A pouco mais de uma semana da data em que se comemora os cinquenta anos do 25 de Abril, o país continua a celebrar a Revolução dos Cravos com uma forte programação de índole cultural que vai do teatro a poesia. Para além de ser um homem das letras também é da política (pois é um dos fundadores do PS), Manuel Alegre foi condecorado por Marcelo Rebelo de Sousa. Alegre alerta que é urgente promover cultura da memória contra desconstrução da democracia.
A democracia é uma das grandes conquistas de Abril e algo pelo qual se deve sempre lutar, como defende o novo presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco. Para Carlos Moedas, «a liberdade significa um horizonte aberto de possibilidades». Onde vai estar a 25 de Abril de 2024?
As comemorações desta data, que «casa» com os cinquenta anos da transição democrática em Espanha, vão acontecer até 2026 (data em que assinala os cinquenta anos da Constituição). Cada um destes anos tem um tema de comemoração diferente com o objetivo final de apresentar a importância desta data a uma geração que não a viveu. Isto para que o valor da revolução não caia no esquecimento ou se conheça apenas por vídeos no Tik Tok. A liberdade trouxe a portugueses e a espanhóis, nos últimos 50 anos, um leque de novas possibilidades/oportunidades. Vários países têm-se juntado às comemorações da Revolução dos Cravos, como é o caso da Venezuela ou da Colômbia. Em Cabo Verde esta data é celebrada pedindo que o Tarrafal (que era um campo de concentração) não se repita nunca mais.
A memória vai ser revisitada com a presença, no dia 24 de Abril, de uma Chaimite no largo da igreja da Corredoura, no concelho de Sesimbra. Nesta mesma localidade o movimento sindical, através do assassinato dos seus pescadores, foi homenageado pelo desterrar de uma placa evocativa perto do local onde naufragou o navio espanhol Numancia.
No mês em que Portugal começa um novo Governo (liderado por Luís Montenegro) e, mais uma vez, comemora a vida em democrática teremos como momentos-chave dos próximos dias as cerimónias oficiais do 25 de Abril. Que tal como há cinquenta anos vai calhar a uma quinta-feira. Espera-se que nesta cerimónia participem representantes dos países que «nasceram» graças a Revolução dos Cravos, como é o caso da Guiné-Bissau ou Angola. A responsável por estas comemorações, Maria Inácia Rezola, reforçou que todos são convidados a participar e como tal espera-se uma forte participação no desfile popular que na tarde de 25 de Abril vai levar a que se desça a Avenida da Liberdade de cravo vermelho na mão.
Uma das fotos mais icónicas tirada durante a pandemia é a de um senhor de idade a desfilar sozinho nesta data com a bandeira de Portugal e um cravo na mão. Na antiga Escola Prática de Cavalaria (EPC), será recriada a formação das tropas e a sua saída do quartel, comandadas pelo Capitão Salgueiro Maia. Depois, as viaturas militares da época vão desfilar nas ruas de Santarém. No dia 25 de Abril, uma parada militar vai ocupar o Terreiro do Paço (um dos locais mais emblemáticos da operação «Fim Regime») e vai dar seguimento a outros episódios que também vão ser reconstituídos perante os olhares de todos os que saiam a rua.
Abril também foi feito de música, estando programados concertos um pouco por todo o país onde não vão faltar hinos como «Grândola, Vila Morena» ou «Depois do Adeus». O maior destes concertos vai acontecer no Terreiro do Paço, na noite do dia 24 de Abril. A Casa da Música, no Porto, vai celebrar os 50 anos do 25 de Abril com o ciclo «Música & Revolução», que arranca já esta semana. Temos também cinema com a evocação do papel do MFA, a Cinemateca a apresentar curtas nunca antes vistas e nos cinemas comerciais é possível ver «Revolução Sem Sangue», que lembra os que perderam a vida a 25 de Abril de 1974. Esta data também tem sido lembrada com livros, exposições, espectáculos de multimédia e medalhas. A Torre do Tombo vai receber o mapa do 25 de Abril, folha onde foram escritos os nomes dos militares e os percursos tomados até Lisboa.