Os portugueses nada podem?

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Já há algum tempo não escrevia sobre a Covid-19, muito devido a situação pandémica positiva, mas os acontecimentos dos últimos dias levam-me a perguntar se «os portugueses nada podem?». Mas vamos começar pelo princípio. Tal como no ano passado, em que o SNS foi agraciado com a realização de uma final diferente da Liga dos Campeões, este ano o jogo máximo do futebol europeu voltou a realizar-se em Portugal, desta vez na cidade Invicta do Porto. Mas o que vimos não parecia um país moderno em pleno ano de 2021 mas sim o Algarve de 1981 com a invasão a que assistimos.

Ao contrário do ano anterior, desta vez tivemos a presença de público, o que foi muito bom para o turismo mas a imagem deixada não foi a melhor. A bolha em que os ingleses deviam partir e chegar tinha mais buracos que parecia um coador de café. Os desacatos que existiram já levaram a que inúmeros líderes (políticos e não só) viessem a público falar sobre o mau exemplo dado.

Que Portugal é um país turístico e para turistas todos sabemos mas depois da Liga dos Campeões e com metade das novas infecções a serem registados na região da Grande Lisboa, que moral temos para dizer aos portugueses que não podem ir às praias (que entretanto reabriram) ou que, por mais um ano, os arraiais dos Santos Populares estão proibidos. Foi possível beber cerveja mas não será possível comer sardinhas assadas. As moratórias podem acabar mas esta mesma final da Liga dos Campeões, que tanto dinheiro envolve, não pagou impostos em Portugal, tal como aconteceu no ano passado.

No Porto as coisas serão um pouco diferentes quando falamos de festas, já que o São João vai ser feito mas sem concertos e fogos-de-artifício. Em relação aos festivais de verão, um dos grandes fenómenos estivais (ali ao lado das idas a praia e das festas na aldeia), alguns já foram adiados para 2022 mas muitos continuam a acreditar na realização dos mesmos, esperando novas ordens da DGS.

Se há meses atrás já ninguém conseguia ver mais a Graça Freitas nas nossas televisões, agora vê-la a falar e a pedir contenção é no mínimo pitoresco. Pedir para colocar trancas a porta depois de um assalto não muda nada mas também é verdade se não arriscamos não iremos evoluir.

Não somos todos iguais ou a língua em que falamos influência o nosso comportamento? Temos que continuar a ter cuidado mas todos queremos voltar ao normal. A vacinação está ao rubro e o mês de Agosto é o indicado para vacinar a população dos 20-30, aqueles que vão para o Príncipe Real fazer os conhecidos botellons. Esta é a geração estudantil, trabalhadora que, segundo os especialistas, terão que continuar a usar máscara até ao fim de todo este processo. Até ao momento, quase dois milhões tem a vacinação completa.

Falando em comportamento, e fazendo a ponte com o meu último artigo de opinião, não posso deixar passar de lado a demonstração de civismo que a população de Coimbra deu contra a convenção do Chega e especialmente contra a presença de Mateo Salvini que veio até Portugal rezar em Fátima e dar uma força ao seu irmão mais novo da extrema-direita europeia. Independentemente de se chamarem Ventura, Abascal, Le Pen ou Salvini, todos batem na tecla da proteção de uma cultura europeia e da esquerda malvada que nos rouba há quarenta anos (aqui a idade muda consoante o país mas as «desculpas» são sempre as mesmas).

Portugal volta a ligar o mundo, desta vez através dos cabos submarinos. O primeiro dos cabos a entrar em actividade foi o que liga o Brasil a Sines, que pretende se tornar num novo hub tecnológico na península Ibérica. Será que a tecnologia vai ser a bóia de salvação que vai salvar o país da sua dependência turística? A apresentação deste cabo foi um dos últimos actos da presidência portuguesa, que dentro de um mês passará para as mãos da Eslovénia. É na Eslovénia onde está o presidente da república, o nosso «globe troter», que está a selecção portuguesa de futebol sub-21 que dentro de dias vai jogar com a sua congénere Ibérica. Este será apenas um dos dois jogos entre portugueses e espanhol. Esperemos que seja uma celebração desportiva bem mais pacífica do que aconteceu no Porto.

Se há algo que ainda podemos todos fazer, independentemente da nossa nacionalidade, é viver a nossa vida da melhor forma que pudermos pois ela (tal como o nosso planeta) é única.

 

Andreia Rodrigues

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