Jornadas Mundiais do desacerto

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Portugal caminha para receber o Papa Francisco nas Jornadas Mundiais da Juventude, que vão acontecer nas cidades de Loures e de Lisboa. As JMJ2023 vão acontecer em Agosto em mais de 400 mil jovens já deixaram a sua reserva para este evento que parece que avança com muitos desacertos. Ouvimos os preços dos alugueis, quanto vão custar os palcos (um deles vai levar a retirada de uma obra do escultor Cutileiro) e que alguns dos terrenos ainda não estão totalmente descontaminados.

Quando se ouviu que Portugal ia receber as Jornadas Mundiais da Juventude, e mesmo sendo um país claramente católico, a aceitação não foi tão mediática como com outros eventos. Agora, a seis meses das JMJ (que da última vez que aconteceram, antes da pandemia, foram sedeadas no Panamá) estamos todos escandalizados por irmos gastar 36.5 milhões de euros. Este valor será gasto apenas pelo governo.

Agora que os valores começam a ser conhecidos, “cai o Carmo e a Trindade”. Fala o presidente da república, da autarquia da capital ou o organizador mas o povo ainda não percebeu como este dinheiro vai ser gasto. O palco principal, que supostamente irá servir para receber a Web Summit no futuro, está a ser o cerne de toda a discórdia. Para além deste megapalco, que vai ter uma capacidade para 200 pessoas, haverá outro com ecrãs e luzes LED no Parque Eduardo VII e 150 confessionários que vão ficar em Belém.

Isto num momento em que as temperaturas desceram bastante num país onde se morre de frio. Mesmo com o sol lá fora, este não consegue aquecer as casas. Existe dinheiro para receber o Papa, mas pelos vistos já não temos a mesma capacidade para acolher os pobres. O Papa Francisco está na República Democrática do Centro-Africana e mesmo com outras condições, conseguiram demonstrar que a religião é bem mais importante que o dinheiro.

O afamado vil metal. Aqui mesmo ao lado, Madrid também já recebeu este evento. O diretor executivo da Jornada na capital espanhola, Yago de la Cierva, falou com a RTP e disse não “perceber onde é que se vai gastar tanto dinheiro com o evento em Lisboa”. Em 2011, o evento decorreu em Madrid e teve um custo total de 52,8 milhões de euros. Tal como aconteceu com a Eurovisão em Portugal (peço desculpa se ofendi alguém por estar a comparar dois eventos tão dispares. Ou será que são?), o patrocínio de empresas e os donativos foram primordiais para levarem o “barco a bom porto”.

Este orçamento deveu-se ao fato de ter sido um ano económico bastante frágil a nível mundial e que seria “de mau gosto” os católicos, mas também os não católicos terem de pagar este evento. Para Lisboa, o orçamento é de pelo menos 155 milhões de euros. Sobre os gastos, a organização portuguesa disse que os mesmos serão revistos mas depois de mais uma reunião, continuamos sem perceber o que vai acontecer.

Portugal espera que esta iniciativa, que é a maior da igreja católica, traga 1,5 milhões de pessoas (o que é bastante se nos focarmos no fato de sermos pouco mais de 10 milhões de habitantes) ou país de 1 a 6 de agosto. O valor que vai ser gasto em Lisboa será muito superior ao que foi gasto nas últimas nove Jornadas. Normalmente, quando gastamos muito dinheiro em qualquer tipo de iniciativa (seja um festival de música, um encontro de tecnologia ou um acontecimento desportivo) esperamos que esta ofereça raízes para o futuro.

De que forma as Jornadas Mundiais da Juventude vão mudar a face de Portugal? Os contribuintes espanhóis não foram chamados para aportar para a organização deste megaencontro com o líder da igreja católica. Em Espanha existiram dois palcos, um na praça Cibeles e outro no Aeródromo de Cuatro-Vientos. De la Cierva compreende que este tipo de eventos de cariz mundial requer muito dinheiro e muitos voluntários.

Em relação ao dinheiro, este está cá (gostava de saber quanto vamos gastar para receber o Mundial de 2030) e os voluntários também. Acho muita graça o fato de vários eventos, não só a JMJ, usarem voluntários que tem de pagar para trabalhar. Os voluntários terão de pagar 60 euros. Eu própria já fui voluntária por várias vezes e normalmente trabalhamos sem cobrar só pelo espírito de ajudar o outro de alguma forma e de mostrar as belezas que a nossa nação tem para oferecer.

Muito se vai falar sobre este tema até aparecer outro mais interessante e no final vamos ficar todos contentes e nos vangloriar por sermos grandes organizadores de eventos.

 

Andreia Rodrigues

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