Estivemos em Tijera de Oro, a barbearia dos jogadores de futebol em Madri, para entrevistar Tiago Faria. Nascido em Minas Gerais, Brasil, esse jovem empresário e barbeiro conta com uma vasta experiencia e uma importante clientela, com nomes como: Diego Costa, Ronaldo, Militão e Vinicius. Tem um lema «nunca foi sorte, sempre foi Deus». Premiado na International Barber Convention em Portugal e na Itália, além de um profissional apaixonado por sua profissão, encontramos uma pessoa encantadora e com uma inspiradora história de vida. Entrevistamos, por fim, a este requisitado barbeiro.
Queria que você contasse um pouco da sua história, como veio parar aqui na Espanha e justamente em Carabanchel?
Estou aqui há quatro anos e meio, a convite de um primo, que me trouxe dando uma segunda oportunidade na vida. Tenho 13 anos e meio de profissão, vendi minha barbearia e tudo no Brasil. Sou mineiro, cheguei sem documento, comecei trabalhando na obra, logo comprei algumas maquinas, de manhã cedo ia para a obra e já aproveitava para cortar o cabelo dos peões para ganhar um extra, depois do trabalho também atendia meus clientes, até que consegui ficar legal, foi mais ou menos assim que tudo começou.
Entendo que a ideia do negócio se concretizou aqui, mas baseada na sua experiencia e profissão desempenhada no Brasil?
Quando sai do Brasil sempre tive um pensamento, não queria sair do meu país para ser mais um, queria fazer a diferença. Não pensava em sair da minha zona de conforto, estar longe da minha família e cultura sem um objetivo. Eu já sabia o que queria, não ser uma pessoa acomodada, ter a minha barbearia, mas até chegar aqui teve todo um processo.
Você já sabia falar espanhol ou aprendeu aqui? Já conhecia o país ou a sua cultura?
Não sabia nada, aprendi tudo aqui, foi a primeira vez que sai do país.
Pela sua vitrine vemos fotos de seus clientes famosos, importantes jogadores de futebol, como surgiu essa clientela tão especial?
Na Espanha tive dois anjos da guarda, que são: o Renato Costa e a Tatiana Silva. Tatiana me deu a primeira oportunidade de trabalhar na minha profissão, no salão dela. Logo o Renato Costa me aproximou aos jogadores e a ser reconhecido pelo meu trabalho. Meu primeiro cliente foi o Diego Costa, em seguida foi o Ronaldo, que continuo atendendo até hoje, um foi puxando o outro.
Sempre fiz meu trabalho da melhor maneira, no Brasil nunca imaginei estar perto do Ronaldo, de repente estou trabalhando na obra e recebo uma ligação: amanhã você quer cortar o cabelo do Ronaldo? Nem nos meus melhores sonhos eu podia imaginar. Por isso eu digo que tudo é Deus, Ele faz as coisas da maneira Dele. No Brasil eu não teria essa oportunidade, sou muito grato a Deus por essa transformação na minha vida.
Acredito que você atende tanto brasileiros quanto os espanhóis, qual é a diferença do público brasileiro para o espanhol?
Nós brasileiros, costumamos cortar o cabelo a cada 15 dias, aqui que não é assim, procurei me adaptar a cultura deles, nós estrangeiros é que que temos que nos adaptar ao país.
Resolvi adequar minha experiência do Brasil com o conhecimento dos espanhóis, fiz uma boa mistura e está dando certo. Os espanhóis têm preferência pelo corte clássico e nós no Brasil somos mais ousados. Hoje minha clientela está entre 40% brasileiros e 60% espanhóis mais latinos.
Você já participou em algumas competições internacionais? Como foi essa experiência?
No Brasil existe uma competição chamada batalha dos barbeiros, já participei de três. Sempre fui fã do Celso barbeiro, de Portugal, ele é muito conhecido, há 11 anos eu participei de curso com ele no Brasil, era muito caro para mim, mas juntei dinheiro e até tirei uma foto.
Passou o tempo, vim morar o Europa e coincidentemente estive em Portugal e o reencontrei, através dele comecei a participar de competições. A primeira em Portugal, depois na Itália, e logo passei a receber convites para participar novamente. De alguma maneira você fica conhecido, também por cortar cabelo dos jogadores. Hoje, além de ter o Celso como uma referência, o considero um amigo pessoal e da família, ele abriu as portas para mim.
Acredito que seja difícil participar destas competições internacionais? Existe uma pré-seleção?
Você pode participar se é barbeiro e acredita no seu potencial, a inscrição é um pouco cara, mas existe a opção de competir pagando é diferente de ser convidado a competir. No meu caso, fui convidado, vale muito a pena é uma experiência ímpar, no ano que ganhei eram 3.000 barbeiros.
Você participou quantas vezes?
No total quatro vezes, uma em Portugal, uma em Milão e as outras duas em Roma.
Da última vez você teve um imprevisto, verdade?
Sim, quase perdi o voo, quando cheguei no aeroporto de Roma, já cansado e estressado. Fui buscar minhas malas e percebi que estavam leves, na mesma hora abri e me perguntei: cadê as minhas malas? roubaram as máquinas, meus cartões, pentes, tesoura, tive que comprar tudo de novo. Penso que tem mais Deus para dar que o diabo para carregar, bola para frente.
Você acredita que Carabanchel é um pequeno Brasil em Madrid?
Carabanchel, Oporto e Aluche tem grande concentração brasileiro, tem muitos estabelecimentos.
Você gosta da cultura espanhola, das pessoas? Os espanhóis são assim tão diferentes dos brasileiros?
Sou muito grato a Espanha, tudo que conquistei aqui nesses quatro anos e meio, não consegui em 27 no meu país. Sou grato a todas as oportunidades, desde cortar cabelo de jogador, trabalhar na obra. A partir do momento que eu passei pela imigração, só tenho a agradecer, fiz minha parte e não trocaria minha experiencia, considero a Espanha como meu segundo país.
Com os espanhóis só tive experencias boas, todos só queriam ajudar, desde o dono do meu primeiro dono local. Hoje tenho minha filha nasceu aqui, já fui casado, passei muitas coisas nesses 4 anos e meio, que parecem 20 anos de tão intenso.