Moçambique atravessa um dos períodos mais turbulentos da sua história recente. Desde as últimas eleições, o país tornou-se um vulcão em erupção, com manifestações constantes e uma população cada vez mais exausta de um sistema que, há décadas, governa com mãos de ferro. A contestação eleitoral foi apenas a faísca que reacendeu um barril de pólvora já saturado por corrupção, desemprego, impostos sufocantes e condições de vida precárias.
O atentado contra Venâncio Mondlane, ex-candidato à presidência, não foi apenas um ataque a um político opositor, mas um sinal claro da radicalização do cenário político. O episódio desencadeou protestos ainda mais intensos, incluindo incêndios em escolas na região norte, como um grito de revolta de um povo que já não encontra outros meios de ser ouvido. Mas, como em toda crise, há aqueles que se aproveitam do caos: saques e vandalismo começaram a ocorrer à luz do dia, manchando a legitimidade da luta popular.
Enquanto isso, a resposta do governo tem sido a de sempre: repressão. O uso excessivo da força contra manifestantes tem sido amplamente denunciado por organizações de direitos humanos, mas nada parece deter a máquina estatal de silenciamento. A saída de Mondlane do país apenas reforça a sensação de que as vozes dissidentes estão sendo apagadas uma a uma, enquanto a incerteza paira sobre o que virá a seguir.
A grande questão que se impõe agora é: até quando? Moçambique parece viver em um eterno «standby», onde a instabilidade se tornou parte do cotidiano. As lideranças políticas continuam a operar dentro de um sistema fechado, desconectado da realidade da população, enquanto o povo, cada vez mais impaciente, se vê diante de um dilema: continuar a resistir, mesmo sob ameaça de repressão, ou aceitar passivamente um futuro sem mudanças?
Hera de Jesus