A apresentação formal da sétima edição da Mostra Espanha, que vai acontecer até Dezembro, juntou os dois ministros da Cultura ibéricos no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA). Graça Fonseca e Miquel Iceta Llorens, que visitaram não só as colecções deste espaço (uma das salas permanentes é dedicada a arte feita em Espanha) como participaram na conferência de apresentação do programa da Mostra, anunciaram aos jornalistas presentes que estão a preparar um memorando para fortalecer cooperação cultural.
Este memorando pretende fortalecer o trabalho nas diferentes áreas da cultura, como é o caso do audiovisual, arquivos ou museus. A reunião para elaborar este documento ainda não aconteceu mas uma parte deste trabalho vai passar pelas Embaixadas. No Museu Nacional de Arte Antiga esteve presente a embaixadora espanhola em Portugal, Marta Betanzos Roig, e o embaixador português em Espanha, João Mira Gomes.
«A cooperação entre Portugal e Espanha tem sido, e continua a ser, uma prioridade da política cultural portuguesa», afirmou a ministra da Cultura portuguesa que quer um acordo ainda mais forte entre os dois países na área cultural e o aprofundar da mostra cultural portuguesa que está a acontecer no outro lado da fronteira é um dos objectivos. Para Graça Fonseca estas mostras servem para «dar a conhecer a cultura e o património cultural espanhol e reforçar os laços que unem estes dois países, respeitando as suas semelhanças e as suas diferenças».
Mesmo com «pontos comuns e de separação», Miquel Iceta Llorens quer colaborar cada vez mais, e o Centenário de Saramago, que vai ser celebrado no próximo ano, será uma oportunidade para que ambos os Ministérios trabalhem juntos. O ministro da Cultura de Espanha, que relembrou a história em comum dos dois países que é transmitida através da produção cultural, indicou o trabalho feito em Portugal em relação ao Estatuto do Artista como algo a seguir. Ambos os governantes querem «mais Portugal em Espanha e mais Espanha em Portugal».
Museu Nacional de Arte Antiga recebe obra do Prado
O MNAA, o maior museu do país luso, terá como obra convidada, até ao dia 7 de Janeiro de 2022, a pintura «La Infanta Isabel Clara Eugenia Y Magdalena Ruiz», de Alonso Sánchez Coelho (1585-1588). Sobre esta pintura, o diretor do MNAA, Joaquim Caetano, ressaltou que esta obra «mostra como poucas os destinos cruzados de Espanha e de Portugal». O conservador do Museu do Prado, Javier Pontús Pérez, afirmou que esta obra é uma parte notável da história luso-espanhola não só devido ao jogo de identidades mas também pelas icnografias que apresenta.
Tanto o retrato como o autor do mesmo são uma representação única da história compartilhada. Se na pintura a infanta (filha de Felipe II de Espanha e I de Portugal) traja em ouro e branco, cores normalmente associadas ao cerimonial português, a empregada, D. Madalena, tem nas mãos dois macacos vindos da selva amazónica. Para além das ligações a Portugal que temos na pintura, a própria carreira de Alonso Sánchez Coelho ficou marcada pelo reino luso para onde se mudou com apenas 10 anos e onde começou a estudar pintura graças a uma bolsa de estudo paga por D. João III e que permitiu que fosse estudar para a Flandres.
Esta não é a primeira obra vinda do Museu do Prado, criado por Isabel de Bragança, já que em outras ocasiões os portugueses puderam ver pinturas de Goya, El Greco ou Velázquez (isto desde 2013) e o objectivo é que no próximo ano seja feito o sentido inverso e uma obra portuguesa possa ser exposta em Madrid.
Também houve um momento musical interpretado por Josetxu Obregón e Ana Raquel Pinheiro que tocaram, ao violoncelo, peças do século XVI e que podiam ser ouvidas na corte luso-espanhola do período.