Portugal, e em especial a zona Metropolitana de Lisboa, costuma encher no verão mas a primeira semana deste “querido mês de Agosto” está a ser marcada pela JMJ. Francisco considera-se o primeiro dos peregrinos neste evento que transformou Lisboa na “capital do mundo”. Não é só o Papa peregrino como todos aqueles que são apanhados nesta onda de emoção e de alegria (dois dos adjectivos mais usados pelos participantes) que pode ser sentida desde os transportes públicos até ás ruas apinhadas de gente.
Quem anda pela cidade pode encontrar agradáveis surpresas, e desta vez não me refiro aos tesouros que Lisboa nos oferece a cada olhar. Uma estrada fechada, um polícia solitário pode ser o prenúncio da passagem da comitiva papal. A volta do já famoso carro branco a cidade foi o estopim que fez um autocarro “saltar de alegria”. Jovens e menos jovens (incluindo aqui a vossa jornalista) aproximaram-se da janela e tiraram os telemóveis para ficar com uma recordação deste momento.
Daqui a uns anos veremos se algumas das flores plantadas nestes dias podem florescer e ajudar a mudar o mundo. A guerra, os abusos sexuais ou a saúde mental foram alguns dos temas levantados por aqueles que encontramos. No meio desta tempestade quase perfeita, o país recebeu as suas “Navegadoras” de volta após as mesmas terem zarpado, pela primeira vez, para participarem num Mundial de futebol feminino.
Também há aspectos negativos mas vamos olhar para o branco das flores. Momentos como estes estão a se repetir em quase todas as ruas. Ouvi descrever a JMJ como um Rock In Rio católico. Talvez seja mas multiplicado várias vezes. A moldura humana deve ser a maior que a cidade já viu. Recebemos todos os anos a WebSummit, tivemos a Eurovisão e se recuarmos mais para o passado ainda houve o Euro 2004 ou a Expo 98 (o Mundial 2030 ainda é um sonho).
Mesmo tendo sido bastante concorridos, os dois primeiros eventos não trouxeram ao país uma moldura tão grande e em relação ao último podemos fazer comparações pois o Parque Tejo vai, em princípio, perdurar no tempo tal como o nosso querido Parque das Nações. Pede-se uma evolução em conjunto. O estar na rua é de si toda uma aventura e não estou a falar sobre as altas temperaturas. Estou a falar sobre as caminhadas e o mundo de pessoas que aparecem ao nosso lado com bandeiras de países tão diversos como o Brasil, Cabo Verde, Espanha ou Aruba. Todos os países do mundo, excepto um, estão aqui. O país (em conjunto com “nuestros hermanos”) que iniciou a globalização com os Descobrimentos transformou-se numa Torre de Babel de idiomas.
Precisamos de coordenadas para uma certa rua e acabamos a falar espanhol pois a voluntária apenas “arranha” o portunhol. O improviso é aconselhável em mais do que uma ocasião. Isto é Lisboa durante a JMJ. Um evento que também tem um cariz social já que centenas de famílias carenciadas estão a ter acesso às refeições que sobram dos peregrinos ou dos jornalistas que estão a participar nesta mega cobertura. Para além dos meios de comunicação portugueses temos espanhóis, italianos, do Vaticano, Alemanha ou da Colômbia. Uma oportunidade de se fazer um pouco parte da história.
Pessoas que também têm frequentado os confessionários. Dois dos jovens confessados pelo Papa eram de Espanha e da Guatemala. Estes foram feitos por reclusos portugueses e no fim de tudo às prisões de onde sairão. O Parque Eduardo VII com o seu palco urbano, como este foi apelidado, é um dos epicentros deste evento.
O encontro e a via-sacra foram dois dos eventos que levaram milhares de pessoas (fala-se de mais de meio milhão) a este parque. Se nos outros dias é possível aproveitar a calma deste espaço, um mar de pessoas presenteou o nosso olhar. Aliás, por onde quer que andássemos só era possível ver pernas, bandeiras e muita alegria. Quem não estava a festejar podia ver o tapete de flores que foi criado no jardim.
Andreia Rodrigues