram com a presença de Isabel Diaz Ayuso.

As  notícias são aquelas que todos conhecemos e, infelizmente, parece que teremos um novo Guaidó em vez de uma saída a portuguesa (até se aceitava uma forma política tipo a da transição democrática espanhola). Neste artigo não vamos analisar as últimas informações mas sim histórias de pessoas normais, comuns. Enquanto todos acompanhamos o que acontece na Venezuela, e em outras latitudes do mundo, graças aos ecrãs, existem pessoas que mesmo ao nosso lado vivem esta história na pele. As notícias de hoje serão a história de amanhã. Um princípio básico que se aprende não só nas faculdades de jornalismo como na vida.

Em Portugal, tal como em toda a Europa, existe uma vasta comunidade de venezuelanos e luso descendentes. Uns já vivem cá há vinte e cinco anos, altura em que a Venezuela não vivia a situação tão difícil como vive agora, enquanto outros chegaram há pouco e ainda se estão a habituar a viverem em Sesimbra. Os dois casos que vou contar (sem dizer nomes) são de duas venezuelanas que por mais que sofram com o que está a acontecer no seu país de origem têm que continuar a viver. Longe da vista, longe do coração?

A primeira vive em Portugal, onde chegou há mais de duas décadas por causa de uma questão médica, mas voltou a Venezuela para ver a família e votar na mudança que ela (e todos) esperavam. Por mais que os populares afirmem que Edmundo González Urrutia foi o verdadeiro vencedor, nada mudou e nos dias seguintes a votação a situação nas ruas agravou-se. Nessa altura, esta venezuelana já tinha voltado a Portugal mas não conseguia esquecer os cortes de luz e o facto de 1 kilo de tomates custar quase o mesmo que o salário mínimo. Muitas das despesas que em território ibérico são pagas, como é o caso da internet, na Venezuela são dadas pelo Estado. O mesmo Estado que obriga os familiares daqueles que estão internados num hospital a comprarem refeições ou medicamentos caso queiram que os pacientes sejam tratados em condições. Quem não conhece uma história como esta?

Se uns já estão cá há muito tempo, outros chegaram agora esperando (duplamente) uma nova e melhor vida. A segunda história que vou contar é a de um jovem casal que está em Portugal há uns dois anos e espera o seu primeiro filho. Uma criança que vai conhecer a Venezuela dos videos do YouTube e pouco mais. Por causa deles e desta criança decidiram deixar Bogotá para trás em direção a Europa. Podem não ser milionários mas a segurança de andar na rua a noite é algo bem normal para nós mas visto como um tesouro para alguns. Este casal aproveitou, que a criança ainda não chegou, para conhecer a história da vila que os acolheu de «braços abertos». Ao contrário de André Ventura, acredito que os imigrantes são bem-vindos pois fazem trabalhos que nós não queremos mas é necessário ter condições tanto para eles como para os locais para que possa haver uma boa convivência entre todos. Nada de referendos a imigração, como a extrema-direita quer.

Termino este artigo com a ideia que a vida, apesar de tudo, segue mas não podemos esquecer aqueles que estão longe. A mudança pode tardar mas acaba sempre por chegar caso se lute. E cada um dê nós podemos agregar o nosso pequeno grão de areia ou gota no vasto oceano que separa mas também nos une. Venezuela livre!

 

Andreia Rodrigues

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