Aos Portugueses (II)

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Como iberista, espero que Portugal possa desculpar-me se alguma vez escrevi algo ofensivo. Escrevo só porque quero que as pessoas pensem. Reafirmo que será sempre Portugal, não eu nem qualquer outro, quem tem o direito de decidir o seu próprio destino.

Mas se o meu iberismo ofende alguém, e se alguém quer chamar-me traidor, então deixem-me dizer que o fascismo de alguns também me ofende a mim pelo menos na mesma medida, e que também vou insistir em chamar a essas pessoas traidores: traidores aos princípios fundamentais da democracia, da liberdade, dos direitos humanos, e à própria natureza pacifista, amigável e hospitaleira do povo português. Somos um país pacífico, seguro e altamente desenvolvido. Não se pode comparar Portugal com os países mais pobres e mais violentos do mundo. Cauda da Europa Ocidental? Talvez, mas na cauda da Europa certamente não. Estamos longe de ser perfeitos, mas temos de saber dar algum valor àquilo de positivo que de facto temos – sem cair no extremismo. Se pensam que iberismo é querer fazer Portugal voltar a uma situação aviltante, deixem-me recordar-vos que o fascismo português tem nas mãos o sangue de cada pessoa morta na Guerra Colonial, que aconteceu praticamente ontem, ao passo que a Espanha do século XXI não tem qualquer interesse em tratar-nos com violência.

Os iberistas são os primeiros responsáveis por garantir que o iberismo seja, e permaneça, uma ideologia de paz, aceitação mútua, reconciliação e harmonia entre todos os habitantes da Península Ibérica. Não se pode permitir um regresso às guerras do passado, à rivalidade e desconfiança entre Portugal e Castela. Não se pode glorificar a força nem a hegemonia. Não se pode celebrar as mortes, de ambos os lados, de todos os que morreram como consequência dessa rivalidade submetendo Portugal ao domínio de Castela. O iberismo deve afirmar, sempre, a coexistência pacífica das culturas ibéricas.

O iberismo, pelo menos, é contrário ao ódio, que é a base do fascismo. Não conheço nenhum iberista disposto a promover as suas ideias por meio da força. Por outro lado, conheço fascistas que de bom grado o fariam. E durante o século XX já tivemos inúmeros exemplos, de diversos países, da violência de que eles são capazes. Se nós, os iberistas do século XXI, não queremos ser vistos como pessoas que celebram um passado cruel e desumano, então devemos fazer um esforço consciente por afirmar claramente o que é aquilo que de facto queremos. Se queremos harmonia, coexistência e paz, se renunciamos a toda a violência, então devemos demonstrar isso consistentemente.

Mas os iberistas já sabem isto. Os que conheço não são pessoas violentas e não merecem ser vistos como tal. Parece-lhes absurdo ter de fazer estas afirmações. Então porquê insistir nisto? Por duas razões: 1) todos os iberistas precisam de compreender que o iberismo suscita receios nas mentes de muita gente, nomeadamente daqueles que o veem como uma celebração do passado em que Castela dominava Portugal; 2) o fascismo ainda é uma realidade nos nossos dias e o iberismo deveria ser uma alternativa pacífica clara.

Por que razão tantos portugueses parecem encolher os ombros e conformar-se com as imperfeições do nosso país? A corrupção, a incerteza, a desigualdade? E por que razão tantos outros não são capazes de justamente se indignar contra essas coisas sem se deixarem cair na armadilha do fascismo? É «oito ou oitenta»? Só sabemos raciocinar em extremos? Só sabemos responder com agressividade, força bruta e violência?

Tudo o que eu quero é que Portugal tome conta de si próprio e que dê mais valor a si próprio, mas sem cair no extremismo.

 

João Pedro Baltazar Lázaro

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