Uma casa, uma vida, muita esperança

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O Governo espanhol anunciou que vai ajudar os jovens, em especial as famílias com crianças pequenas, a comprarem uma casa. O executivo vai pagar parte do empréstimo que os jovens peçam para comprar uma casa. Este é um sonho que todos tem e existe mesmo um ditado em Portugal que diz que “quem casa quer casa”. O pior é mesmo conseguir adquirir (ou alugar) quatro paredes sem ter de hipotecar um pulmão.

Missão quase impossível neste ano de 2023. Estamos numa altura do ano em que um novo ciclo austral está prestes a começar. Esperemos apenas não estar num período retrogrado. Os especialistas em astrologia dizem que quando está retrogrado não se devem tomar algumas decisões, incluindo o começo de um novo trabalho. Muitos jovens portugueses estão a ser empurrados para fora do seu país, fazendo um caminho inverso ao de muitos que encontram no recanto mais ocidental da Europa um el dourado com bom tempo e relativamente barato.

Os jovens portugueses são os que saem de casa dos pais mais tarde em todo o continente e muitos dos que já entraram na casa dos trinta e tem uma vida mais ou menos encaminhada não conseguem dar esse próximo passo. Vários casais com trabalho tem prolongado os namoros a distancia por não conseguirem comprar uma casa para começarem uma vida juntos. Então esta situação fica ainda mais complicada quando existem crianças. Outro problema dos jovens portugueses, não dá para comprar casa ou ter filhos e tudo por causa do vil metal.

Dados de 2021 indicam que, em média, os jovens portugueses deixam de morar em casa dos pais quando têm 33,6 anos. No resto do continente a saída da asa familiar acontece aos 25,5 anos. O que pode ser explicado não só devido ao elevado preço das casas, mas também aos baixos salários e a uma inflação que faz empobrecer a carteira de qualquer um. Mesmo sendo uma das gerações, ou talvez a mais, qualificada de sempre os empregos conseguidos não apresentam a estabilidade que os nossos pais tinham.

Já não existem empregos para a vida e muitos de nós depois de estudarmos durante anos acabamos como caixas de supermercado. Os empregos para a vida já não existem. 75% dos jovens em Portugal ganham menos de 1.000 euros líquidos por mês. Metade destes rendimentos vai para alimentação e transportes. Neste último aspeto até que melhoramos um pouco com os passes dos transportes públicos a baixarem consideravelmente.

Antes, para fazer um percurso de pouco mais de 30 quilómetros, gastava-se mais de 100 euros mensais. Agora com 40 euros podemos ir de Mafra a Setúbal, duas das localidades opostas da área metropolitana de Lisboa de transportes públicos. Em apenas um dia podemos ir comer pão a Mafra, passear pela parte histórica de Lisboa ou aproveitar as praias que a Margem Sul nos oferece.

Um dos aspetos positivos que a geringonça nos deixou foram os transportes públicos mais baratos. Nos últimos 10 anos a evolução dos salários líquidos em Portugal foi 3 vezes inferior à evolução do preço dos imóveis. Estes preços começam a cair, mas ainda é pouco, muito pouco para a carteira dos mais jovens. Fazem manifestações na rua e todos concordamos que o direito a habitação é para todos, alias, este é um dos ideais de Abril, mas até ao momento não assistimos a uma medida semelhante no lado português ao que Pedro Sanchéz pretende fazer.

Aqui temos o empréstimo jovem (feito junto aos bancos e que ficamos a pagar até sermos “velhos”) e vários programas de arrendamento dinamizados pelas autarquias, mas a verdade é que nada tem sido eficaz para resolver o problema da bolha imobiliária no país. Este problema já tinha sido assinalado numa reunião de agentes imobiliários que aconteceu no início do ano em Portugal. Este sempre foi um dos grandes problemas nacionais. Uma construção desenfreada que depois não é concluída. Um dos exemplos está na Guarda, a cidade do gelo, onde há 50 anos temos uma torre de 20 andares (feita pelo pai do antigo primeiro-ministro José Sócrates) inacabada que poderia estar há décadas a dar lar a inúmeras famílias. Espera-se que esta situação mude, pois, um novo projeto surgiu para reconverter este espaço que tem uma das mais belas vistas da cidade.

Problema antigo e que nada está relacionado com a futura JMJ em Lisboa. Quem está a pagar um empréstimo tem, desde o início de janeiro, tremido sempre que a presidente do BCE vem a anunciar mais uma subida das taxas de juro. Ela própria já disse que não pode ajudar mais as famílias portuguesas. Mas o que ela tem feito por nós, pergunto eu? Quem quiser uma casa, mesmo que seja apenas para alugar, tem de pagar três prestações logo no início do contrato.

Os bancos portugueses são dos que mais cobram em juros a quem pede empréstimos à habitação. Muitos temem pedir um empréstimo, ficar sem possibilidade de pagar e acabar na rua, provavelmente debaixo de alguma ponte (se fosse do novo aeroporto que estamos para construir há 50 anos ficaríamos todos ao relento). O que podemos fazer para ter uma casa e um futuro sem termos que abandonar o local onde nascemos?

 

Andreia Rodrigues

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