A terceira edição da Feira Ibérica de Teatro (FIT) no Fundão arranca já no próximo dia 29, quarta-feira, e estende-se até sábado, dia 2 de julho. Mantendo o objetivo de lançar as bases para um mercado ibérico de teatro, o certame vai mais além nesta edição e traz também espetáculos de circo, dança e artes de rua.
Nos quatro dias do evento, o público será convidado a assistir, em vários espaços da cidade, a uma programação mista entre Portugal e Espanha, com direito a algumas parcerias. Logo na abertura, “Quien se llama José Saramago” é uma colaboração da companhia extremenha Karlik Danza-Teatro com a portuguesa Teatro das Beiras, em coprodução com a Junta de Extremadura, e será apresentada no Octógono.
As atividades profissionais continuam, no entanto, a estar no centro da FIT, no sentido de promover a formação e o contacto entre os agentes culturais inscritos. O Casino Fundanense será palco, no dia 30, de uma sessão de debate sobre estratégias e projetos de mediação de públicos. No dia seguinte regressam os “Encontros Comerciais”, em jeito de speed dating, colocando frente a frente os cerca de 150 programadores, distribuidores e companhias para facilitar contactos e abrir oportunidades de negócio.
Em declarações ao EL TRAPEZIO, o organizador do evento, Alexandre Barata, revela “em primeira mão” que a Feira assinou recentemente um protocolo de colaboração com outros certames do outro lado da fronteira: a Mostra de Artes Ibéricas de Cáceres, a Feira de Teatro de Castilla y León – Ciudad Rodrigo e a MADferia, de Madrid.
A parceria centra-se, numa primeira fase, “em questões de programação”, como a “escolha de companhias programadas no Fundão” para edições futuras dos certames espanhóis, mas o objetivo é que se estenda para “outros aspetos” das artes do espetáculo.
Os desafios de um evento deslocado, mas no sítio certo
Abrindo caminho para tornar a FIT um “evento de referência” internacional, Barata admite, no entanto, um entrave importante: a “mentalidade” dos programadores portugueses. “Acho que estão muito cómodos e bem sentados nos seus gabinetes, recebendo as propostas de espetáculo e visualizando-as no computador”, o que, segundo o organizador, contraria as possibilidades de atrair mais propostas “diferentes” para o país.
“Este ainda não é um desafio ganho”. Mesmo assim, salienta que, do lado espanhol, não houve “qualquer dificuldade” relativamente à adesão. “Abrimos a convocatória e os profissionais espanhóis inscreveram-se sem qualquer problema”, levando até a Feira a “recusar algumas inscrições pela capacidade de acolhimento [reduzida]”.
Apesar destes e outros constrangimentos, o organizador considera que a Feira é um evento que “veio para ficar”. Prova disso é o número de candidaturas à programação que só este ano ultrapassou as 570 propostas de espetáculos, quase o dobro da edição de 2021, provenientes dos países ibéricos e de outros “europeus e da América Latina”.
O formato misto, de cariz profissional e com atividades abertas ao público em geral, é, por isso, uma opção “a manter”. Ainda que os horários “ao meio-dia e às cinco da tarde” dificultem a adesão de uma audiência maior, Barata acredita que os espetáculos noturnos serão mais assistidos.
Resultado, garante, do trabalho da companhia que dirige, a EsTe – Estação Teatral, que “já habituou o público a assistir a teatro” com outras atividades e que agora coproduz a Feira com o Município do Fundão. “É um apoio indispensável, para podermos realizar este evento num ambiente mais tranquilo, simpático e acolhedor”. E tem ainda outras vantagens. “Anda-se a pé, convive-se… Há tempo para tudo”.