A «guerra das especiarias» entre os reinos de Portugal e de Castela é detalhada na obra «A Conquista do Oceano», de David Ramírez Muriana. Para criar este livro, o historiador passou mais de uma década a pesquisar sobre este evento em arquivos espanhóis ou portugueses, como é o caso da Torre do Tombo. A «guerra das especiarias», que opôs os dois reinos ibéricos no oriente, foi sangrenta pois os dois reinos queriam o controle total do comércio das especiarias para o território europeu.
Esta guerra, pouco conhecida atualmente, aconteceu no século XVI. Ambos os reinos tinham aliados locais. Qualquer recuo dos europeus podia ser visto como sinal de cobardia. Nesse contexto, a violenta escaramuça eclodiu, com a fortuna sorrindo aos homens de Carlos V. Após a batalha, entre os documentos encontrados estava a ordem enviada ao capitão português, morto em combate: «Não deixem nem um só castelhano vivo!». Esta situação aconteceu nos últimos anos da Reconquista, quando Portugal e Espanha, após consolidarem suas fronteiras terrestres, voltaram suas ambições marítimas para o oceano.
Foi na atual Indonésia, mais precisamente nas ilhas Molucas (também conhecidas nos Lusíadas como as «ilhas das especiarias») que aconteceu este episódio que demonstra a competição que os dois reinos tinham a oriente pelo lucrativo negócio das especiarias (há uns anos, descobriu-se a entrada da barra de Lisboa pimenta proveniente de caravelas que vinham da Índia). Das ilhas vinham cravo, pimenta, canela e noz-moscada.
Livro relata guerra sem quartel
No livro de Ramírez Muriana também destaca o contexto geopolítico que vivemos e de que forma são um espelho do passado, em especial do ímpeto imperialista que havia nos dois reinos ibéricos. Para conseguir o objetivo de conquista dos mares os dois reinos tiveram que enfrentar importantes rectos logísticos, como é o caso da comunicação entre terras distantes ou o jogo duplo feito pelos pilotos das embarcações.
A nau Trinidad, última sobrevivente da expedição de Magalhães (que também contava com portugueses), é mencionada pelo autor como um exemplo da tenacidade e do sofrimento dos primeiros navegadores. Incapaz de encontrar a saída do Pacífico, a nau foi capturada pelos portugueses, o que resultou num longo cativeiro. As duas potências ibéricas tinham uma guerra sem quartel pela disputa do comércio das especiarias vindas do oriente.
O relato feito por este livro culmina com o Tratado de Saragoça de 1529, que encerrou formalmente o conflito entre Portugal e Espanha, estabelecendo as fronteiras e as esferas de influência de cada país. A colaboração entre os dois reinos, ao longo da história, permitiu que estes deixassem uma marca nestes territórios longínquos e que ainda perduram na atualidade.