Quando ser Comendador não é mais sinal de prestígio

Comparte el artículo:

Quando falamos dos Comendadores mais conhecidos de Portugal, este é um grau honorífico que é dado a individualidades que se destacaram ao serviço da nação (semelhante ao grau de Sir atribuído pela Rainha de Inglaterra), o empresário alentejano Rui Nabeiro e o coleccionador madeirense Joe Berardo são os dois nomes que o público português reconhece mais rapidamente. Só que estes dois homens apenas têm em comum o título, o facto de ambos serem self made mens e a nacionalidade

José Manuel Rodrigues Berardo, mais conhecido como Joe Berardo, nasceu na ilha da Madeira e bem jovem decidiu emigrar para procurar melhores condições de vida na África do Sul. No país sul-africano, onde chegou sem saber falar a língua, trabalhou na venda de legumes até que conseguiu entrar no negócio dos diamantes. Foram as pequenas pedras preciosas que lhe mudaram a vida, trazendo uma vida de luxo e amizades com a «nata» empresarial e política lusa. O grau de Comendador foi atribuído ao empresário e coleccionador de arte pelo primeiro presidente do Portugal democrático, Ramalho Eanes. Este título pode ser retirado caso as pessoas sejam condenadas judicialmente por algum crime.

Sempre de preto (alegadamente pelo fraco investimento que os sucessivos governos têm feito na área da cultura), é dono da quinta de vinhos Bacalhoa e de uma importante colecção de arte que pode ser visitada no CCB e da qual fazem parte inúmeros trabalhos da artista plástica Joana Vasconcelos. Certa vez, quando questionado num programa de televisão disse que a sua vida daria uma telenovela (não um filme pois se há algo que os portugueses gostam é de uma boa telenovela). Não é que inspirou?!

No outro lado do Atlântico, pela mão da poderosa TV Globo, Aguinaldo Silva assinou a novela «Império», obra que conta a história de um Comendador que anda sempre de preto, fez a sua fortuna com os diamantes e passou por Portugal. A juntar a estas características podemos também indicar a personalidade forte e o riso sarcástico que teve quando foi inquirido num inquérito parlamentar onde disse que no seu nome tinha apenas uma garagem e não tinha dívidas em seu nome. Este episódio no parlamento deu por terra o crédito que poderia ter junto da população.

Joe Berardo, que chegou a ser um dos homens mais ricos do país, foi/está (escolha o tempo verbal que melhor descreve o período em que estão a ler este artigo) preso por fraude e dívidas a três das maiores instituições bancárias do país, CGD, Novo Banco e BCP. Estes três bancos exigem o pagamento de quase 1.000 milhões de euros. Esta divida foi contraída na sua maioria para a compra de obras de arte.

Quando lemos o número de 1.000 milhões de euros (só 400 milhões foram pedidos a Caixa Geral de Depósitos, banco estatal) é quase o mesmo valor do dinheiro que virá de Bruxelas. Este valor foi quanto custou o novo confinamento até Março ou quanto a Galp pretende investir até 2025.

O empresário está a ser ouvido pelo superjuíz Carlos Alexandre (que também esteve envolvido a investigação do caso Operação Marquês) e, como a justiça portuguesa é, muito provavelmente em algum momento será colocado em prisão domiciliar, seguindo as «pisadas» do próprio Sócrates e de Ricardo Salgado. Este caso, que já está em investigação há 5 anos mas só agora provoca detenções (já que Berardo e o seu advogado não são os únicos), demonstra o longo caminho que o país tem que fazer no combate a corrupção.

Em 2020, 40% dos portugueses acreditam que os níveis de corrupção aumentaram e este aumento é explicado, em parte, pela Covid-19.

 

Andreia Rodrigues

Noticias Relacionadas