Lisboa é a única capital europeia sem nenhuma ligação ferroviária internacional

Movimento ATERRA em performance lembra o fim dos comboios noturnos Sud Expresso e Lusitania

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A aposta na ferrovia está a acontecer em todos os países europeus para fazer parte às alterações climáticas. Os comboios noturnos, depois de uma pausa devido a pandemia, voltam a apitar um pouco por todo o continente. Cada vez mais existe uma maior consciência que somos bastante dependentes dos combustíveis fósseis e que o meio mais utilizado para as deslocações de longo curso, o avião, é bastante poluente.

Os comboios, rápidos e confortáveis, são vistos como o futuro das ligações dentro do território europeu. Só que se os comboios voltam a apitar na Europa, Portugal fica novamente para trás. Hoje, Lisboa é uma das únicas capitais europeias sem nenhuma ligação ferroviária internacional. Só nas Guerras Mundiais é que o país tinha ficado isolado da ferrovia europeia. Já que os comboios noturnos Sud Expresso e Lusitania, os únicos internacionais que ligavam Portugal a Madrid e a França, não andam outras alternativas tem que ser usadas.

Estes comboios foram a forma usada por Mário Soares e Álvaro Cunhal usaram este meio de transporte para voltaram ao país após a revolução. Para chegar a Espanha rapidamente, os portugueses são obrigados a adoptar o avião como meio utilizado. Todos os dias, às 21:25 da noite, as duas ligações noturnas com Madrid e França partiam do Cais 2 da estação lisboeta de Santa Apolónia.

Estas ligações foram suspensas com a pandemia e não há anúncio de volta. O movimento ATERRA realizou uma performance criativa na estação para alertar sobre esta situação. Nesta performance, onde vestidos a preceito esperaram por um comboio que tarda a chegar, relembraram a necessidade da volta dos mesmos. O El Trapézio entrevistou Francisco Pedro, do ATERRA. A origem do movimento, a importância dos comboios e a aposta na ferrovia foram alguns dos temas abordados.

Como nasceu o ATERRA e o que pretendem?

O movimento ATERRA surgiu perante a urgência de travar o crime ambiental da expansão do Aeroporto de Lisboa, nomeadamente através de um aeroporto complementar no Montijo. Viemos trazer à discussão pública sobre a aviação o dado mais importante e o mais omisso: a única forma de haver um futuro para a humanidade no planeta passa por uma redução rápida e drástica do tráfego aéreo. A boa notícia é que isso vai permitir viajarmos muito melhor: mais lentamente, para destinos mais próximos, menos vezes – e com muito mais prazer.

O ATERRA tem o apoio de 20 organizações portuguesas e faz parte da rede Stay Grounded, que junta centenas de organizações de todo o mundo por uma mobilidade justa e ecológica.

O que torna os comboios tão importantes para um mundo mais consciente e menos dependente?

A ferrovia é um meio de que permite viajar curtas e longas distâncias comodamente e com um baixíssimo impacto no planeta, comparado com os outros meios de transporte motorizados. Permite descansar, trabalhar, socializar, juntando numa mesma carruagem uma grande diversidade de pessoas. Permite substituir muitos camiões de mercadorias, podendo até transportar esses camiões por longas distâncias. Em grande medida, a infra-estrutura já está construída, é apenas necessário melhorá-la e melhorar os serviços.

Como vê a fraca aposta na ferrovia em Portugal e o fato de não existir nenhuma ligação noturna (de momento) internacional? Porque se terminou com as ligações com Espanha e França?

Os meios de transporte têm servido para que uma minoria possa fazer negócios e enriquecer, mais do que um serviço público para dar qualidade de vida à maioria das pessoas. Portugal esteve até agora sequestrado pelo lobby das petrolíferas, do automóvel e da aviação. As empresas deste setor têm feito lucros obscenos, beneficiando de subsídios europeus e da quase total isenção de impostos, no caso da aviação, provocando danos imensos no meio ambiente. Ao mesmo tempo, a rede ferroviária foi sendo destruída: nos ultimos 30 anos 1600 km de ferrovia foram desativados. Portugal e Espanha são hoje os dois países com mais autoestradas por habitante em toda a Europa, e Portugal o único que tem mais quilómetros de autoestrada do que de ferrovia.

Espanha fez um investimento brutal em Alta Velocidade, mas descurou a rede convencional, que traz mais benefícios sociais e ecológicos.

Os preços do Lusitânia e do Sud Express têm sido mais altos do que os do avião, uma vez que este tem isenções fiscais e que o impacto ambiental continua a não ser contabilizado no preço. Os comboios noturnos não têm recebido investimento nem sido alvo de qualquer campanha de promoção junto do público, que é bombardeado com marketing da aviação.

Esta pode ser a década da ferrovia no continente europeu?

Neste momento, parece mais uma campanha de greenwashing do que outra coisa. Esta pode ser a década da ferrovia se nos juntarmos e exigirmos aos nossos governos que levem o compromisso a sério. É também disso que depende um planeta habitável para a espécie humana.

É possível mudar esta situação? O que os consumidores habituais podem fazer para que Portugal possa voltar estar ligada a rede Europeia?

Deixar de viajar de avião, ou reduzir estas viagens radicalmente, não voando mais do que uma vez de 3 em 3 anos. Podem também assinar e partilhar a petição: https://www.change.org/p/governo-portugu%C3%AAs-ligar-a-pen%C3%ADnsula-ib%C3%A9rica-e-a-europa-central-com-comboios-noturnos e promover a mudança de políticas de viagem da sua empresa ou instituição, ou escrever à CP e ao poder político. Por fim, podem participar em ações de protesto e de proposta, participar no movimento ATERRA e noutras iniciativas que recusam um modelo de sociedade assente na hipermobilidade e nos combustíveis fósseis.

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