Sara Correia: “O fado acontece, não está sempre presente”

Esta sexta-feira a fadista Sara Correia (Lisboa, 1994) actua no palco do centro cultural Conde Duque de Madrid

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Sara Correia vai apresentar ao público madrileno o seu segundo álbum, “Do Coração”. A artista falou com O TRAPÉZIO do seu novo trabalho e transmitiu a felicidade que sente por atuar em Madrid. O concerto faz parte da programação da Mostra da Cultura Portuguesa em Espanha.

Que significado tem cantar em Madrid num contexto difícil para o mundo artístico?

Eu estou muito ansiosa. Quando soube que ia cantar em Madrid fiquei muito contente porque é a primeira vez que vou cantar num teatro em Madrid. Apesar de tudo, deste ano muito complicado que estamos a ter, é muito gratificante neste momento poder ir cantar, à Madrid, é um privilégio enorme. Tenho muitas saudades de fazer concertos fora do meu país, poder cantar, ver público.. Estou contente e com muita vontade de cantar o fado em Madrid.

Como foram estes meses para si?

Continuamos a trabalhar noutras coisas. Não tínhamos concertos mas continuamos a ir ao estudo, a cantar, aproveitei para ter aulas de línguas..e faço sempre os meus trabalhos de casa que é cantar todos os dias e não deixar parar, é importante. Sinto uma urgência muito grande de cantar, ir à Madrid está a ser incrível, por fim vou cantar!

Apresenta o seu novo disco que teve que ser adiado por causa do coronavírus

Acabamos este disco no final de 2019 e estava prevista a apresentação em abril mas aconteceu a pandemia e foi adiada para setembro. Acabou de sair, este bebé tem poucos días (risos). Quisemos esperar porque as pessoas não estavam focadas em música, se não na pandemia horrível. Em Portugal ainda não apresentei o disco mas participei num evento na Santa Casa de Alfama por motivo dos 100 anos do nascimento de Amália.

Este disco é muito diferente ao primeiro?

Há uma continuação mas com mais maturidade e com outras influências musicais. Quero sempre desafiar me a mim própria, e é o  bom que temos na vida, superarmos cada vez mais. Decidimos continuar na linha do fado mas a fazer outras coisas, com outros instrumentos musicais, mas a manter a personalidade da voz. É uma continuação do primeiro disco, sem dúvida

É um disco mais arriscado?

Neste álbum temos a sorte de ter muito autor muito conhecido em Portugal a compor para mim e quando recebemos este leque de coisas boas foi instinto. Já quis superar me a mim própria, desafiar me a mim própria e talvez sim, quis arriscar

É muito diferente cantar num concerto do que numa casa de fados?

Adoro os concertos mas também gosto das casas de fados, são duas coisas completamente diferentes. Acostumou a dizer que a casa de fados é a igreja da fadista, onde vamos buscar tudo para depois fazermos os concertos. Mas os concertos são outra adrenalina, outra forma de encarar o fado, e é o nosso projeto. É completamente diferente. É ser fadista e ser artista. A fadista se transforma em artista no palco.

Desde pequena acompanha à família nas casas do fado. Continua a cantar lá?

Há quase dois anos que canto uma vez por semana numa casa de fados. Tenho tido bastante trabalho antes da pandemia, viajei bastante. Estive na Índia, na Coréia do SUl, no Chile, na Bélgica, na Holanda…cantei imenso e fui pouco às casas do fado. Mas quando tenho oportunidade é ao primeiro sítio onde eu vou. Comecei a cantar com 9 anos e foi o percurso nas casas do fado que me gerou agora ter dois álbuns. É muito importante não esquecermos das nossas raízes e de onde viemos , é o mais importante.

Por quê acha que as pessoas gostam do fado mesmo em países onde não se percebe o significado da letra?

Não dá para explicar o que é o fado, só se percebe quando se escuta e se vê a fadista a cantar. Só vendo se percebe que há outra coisa à volta de cantar. O fado são emoções, sentimentos. Só quem vê a fadista pode tirar uma ideia do que esta música significa. O fado acontece, não está sempre presente.

Surpreende ver como o público acompanha a sua música?

Tem corrido muito bem, as vezes temos que saber explicar o que é o fado. Enquanto artistas é o que temos que fazer. Enquanto fadista mostramos sem explicar. As pessoas percebem, se emocionam, há qualquer coisa à volta do fado que faz com que as pessoas se apaixonem. É incrível a magia que acontece. É muito gratificante perceber que as pessoas de fora gosta de fado.

Há muitas vozes novas a cantar fado. Como tem visto esta evolução do fado?

Fico sempre muito contente quando vejo que as colegas conseguem levar o fado além fronteiras, conseguem continuar a nossa tradição portuguesa. Acredito que mais pessoas vão poder fazer isto, tal e como eu consegui. Esta é a história do fado, continuar a tradição, passar a palavra para os jovens. Eu quero deixar uma página no livro do fado

Amália tem sido a sua maior inspiração?

Sempre foi, desde que sou pequenina Amália é a minha maior referência. É sempre um privilégio cantar temas de Dona Amália Rodrigues e poder cantar, no ano do seu centenário de nascimento, em todos os espectáculos que há. É gratificante e uma grande honra.

Já colaborou com artistas espanhóis?

Vou trabalhar com um artista em Espanha, mas ainda é segredo… É bastante conhecido e vamos começar em breve. Estou muito ansiosa para poder mostrar este trabalho.

Gosta de música espanhola?

Amo. Sou fã da música espanhola, adoro a artista Concha Buika. Gosto bastante de outro tipo de música, como a de Rosalía. Adoro flamenco e tudo o que seja espanhol.

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